Música, dança e namoro: como era o funeral guarani
Já fundidos com os descendentes de europeus, e modificados pela influencia dominante destes, os guaranis conservam, embora um tanto adulterado, o idioma primitivo - o ava-ñe-ê. É o uso dessa língua o critério adotado para identificá-los, ainda que seja insuficiente e falho. Embora nascidos no Brasil, muitos deles não se adaptam facilmente à nossa educação e cultura, salvo se a mãe é brasileira sem ascendência guarani. O homem guarani pouco influi na educação dos filhos, entre eles há resíduos bem patentes de matriarcado.
Constante alegria.
Uma das características dos guaranis, além da tentativa de vender uma imagem de guerreiros imbatíveis (mais falsa que nota de três reais) é sua constante alegria. São alegres até no luto. Passam do pranto ao riso, do fúnebre ao festivo, sem um hiato, com uma naturalidade que choca os brancos.
Polca e Santa-fé.
Entre os descendentes guaranis tudo é motivo para danças, inclusive acontecimentos fúnebres. A música preferida é a polca paraguaia e o “chopin” ou santa-fé. De ritmo peculiar, coisa típica e inflexível, e que não se submeteu, até hoje, a influencias estranhas. O chique para o descendente guarani é dançar com seu chapéu à cabeça. Cocar é só para enfrentamento com fazendeiros, chapéu de luta.
Velórios festivos.
É na maneira de prestar culto aos mortos onde mais se acentua e se manifesta suas crenças. Desde a forma de prantear o morto, incumbência das mulheres, até o sistema de sufragar a alma do defunto, em velórios com muita comida, regados a bebida, cheios de alegria, tudo reveste uma originalidade típica. Não costumam chorar a morte de seus homens idosos. Nos demais casos, as mulheres, e tão somente elas, choram desregradamente. Um choro martirizante, gritos mais do que prantos, sem uma lágrima. Bebida e comida sobre a mesa na convicção de que o espírito virá participar da comilança. As exéquias começam com uma canção entoada rotineiramente pelo cacique. Seguem-se as danças e namoros. Cortejar mulheres é comum nesses velórios. É quase uma obrigação.
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