O bom golpista Engels e o metido burguês Marx
A vida em Londres, nas primeiras décadas da Revolução Industrial era horrível para os trabalhadores. Pior ainda para as crianças. Pelo menos 15% delas tinham as pernas arqueadas e deformidades pélvicas devido ao raquitismo. Esses infortúnios eram comuns.
Comer o que caia no chão.
Um médico de Londres publicou uma lista das coisas que já tinha visto darem como alimento a crianças pequenas: bolinhos duros embebidos em óleo, carne dura que elas não conseguiam mastigar e geleia de mocotó. Os pequenos sobreviviam com o que caia no chão, ou com as sobras que catavam em qualquer lugar. Aos sete anos, eram mandadas para as ruas, para sobreviver por conta própria.
Engels simpatizava com as crianças pobres.
Uma das poucas figuras que simpatizava ativamente com a situação das crianças pobres foi também uma das mais surpreendentes. Friedrich Engels foi para a Inglaterra com apenas 21 anos, em 1842, para ajudar a dirigir a fábrica de tecidos do pai. A firma, Ermen & Engels, fabricava fios para costura. Apesar de jovem, Engels era um filho respeitoso e homem de negócios razoavelmente consciencioso - acabou virando sócio da firma.
Desviava dinheiro.
Mas nem tudo são flores na história de Engels. O jovem passava boa parte do tempo desviando dinheiro da empresa. Pouco a cada retirada, mas consistente, ininterruptamente. Não que necessitasse para suas despesas, mas para sustentar seu amigo e colaborador Karl Marx. Seria difícil imaginar dois fundadores mais improváveis para um movimento tão asceta como o comunismo.
Engels sabia manejar dinheiro.
Embora desejando sinceramente a derrocada do capitalismo, Engels sabia manejar dinheiro. Também sabia apreciar a doce vida de um ricaço. Criava cavalos de raça, praticava caça à raposa com cães nos finais de semana, apreciava os melhores vinhos, sustentava uma amante, socializava com a elite em clubes - em suma, vivia como um cavalheiro bem-sucedido da classe alta.
Marx, o burguês sem dinheiro.
Marx, por sua vez, vivia constantemente devendo. Mas a sua era a vida mais burguesa possível. Mandou as filhas para escolas particulares e aproveitava qualquer oportunidade para gabar-se da origem aristocrática da esposa. O apoio que Engels pacientemente deu a Marx foi algo realmente raro e admirável em se tratando de amizade.
Engels escrevia, Marx recebia.
Se não bastasse o dinheiro dado a Marx, Engels também escrevia boa parte do material que ia para o jornal "New York Daily Tribune". O inglês de Marx não era suficiente para escrever para esse jornal. Sua ideia era que Engels escrevesse os artigos em seu lugar e ele recebesse o pagamento. E foi exatamente o que aconteceu. Mas não bastava. Engels desviou dinheiro da empresa durante muitos anos, com considerável risco para si mesmo.
Engels era racista, odiava os irlandeses.
Engels desenvolveu um genuíno interesse pelos mais pobres. Nem sempre suas ideias eram muito liberais. Ele detestava os irlandeses e acreditava que os pobres eram responsáveis pelo seu triste destino. E, contudo, ninguém escreveu com mais sentimento sobre a vida nas favelas da Inglaterra. Em "A situação da classe trabalhadora na Inglaterra" ele descreve pessoas que vivem "na imundície, em meio a fedores horríveis,... montes de lixo, vísceras de animais é uma sujeira repugnante". Engels era um homem paradoxal, mas de bom coração.