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Em Pauta

O eng.º francês, que nadava em tese, e demarcava terras no MS

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 24/03/2024 07:04
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Somente com a implantação da República os fazendeiros do Mato Grosso do Sul preocuparam-se em legitimar as terras ocupadas. Não havia agrimensores deste lado. As medições eram feitas por engenheiros vindos de Cuiabá, que eram quase todos estrangeiros e habilitavam-se para o exercício da profissão mediante exame ligeiro.


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A "burrocracia" para legitimar uma fazenda.

O fazendeiro tinha de se deslocar até Cuiabá. Era uma viagem demorada e cara. Chegando em Cuiabá deveria requerer a posse em um órgão denominado "Repartição de Terras". Esse requerimento só era possível depois de gastos abusivos com procuradores. Apresentada a papelada, o fazendeiro deveria retornar a suas terras, e nela aguardar a designação do agrimensor. Recebia uma carta informando que o agrimensor chegaria no dia tal, do mês tal e que ele estivesse preparado com um peão bem pratico para viajar e montar, um barco para transporte e um bom animal para montaria do engenheiro.


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O caso do Rivassau.

O engenheiro Emílio Rivassau faz parte de nossa história. Foi ele que mediu e legitimou algumas fazendas entre Miranda e Aquidauana e suas medições são usadas até nossos dias para dirimir direitos de fazendeiros e de indígenas. Mas Rivassau era tido como um homem "irascível e sôfrego", não admitindo quaisquer opiniões em contrário a qualquer coisa que lhe passasse pela veneta. Em uma das medições, Rivassau chegou de navio de Cuiabá e já foi dando ordens ao peão que lhe aguardava. "Vamos, rapaz. Dê-me las canastres [caixas usadas como malas]. Eu querer acomodar le aparelhe e enquanto isso você irá trazer les animales", ordenou com severidade.


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Glub, glub, glub, nadava teoricamente.

O peão ponderou que deveriam iniciar a viagem no dia seguinte pois as águas do rio baixariam no alvorecer e permitiriam a ultrapassagem sem problemas. Mas o francês não admitiu. Para não melindrar o engenheiro, o peão teve o cuidado de perguntar: "Doutor, o senhor sabe nadar?". "Sei", foi a resposta em tom colérico. Jogaram-se na água. O peão olhou para trás e viu o cavalo nadando sozinho. Só via a cabeça do engenheiro sobre a água. Estava afogando. O peão salvou o engenheiro e, depois de recuperado, perguntou-lhe: "Como é que o senhor me afirmou que sabia nadar?" O agrimensor não se mostrou avexado e respondeu: "Bem, eu li muito sobre natação... eu nado teoricamente".

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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