O homem que criou as fake news e o espetáculo
Roger Ailes era seu nome. Pouco conhecido no Brasil, morreu na ignomínia. Os excessos sexuais, os abusos e as chantagens cometidos durante muito tempo apareceram subitamente e destruíram sua carreira. Ailes foi o homem que colocou na Casa Branca Richard Nixon, Ronald Reagan, George Bush pai, George Bush filho e Donald Trump. Ailes foi o homem que criou a Fox News. Ela deseja operar um canal no Brasil. Pertence à família Murdoch que não escondeu o desejo de dominar a mídia mundial. Ailes era seu grande motor. Criou uma máquina formidável de agitação e propaganda conservadora. Foi o homem que fez das fake news uma arte. Foi ele que fez desmoronar a antiquíssima percepção da mídia de que as ideias pesam para o peso político. Foi Ailes que demonstrou que o confronto e o espetáculo são os fatores determinantes da política.
O jornalismo era uma piada para Ailes.
Sua teoria sobre a comunicação política pode ser resumida em uma frase célebre: "Temos dois tipos de cenários. Um deles anuncia uma solução para os problemas do Oriente Próximo. No outro, alguém cai no fosso da orquestra. Qual dos dois você crê que aparecerá no telejornal da noite?".
Ailes não era jornalista. Ele ria do jornalismo. Para ele, interessado em ganhar dinheiro e favorecer determinados interesses políticos, o jornalismo não passava de um instrumento.
O flanco frágil do jornalismo.
Ailes não se cansava de dizer que o jornalismo tem um flanco frágil: o elitismo. Afirmava que só uma pequena parcela da população está realmente interessada na informação. Entendia, sempre vitorioso, que a grande maioria prefere consumir um tipo de espetáculo que se adapte a seus juízos e os entretenha.
A imprensa é um dos instrumentos da elite.
Durante a década dos anos noventa as fábricas migraram para a Ásia, onde produzir era mais barato. Muitas regiões dos países, inclusive do sudeste do Brasil, caíram na pobreza, no desespero e na irrelevância. Isso gerou um lógico ressentimento contra os mandatários. As elites eram as culpadas. É um dos principais instrumentos das elites era a imprensa. Foi ela que abençoou, de forma bastante acrítica, aquela que era a nova ordem mundial. Aos olhos de milhões de cidadãos, e de eleitores, a conexão era automática. A imprensa os enganara e marginalizara. A imprensa não falava deles, dos enganados. Falava dos mandões e dos magnatas. A imprensa era inimiga.
O prédio da imprensa tremeu.
Através da Fox News, Roger Ailes balançou o gigantismo da imprensa. A realidade se tornou maleável. Deixaram de existir a verdade e a mentira. Tudo passou a ser mera opinião. Essa confusão não será facilmente curada. Dificilmente ocorrerá a renovação na fé da imprensa. A solução passa a ser um saudável ceticismo. Só um público crítico pode conseguir que os jornalistas sejam críticos consigo mesmo.