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Em Pauta

O que é a vida? Qual o futuro da medicina e da biologia?

Mário Sérgio Lorenzetto | 10/10/2018 07:56
O que é a vida? Qual o futuro da medicina e da biologia?

Há 75 anos, o cientista Erwin Schröndiger fugiu da Austria de 1943 para ser contratado como diretor do novo Instituto de Estudos Avançados da Irlanda. Em sua chegada deu uma série de palestras históricas denominadas "O que é a vida?"Nelas, perguntava qual era a estrutura molecular da vida desde o ponto de vista físico.
Para Schröndiger, o código básico da vida tinha uma estrutura de cristal. Naquela época, a dupla hélice do DNA estava por ser descoberta. Dez anos depois, em 1953, Crick e Watson escreveram uma carta a Schröndiger explicando como era a estrutura do DNA e o agradecendo pela influência.
Hoje, sequenciar o genoma humano está ao alcance de qualquer um. Empresas de biotecnologia oferecem serviços personalizados e mais ou menos dispendiosos para ler nossa herança genética e predizer a saúde futura. Mas, à medicina e biologia ainda restam responder perguntas chave: Que mecanismos guiam nossa memória, aprendizagem, percepção e emoção? O que é a consciência? Qual é a história de nossa espécie?
Para comemorar os 75 anos das palestras de Schröndiger os melhores médicos, biólogos e químicos do mundo se reuniram em Dublin para discutir o futuro da medicina e da biologia. O objetivo é responder a essas perguntas e apresentar novos avanços que ajudem a sociedade.

O que é a vida? Qual o futuro da medicina e da biologia?

A sexta extinção.

Um dos problemas mais graves de nossa era é a extinção de animais. Segundo o Fundo Mundial para a Natureza, a cada anos se extinguem mais de 10.000 espécies. Talvez seja exagerado, mas, seja qual for a média anual, é preocupante. Até agora a solução tem consistido em medidas de preservação. Mas isso não é suficiente.
Uma das universidades da Califórnia tenta salvar as espécies mediante o uso da genética. Para isso, usa parte do genoma de algumas espécies já extintas para que as novas espécies que surgirão sejam muito similares a suas antecessoras e mais resistentes à vida selvagem atual. Os esforços dessa universidade já conseguiram salvar uma espécie de puma, e não pretende parar aí.
As espécies extintas estão mais próximas da redenção do que nunca. Ao menos nas placas de laboratório. Os cientistas já trabalham com organóides, pequenas versões de animais que crescem em laboratório a partir de células-tronco. Também já fazem experimentos com tecido cerebral com muitos animais, só falta trabalhar com humanos.
Um dos mais aclamados cientistas do momento, Svante Pääbo, já está começando essa pesquisa. Em Dublin, Pääbo apresentou sua pesquisa para usar esses organóides visando recriar neurônios de nossos parentes extintos. Recriará os neandertais usando as novas técnicas de edição genômica e do DNA.

O que é a vida? Qual o futuro da medicina e da biologia?

Envelhecer com saúde.

A edição genética também pode nos fazer envelhecer melhor. Emma Teeling, está estudando amostras de morcegos há anos para descobrir porque alguns deles vivem uma longa e saudável velhice. Suas investigações revelaram que esses mamíferos aumentam os consertos do DNA à medida que envelhecem. Têm uma "oficina" de DNA em seus corpos. Quais instrumentos estão nessa "oficina"?
Todavia, não é necessário editar genes para viver mais. Linda Partridge estuda os mecanismos do envelhecimento e sua relação com a dieta. Segundo seus resultados, reduzir a quantidade de proteínas de nossa dieta entre os 50 anos e 65 anos, e aumentá-la à partir dos 65, é suficiente para reduzir os índices de câncer.
Restringir a comida a certas horas do dia e lanchar o resto do tempo, também nos ajudaria a manter o metabolismo muito ativo. Alguns medicamentos que afetam os fatores que relacionam dieta e envelhecimento já estão nas provas iniciais em humanos. Em pouquíssimo tempo teremos nas farmácias alguns deles. A preocupação está no preço.

O que é a vida? Qual o futuro da medicina e da biologia?

Nanocirurgiões que reparem as células.

Tampouco teremos de esperar muito para tomar antibióticos mais eficientes. Bernard Feringa, Premio Nobel de Química e especialista em nanotecnologia, criou uma molécula que funciona como um interruptor ativado por radiação. Feringa está aplicando essas moléculas em antibióticos para que só sejam ativadas onde sejam ativadas, sem efeitos secundários para os usuários. Isso também resolveria o problema da crescente resistência das bactérias aos antibióticos. Seu objetivo a longo prazo é produzir nanocirurgiões que reparem as células do corpo onde elas estiverem com problemas. Se a Emma Teeling estuda construir uma "oficina" de DNA, Feringa quer criar uma "oficina" de células.
Quiçá no futuro possamos mudar nossos cérebros. Karl Deisseroth está desenvolvendo um novo método que denominou "optogenética". Consiste em inserir a proteína de uma alga sensível à luz em qualquer célula. Essa pesquisa possibilitará a edição genética até de nossos neurônios. Susumu Tonegawa, já utilizou essa nova técnica para editar cérebro de ratos com sucesso. Criou uma memória falsa nos ratos. A ideia é curar a depressão.
Ao fim e ao cabo, ainda nos resta muito para compreender o que é a vida e como podemos melhorá-la.

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