O remédio é o veneno, o caso do gás mostarda e a quimioterapia
A industria farmacêutica produziu incontáveis casos de sucesso em tratamentos médicos no ultimo século. Mas também matou muita gente. O século XX testemunhou alguns dos experimentos médico-científicos mais brutais e antiéticos já realizados na história. Em Auschwitz, por exemplo, durante a Segunda Guerra, a empresa alemã Bayer usou prisioneiros não só como escravos em suas fábricas, mas também como cobaias para testes de medicamentos - centenas de vezes fatais. E ainda tem gente, ou pelo menos imagina que é gente, em Campo Grande, idolatrando os sanguinários nazistas.
Quem quer testar o gás mostarda?
Mas os nazis não estavam sozinhos. Nunca estão. Tinha cientista do outro lado do Oceano Atlântico, usando da mesma perversidade. Fizeram testes na Escola de Medicina de Yale, pesquisa financiada pelo Departamento de Defesa, para justificar o uso do gás mostarda. Louis Goodman e Alfred Gilman, notaram que esse gás era muito volátil para ser usado em experimentos e produziram uma alternativa, trocando enxofre por nitrogênio. Começava a nascer uma das mais importantes drogas da história da medicina.
Não cura, mas reduz tumores.
A substancia criada pela dupla de Yale curava interinamente tumores, mas prolongava a vida. O primeiro humano a passar pelos testes só é conhecido por suas iniciais: JD. Tinha linfossarcoma e o tratamento com radioterapia não tinha apresentando resultados satisfatórios. Ele recebeu, em agosto de 1.942, a primeira de dez doses diárias de gás mostarda modificado. Na época, não tinha nome, ficou registrado apenas como substancia “X”. Não dava para admitir que era gás mostarda. O incrível é que o tumor não sumiu, mas diminuiu muito. JD não aguentou muito tempo, faleceu em dezembro do mesmo ano. Ainda hoje gás mostarda modificado está entre os agentes quimioterápicos mais usados. Algumas vezes, o remédio é o veneno.
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