Olho vivo! Aumentos da Selic incidem em apenas 20% dos componentes da inflação
A face oculta da Selic.
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Uma de suas principais funções é a de remunerar as aplicações feitas em títulos do Tesouro, isto é, da dívida púbica brasileira. A maioria dos jornalistas e economistas entendem que a Selic é o principal instrumento para combater a inflação. Não funciona bem assim. Há uma face oculta que raras vezes é revelada. Entre dezembro de 2014 e junho de 2015 ela subiu de 11,75% para 13,75% ao ano. Esse crescimento de 2% representa um pagamento extra só dos juros da dívida da ordem de R$ 49 bilhões. Esse é um valor muito semelhante ao que o Ministro da Fazenda se esforça por amealhar com os inúmeros cortes nos gastos federais, apelidados de "ajustes fiscais”. Como podemos entender essa conta? De um lado corta fortemente as políticas sociais e reduz todos os orçamentos dos ministérios para reunir algo como R$ 60 bilhões. E ao mesmo tempo eleva o gasto público em R$ 49 bilhões com o aumento da Selic? Só há um entendimento possível: não há contenção de gastos coisa alguma. Corta-se de um lado para dar ao outro lado.
Quem se beneficia com os aumentos da Selic?
O Tesouro Nacional informa: os detentores dos títulos da dívida pública, em junho de 2015, são as instituições financeiras nacionais e internacionais (29,8%), fundos de investimentos nacionais e internacionais (20,3%), investidores estrangeiros (18,6%), fundos de previdência (17,1%), seguradoras (4,1%), governo (5,7%) e outros (4,4%). Pode-se afirmar que algo como 70% da dívida púbica federal está nas mãos dos bancos e investidores (setor financeiro). O benefício concedido pelo governo brasileiro não tem similar no mundo inteiro. Ninguém paga mais que o governo brasileiro para esse setor financeiro.
Os números mostram que o aumento da Selic pouco serve para combater a inflação.
O argumento utilizado por todo o sistema financeiro, por parte da mídia que reproduz as análises feitas pelos bancos e pela maioria dos economistas, é de que é preciso elevar a Selic para combater a inflação. Será verdadeiro esse mantra rezado e comungado pela maioria? Ele não é verdadeiro. Surpreendam-se, os aumentos da Selic incidem em apenas 20% dos componentes da inflação. Os demais 80% são preços sobre os quais a Selic não tem qualquer influência. São eles: os preços dos alimentos, que dependem principalmente das variações climáticas e do mercado internacional, bebidas, serviços e pelos preços administrados pelo governo federal como os da gasolina e da eletricidade. Então, porque aumentam a Selic? Em primeiríssimo lugar, serve para elevar a remuneração, os ganhos do dinheiro especulativo, nacional e principalmente internacional. Aquele dinheiro que vive passeando pelo mercado internacional procurando quem paga mais por ele.
Teoria do caos made in Brazil.
Já não entendo nada. Esta é a frase mais comum repetida por políticos, jornalistas e o cidadão comum. É um reflexo do caos em que se encontra a política e a economia do país. O Brasil está atônito com a quantidade de mensagens diferentes, complementares, e frequentemente contraditórias que emanam de Brasília. Lula ataca Dilma, Lula defende Dilma. Cunha perde a mudança da idade na maioridade penal. Cunha ganha a mudança da idade na maioridade penal. E a população desorientada e cada vez mais furiosa, responde na mesma moeda. Aqui reside grande parte do deprimente espetáculo a que estamos assistindo. Brasília está trabalhando com a Teoria do Caos.
Essa teoria estuda a forma como uma pequena alteração em um fator individual de um sistema pode provocar um resultado geral mais adiante. Ou seja: a forma como o bater de asas de uma borboleta em Brasília pode provocar um tufão no Mato Grosso do Sul. Dilma e Cunha não cessam de "bater asas". Ou melhor: que o bater de asas de centena de borboletas, tantas quantas as mensagens e propostas que Brasília nos faz chegar nos últimos tempos, que de acordo com essa teoria, teríamos muitos tufões. Um dos tufões sopra a todo o vento: é o tufão que ocasionou o caos total na comunicação.
O FED, o Banco Central dos EUA tem uma estrutura bicéfala.
A esperada "tempestade perfeita", reunião da crise econômica brasileira com a retração da venda de dólares baratos pelo FED, ainda não aconteceu. Muito se especulou que o FED, o Banco Central dos Estados Unidos deixaria de emitir a torrente de dólares que vem colocando nos mercados mundiais desde o estabelecimento da crise mundial em 2008. Mas, aumentar ou diminuir a emissão de dólares é uma decisão simples para aquele banco?
A Reserva Federal norte-americana, também conhecida como FED, tem uma estrutura bicéfala de alta complexidade: um conselho formado por sete gerentes nomeados pelo presidente do país, e confirmados pelo Senado, e mais doze sucursais regionais em que participam acionariamente os bancos nacionais em troca de ter assento no conselho do FED. Esse conglomerado de interesses é quem dita a política monetária dos EUA e, parcialmente, do mundo todo. Tem, desde sua origem, uma autonomia sem precedentes que o Brasil volta e meia pensa em copiar. Equivale dizer que a política monetária que essa união de interesses entre o governo do EUA e uma imensidão de bancos privados, é independente do presidente, do poder executivo e do legislativo. Além disso, o FED não recebe financiamento dos cofres públicos e os mandatos de seus membros não são coincidentes com o do presidente e do Congresso.
Apesar de sua solidez, o FED incorreu em flagrantes erros de avaliação. Em 1929, o FED não emprestou dinheiro aos pequenos bancos, um erro que agravou aquela recessão. Errou, novamente, na crise instalada em 2008 por não perceber seu tamanho e continuar agindo como se não estivesse chegando um tsunami. Então, a questão que preocupa o mercado brasileiro, se o FED continuará ou não a política de imprimir grandes somas de dólares só pode ser respondida com: não será uma decisão fácil e tranquila por envolver uma grande quantidade de interesses, muitas vezes conflitantes.
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