Onoda, das selvas filipinas a uma fazenda cobiçada pelo MST
"Era um oficial e recebi uma ordem, se não a tivesse cumprido ficaria envergonhado". Essa frase pode resumir toda a vida de quem a pronunciou, o tenente Hiroo Onoda, o oficial do exército japonês que viveu durante 30 anos, dez mil dias, na pequena ilha filipina de Lubang, desde dezembro de 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, até que convenceram que se rendesse em março de 1974. Convertido em uma lenda, Onoda volta à atualidade mundial graças ao livro "Crepúsculo do Mundo", escrito pelo cineasta alemão Werner Herzog, que conheceu Onoda e ao filme "Onoda 10.000 noites na selva", de Arthur Harari, um êxito de público e prêmios.
Proibido suicidar.
Onoda tinha 20 anos quando se alistou para combater na guerra. Destinado à ilha filipinas de Lubang, recebeu a ordem de seu superior imediato de que deveria destruir o aeroporto e o porto quando as tropas japoneses se retirassem. Aquela era uma região estratégica para alcançar Manila, e de lá, seria um pulo para as tropas aliadas chegarem ao Japão. Também foi proibido de suicidar-se pela honra, atitude que milhares de soldados japoneses tomaram na iminência da derrota. Onoda deveria entregar sua vida à sabotagem e guerrilha. E ainda foi advertido de que nenhum superior tinha conhecimento dessas ordens. Deveria aguardar o retorno vitorioso do exército japonês. Sete soldados ficaram com Onoda.
30 anos de combates.
É difícil imaginar outro soldado, na história universal, que tenha combatido tanto quanto Onoda. Durante três décadas, Onoda enfrentou 111 emboscadas. Matou mais de trinta filipinos. Escapou, milagrosamente, de mais de mil tiros. Todos na ilha eram seus inimigos. Na ilha de Lubang virou um mito, um fantasma de quem só falavam em sussurros. Onoda virou um herói, apesar de nunca ter concordado com essa definição. Seus compatriotas o qualificam assim.
Não se adaptou ao Japão moderno e veio para o MS.
Onoda não se adaptou ao Japão moderno. Acabou vivendo longas temporadas, com seu irmão, que havia emigrado para o Brasil, no Mato Grosso do Sul. Com o dinheiro que recebeu de premiação do governo japonês, comprou uma fazenda nas proximidades de Aquidauana. "O coração dos colibris batem 1.200 vezes por minuto. Os índios silenciosos do Mato Grosso do Sul acreditam que os colibris vivem duas vidas simultâneas". Onoda viveu duas vidas nas selvas filipinas. Quando desperto não sabia se estava acordado, nem tampouco quando estava sonhando sabia que o fizesse de verdade. Sua vida foi no mato. Das selvas filipinas para as matas sul-mato-grossenses. A cobiça de oportunistas pode transformar sua fazenda em mais uma das tantas tomadas pelo movimento daqueles que não querem trabalhar. Uma vida de dedicação talvez vire um monumento ao oportunismo.