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Em Pauta

Os inimigos da margarina e muito mais

Mário Sérgio Lorenzetto | 26/07/2016 06:53
Os inimigos da margarina e muito mais

Em 1866, Napoleão III, imperador dos franceses, conclamou os cientistas de seu país para encontrar uma fonte de proteínas, alternativa à manteiga, que fosse mais barata. Necessitava alimentar uma população famélica, um exército enfraquecido e cercado por todos os lados. Hippolyte Mège Mouriés, ganhou o prêmio proposto pelo imperador, inventou a margarina.

Assim que a Europa adotou o novo produto, nasceu, nos Estados Unidos, o lobby da indústria láctea, que empreendeu uma guerra aberta contra a margarina.
Conseguiram que a margarina fosse proibida em vários Estados. Essas leis foram sustentadas até pelo Supremo Tribunal norte-americano. Para conseguir frear a entrada do novo produto, mais acessível que a manteiga, a indústria láctea se serviu de estudos científicos inventados e campanhas de ódio dizendo que a margarina era contra os EUA, porque continha um produto importado - o óleo de coco. A indústria estigmatizou as residências que a consumiam porque estavam utilizando um produto barato, o que questionava os pais de família a prover os seus.

Os produtores de margarina reagiram. Substituíram o óleo de coco por plantas "mais norte-americanas", como o algodão e a soja e estabeleceram alianças com os produtores dos EUA dessas plantas. A demanda de margarina cresceu até que seu consumo rebaixou a manteiga nos anos 1950, depois que revogaram as leis que a proibiam.

Este é um dos melhores exemplos de como se travam as lutas contra as inovações. O café, os tratores na agricultura, as geladeiras e muito mais, no mundo muçulmano já foram objeto de campanhas de desprestígio. O café sofreu, durante séculos, a proibição de autoridades muçulmanas que fecharam, por leis islâmicas, as cafeterias. A proibição estava voltada, especialmente, a esses lugares onde se expressavam, livremente, as ideias. O mais interessante é que quando o café saiu do Oriente Médio para a Europa, o efeito foi o mesmo. Os reis europeus decretaram o fechamento de algumas cafeterias e dos clubes de café que começavam a aparecer nas universidades. Antes que a Itália fosse a pátria do "expresso", o país resistiu ao novo produto com medo da concorrência ao setor do vinho.

Assim também foi com as vacinas. Também com os telefones. E agora com a inteligência virtual e os transgênicos. Aos transgênicos apelidam de "comida Frankstein". O café foi apelidado de "álcool juvenil", na Inglaterra, França e Alemanha. Também diziam que o café produzia esterilidade aos homens. As comidas refrigeradas eram chamada "embalsamadas". O telefone, "instrumento do demônio" e a margarina, "manteiga de touro". Tem mais inimigo de inovações? Tem sim.

Em 1942, o sindicato de músicos mais importante dos Estados Unidos, proibiu seus membros de gravar discos e convocou uma greve contra a indústria fonográfica. Esses estudos estão no livro "Innovation and its Enemies", de Calestous Juma, professor de Harvard.

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PT busca suas raízes nas eleições.

São 36 anos de história. O PT procura uma renovação dos quadros e o reencontro com suas raízes. Retomam a velha estratégia de alianças prioritárias com a esquerda nos grandes municípios e o maior lançamento possível de candidaturas próprias. Nas capitais, encabeçará chapa em 20 cidades. Nas demais, apoiará candidatos do PC do B, PDT e somente um do PTB (Teresina). Em avaliações internas, a cúpula nacional petista teme uma derrota acachapante em 2016. Dirigentes entendem que a única saída é ir para o confronto. Com o aumento de candidaturas petistas nas capitais, a legenda terá uma plataforma para fazer a defesa do legado dos governos de Lula e de Dilma. É uma estratégia que tem o objetivo de fortalecer o PT para a corrida presidencial de 2018.

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PT parte em sua última viagem no poder: em busca do "estrangeiro perdido".

Por aqui o resultado é conhecido. Só resta descortinar o placar, que lhe será adverso. Resta ao governo petista sair em viagem, em busca do "estrangeiro perdido". A nau dos derrotados parte em busca do olhar do outro. Trouxeram Esquivel, o laureado Premio Nobel da Paz encontrou as barricadas oposicionistas em posição de guerra. Evento pífio. O outro, estrangeiro, seja quem for, pode e deve falar sobre nós. E está falando muito. É importante que fale. Mas cabe uma interrogação: o petismo perdeu a voz? A resposta é clara, continuam tão estridentes como no nascedouro. Gritam, mas perderam o respeito. Suas vozes deixaram de ser ouvidas. Mas ouvir o outro está em nossas raízes.

O Brasil, este que nasce pela invasão de europeus tem sua primeira certidão de existência na carta do português Pero Vaz de Caminha. Parte fundamental de nossa trajetória foi narrada pelo olhar de viajantes notáveis, como o francês Auguste de Saint Hilaire. O que se diz do Brasil, desde seus primórdios, e que, portanto, o constitui como narrativa, é dito em língua estrangeira. Nossas elites, como se sabe, são jecas. Primeiro cortejavam a França, agora é tudo em inglês. Inglês de uma colônia como a nossa. Inglês de norte-americano. Que uma parcela de nossa elite, aquela que se fez elite somente no poder, seja achincalhada em inglês é uma ironia das mais interessantes. Essa elite forjada com o dinheiro do poder pretendia a fundação de uma nova ideia de país. Um Brasil que fosse menos um imitador- um copista do pensamento europeizado, ainda que dos EUA - e mais um criador. E isso também na economia. Só lhes resta embarcar na ultima nau. Em busca do reconhecimento dos que estão lhes apedrejando na imprensa, em busca de uma "cavalaria" que os proteja, em busca do socorro que não virá.

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Temer baixará o preço do feijão?

A nova pesquisa do Datafolha surpreendeu os políticos e os analistas. A leitura fácil dessa pesquisa mostra um país que deseja que Dilma e o PT não retornem ao governo e ainda desconfia de Temer. Também mostra que Lula perde para todo mundo em 2018. Mas não é esse o ponto principal. Não está na política o anseio da maioria dos brasileiros.

O que se observa com a pesquisa, é o convencimento que a cambaleante economia que Dilma deixou de herança, em uma das crises mais graves do país, começa a respirar positivamente. Saímos do coma e ingressamos, cheios de contusões e pestilências, na enfermaria. A grande maioria da sociedade, essa que tem pouco tempo para pensar e excesso de tempo para sofrer, a que trabalha duro para que o país não desabe no abismo, apesar da idiotia dos políticos, costuma ver a política e a economia sob o prisma da realidade. É a realidade dos sem privilégios, dos que quase nada sabem das jogadas elípticas das autoridades. Mas sabem muito de como é preciso lutar a cada dia e dar graças ao destino por poder ainda trabalhar. O que tira o sono dos trabalhadores não é o caos da saúde, a ineficiência da educação, a Lava Jato ou a violência do cotidiano. O pesadelo diário do trabalhador é o desemprego e o custo elevado da cesta básica, que não para de crescer. O político têm de se preparar para responder: "afinal, o Temer baixará o preço do feijão". A outra indagação é:"onde consigo um emprego?"

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