Pelo sal, guerras travadas e milhões de pessoas escravizadas
Posso afirmar que nenhum objeto que você tocar hoje é associado a tanto sofrimento, desgraça e derramamento de sangue quanto dois inócuos objetos que vivem juntos, o saleiro e o pimenteiro. Fiquemos apenas com o sal. É um elemento muito valorizado da nossa alimentação por uma razão fundamental: sem ele, morreríamos.
Um quilo de carne era igual um de beterraba.
Mas essa informação da necessidade mortal do sal demorou um tempo absurdamente longo para surgir. Até já bem entrado o século XIX, a noção de uma dieta bem equilibrada não tinha ocorrido a ninguém. Acreditava-se que todo alimento continha uma única substância - "o alimento universal". Um quilo de carne tinha o mesmo valor para o corpo que um quilo de beterraba. Bastava ingerir uma grande quantidade de alimentos para chegar ao bem estar.
Tá enganado.
De todos os minerais o mais importante é o sódio que consumimos no sal de cozinha. Basta em torno de duzentos miligramas por dia, algo como chacoalhar o saleiro em cima de um prato de comida umas oito vezes. No entanto, ingerimos cerca de sessenta vezes essa quantidade. É aí que mora o engano. Exageramos em demasia. Sem o sal, morremos, com o excesso de sal, também. Mas é dificílimo escapar dessa armadilha. Há sal até em sorvetes e doces que consumimos. Trinta gramas de cereal matinal tem mais sal que trinta gramas de amendoim salgado.
Notícias antigas do sal.
Hoje o sal é tão onipresente e barato que nos esquecemos de como foi difícil chegar a esse estado. Caravanas com 40 mil camelos saiam de Timbuktu, na África para levar sal até a Itália. Era uma fila inimaginável, tinha mais de cem quilômetros de camelos. A maior caravana de camelos carregando sal africano, no entanto, foi para abastecer as tropas de Henrique VIII. Esse rei inglês abateu 25 mil bois para uma campanha militar e necessitou de mais de 50 mil camelos levando sal para preservar tamanha quantidade de carne. Por causa do sal já foram travadas muitas guerras e milhões de pessoas foram vendidas como escravas.
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