Primeiros pecuaristas: muito gado, zero conforto para viver
Os rebanhos bovinos no Mato Grosso do Sul, na década que tem início em 1.950, eram gigantescos, chegavam a 100.000 em algumas fazendas. O rebanho de equinos também, até que apareceu uma epizootia, uma doença apelidada de "quebra-bunda", que os dizimou. Muito gado no pasto, no entanto, não significava conforto. Pelo contrário, a vida nas fazendas era extremamente precária.
Construindo uma casa de fazenda.
As casas de fazenda eram construídas com a técnica do adobe - terra, palha e água. Muitas eram apenas "barreadas a sopapo", jogavam barro em varetas e esperavam secar. A caiação era aguardada, quem não colocava cal nas paredes, esperava algum ter esse "privilégio". Casa de patrão tinha telha, casa de peão, tinha folhas de palmas. Sempre em duas águas. Ambas não evitavam o umedecimento interior, durante a época das chuvas, quando pelo chão de terra batida, brotava água do subsolo.
Móveis? Só o essencial.
O mobiliário era reduzido ao essencial. Na sala, estendia-se comprida mesa de tábua sobre cavalete. Nos flancos, bancos igualmente de madeira tosca. A sala era sempre aberta, apenas com uma divisória, onde guardavam as mercadorias destinadas às pequenas transações com os vizinhos. Ali faziam as refeições, primeiro a família do fazendeiro, depois, os peões. A água de beber era esfriada em potes ou talhas de barro cozido, que tinham como suporte um galho de árvore em forma de forquilha com três braços.
Camas? O que isso?
As camas eram quase desconhecidas nas fazendas do Mato Grosso do Sul. A carência era suprida pela abundância de redes, armadas ao anoitecer e retiradas pela manhã. Os dormitórios ficavam vazios durante o dia. No centro deles, sempre havia um mourão para aumentar o número de armadores de rede. Apenas encostados nas paredes, enfileiravam-se baús, geralmente de couro ou de madeira envernizada. A mobília completava-se com tamboretes forrados de couro.
As vestimentas eram simples.
Em correspondência com a penúria da habitação, também a vestimenta era frugal. Geralmente confeccionada de morim, algodãozinho leve ou de algodão mais grosso. Para os homens, a roupa devia ser sempre riscada. As chitas - tecido 100% de algodão - tinham de ter motivos florais. Mas, se a casa e as vestes exprimiam pobreza no reino da pecuária, a alimentação era abundante e variada. Ninguém passava fome.
Uma sociedade colaborativa.
Era impensável um fazendeiro não auxiliar um vizinho. Não importava o preço ou a dificuldade, todos se ajudavam mutuamente. A solidariedade era a lei maior. As quatro vertentes pioneiras - paulistas, mineiros, poconeanos e paraguaios viviam em comunhão. Só em meados do século passado, com a saída das fazendas dos jovens para internatos em Cuiabá, C.Grande, S.Paulo e Rio de Janeiro, muitos só voltando ao MS como profissionais liberais, a derrocada dessa união se fez sentir. As novas gerações passaram a viver nas cidades. Chegava ao fim uma maneira de viver.