Quatro mil soldados brasileiros atolados em Mato Grosso do Sul
Engana-se quem imagina que a Retirada da Laguna e a destruição de Corumbá foram as únicas atrocidades ocorridas em solo sul-mato-grossense durante a Guerra do Paraguai. Entre Rio Negro e Aquidauana, quatro mil soldados ficaram literalmente atolados no Pantanal. A metade foi devorada pela fome e pela beribéri.
Recolhendo soldados.
O Exército brasileiro estava despreparado para a guerra. Após a invasão das tropas guaranis no território que hoje é o Mato Grosso do Sul, foi enviado um contingente militar para combater os invasores. Em abril de 1.865, uma coluna partiu do Rio de Janeiro e foi arrebanhando soldados em S.Paulo, Minas Gerais e Goiás. Estavam sob o comando do coronel Manuel Pedro Drago que não tinha sequer ideia das dificuldades de atravessar o Pantanal. Percorreram mais de dois mil quilômetros até alcançar Coxim, em dezembro desse mesmo ano. A cidade estava abandonada e não dispunha de viveres para alimentar tanta gente. Enviaram alguns batedores para descobrir como seria atravessar um terreno tão alagadiço.
Acampados no Rio Negro.
As forças ficaram estacionadas no Rio Negro longas semanas. Por causa das muitas chuvas que caiam e da inundação pantaneira, sofreram indizíveis calamidades. Estavam literalmente sitiadas pelas águas. O acampamento era apenas um charco.
Beribéri desconhecido.
Começou a aparecer um mal desconhecido até então e que atacava, ora lentamente, ora de chofer, matando quase de súbito. Os médicos estavam aterrorizados e não conseguiam decidir como combatê-lo. Era o beribéri de que ainda não se tinha falado em todo o Brasil. A doença, causada pela falta de vitamina B, ceifou centenas de vidas.
Atolados!
A travessia do Rio Negro até a fazenda Taboco, em Aquidauana, foi medonha. As forças tiveram que vencer quilômetros de lama. Muitas centenas de pessoas, mulheres, crianças, carroceiros, soldados morreram atolados no lodo. Ninguém explicou como a artilharia conseguiu transpor esse terreno alagado. Sem exagero, dizem os historiadores, haviam morrido em menos de seis meses mais de 2.000 praças. Apesar de tudo, a deserção foi pequena.
Plano de maluco.
A confusão reinava no novo comando da tropa. O velho comandante José Antônio da Fonseca Galvão, falecera durante a travessia. Em seu lugar, assumira um coronel que chegara de Cuiabá. Tinha planos gigantescos, meio amalucados. Tentou convencer seus comandados de descer pelo rio Miranda, subir o rio Paraguai e atacar a Corumbá dominada pelos soldados de Solano Lopes. Só havia um “pequeno” problema: não dispunham de uma canoa sequer. O doidivana de Cuiabá, apelidado Poaya persistiu na maluquice. Oficiou ao governo do Rio de Janeiro, empregando tom belicoso, e já vencedor sem batalha, pedindo permissão para seu intento. Meses depois, a resposta veio com a chegada de novo comandante. O coronel Camisão colocou ordem na doidura e conduziu a tropa para Nioaque, lugar tido como extremamente saudável.
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