Quimioterapia: gás mostarda deu início à guerra contra o câncer
Em 2 de dezembro de 1.943, no auge da Segunda Guerra, a Luftwaffe alemã realizou um fatídico ataque aéreo aos navios aliados estacionados no porto de Bari, na Itália. O ataque durou apenas vinte minutos. Centenas de soldados morreram. Outros, tentando escapar, se jogaram no mar Adriático. Foram retirados da água oleosa e envoltos em cobertores. Depois de algumas horas, todos começaram a apresentar sintomas desconcertantes. Os olhos lacrimejavam, a pele descascava e a pressão arterial caia drasticamente. Muitos disseram que se sentiam bem, para morrer segundos depois. Não havia explicação.
Um jovem oficial medico descobriu a causa.
Nos dias seguintes, 83 soldados morreram dessa maneira. Só sobreviveram aqueles que conseguiram se limpar do óleo logo após o retorno à terra. Os EUA enviaram um jovem oficial médico, o tenente Stewart Alexander, para investigar a causa de tantas mortes inexplicáveis. Chegou à conclusão que um dos navios destruídos pelas bombas alemãs estava levando gás mostarda - uma arma química muito perigosa. O gás vazou e foi diluído na água. Seus efeitos explicavam as mortes. Tinham sido envenenados. Todos mostravam uma redução dramática dos linfócitos, os glóbulos brancos.
O veneno virou remédio.
Há séculos, a química mostra que a diferença entre remédio e veneno, em muitos produtos químicos, está na quantidade usada. Foi com essa ideia que Alexander voltou aos EUA. Podia reduzir a quantidade de linfócitos, a explosão enlouquecida dessas células no câncer de sangue? Seis anos depois, após vários ensaios clínicos, o medicamento Mustargen, baseado no gás mostarda, tornou-se o primeiro medicamento quimioterápico aprovado pela recém criada FDA, a agência que fiscaliza medicamentos norte-americanos. Mas ele não era perfeito. Os tumores que ele encolhia muitas vezes voltavam de forma ainda mais agressiva. Mas, pela primeira vez, o câncer parecia ter uma condição tratável. De uma terrível tragédia, nasceu uma nova esperança.
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