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Em Pauta

Revolta no Líbano une diferentes religiões

Mário Sérgio Lorenzetto | 01/11/2019 06:22
Revolta no Líbano une diferentes religiões

A religião moldou o Líbano desde a conquista da independência da França, em 1943. Nesse país multicultural de muçulmanos, cristão e drusos - uma fé medieval derivada do Islã - a religião define filiação e pertencimento. A religião está inserida no tecido econômico, político e social.

Revolta no Líbano une diferentes religiões

Taxar WhatsApp, pavio para explosão social.

Os protestos em massa, que começaram em meados de outubro, por causa de uma proposta para taxar chamadas via WhatsApp, desafiam essa longa tradição. Mais de um milhão de libaneses, de todas as religiões, se uniram nas manifestações antigovernamentais, sem líderes e em âmbito nacional. A agenda foi ampliada agora. Querem reduzir impostos e mudar de regime.

Revolta no Líbano une diferentes religiões

"Todos eles, significa todos eles".

Cantam os manifestantes em todos os rincões libaneses: "Todos eles, significa todos eles". Exigem a expulsão de todos os membros das classes dominantes do país. Em 29 de outubro, o primeiro-ministro Saad Hariri, muçulmano sunita, renunciou. Os manifestantes culpam Hariri, juntamente com o presidente cristão e o presidente do parlamento, muçulmano xiita, pela economia destruída e o ambiente devastado.
Em repúdio à ideia de que a lealdade religiosa vem antes da unidade nacional, eles exigem eleições justas e mais responsabilidade do governo.

Revolta no Líbano une diferentes religiões

A fome não têm religião.

Com 18 seitas reconhecidas, o Líbano é o país com maior diversidade religiosa no Oriente Médio. Quando a guerra civil eclodiu na década de 1970, a luta, quadra a quadra, era travada entre as milícias cristãs de direita e as milícias muçulmanas de esquerda. Pare encerrar o conflito foi assinado o Acordo Taif, em 1989. Esse acordo exigia que todos abandonassem suas armas e distribuiu os principais cargos em conformidade com as religiões: primeiro-ministro para sunitas, presidência da república para um cristão e presidência do parlamento para um xiita. É verdade que esse acordo manteve a paz no Líbano, mas o preço foi o aprofundamento das facções religiosas.

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As redes de patrocínio "za ´eem".

Za ´eem. Esse é o nome dado a todo e qualquer líder religioso das facções. Eles protegem os interesses de suas comunidades. Distribuem favores legais, quanto ilegais. Esse tipo ímpar de governança legou ao Líbano uma dívida estrondosa. E uma desigualdade impressionante. De acordo com o World Inequality Database, o 1% mais rico dos libaneses possui um quarto da riqueza da nação. Em virtude desse dois fatores, a infraestrutura libanesa está desmoronando. A falta de energia, por exemplo, é um problema crônico. Afeta até bairros de classe média. Trabalho infantil e abuso de refugiados, raramente são punidos. Falta água nos bairros mais distantes do centro. Em troca, todos desconfiam dos governantes. Uma pesquisa recente mostrou que nada menos de 96% dos libaneses querem ver os atuais governantes na rua.

Revolta no Líbano une diferentes religiões

Sectarismo é uma construção social?

A maioria dos pensadores garante que, tal como o dinheiro e a civilidade, o sectarismo é uma mera construção social. E, muitas vezes, o sectarismo é apenas uma concordância das pessoas para beneficiar os bilionários e poderosos do momento. O sectarismo normalmente impede o surgimento de ideologias mais unificadoras, como o humanismo. Foi produzido, portanto, pode ser mudado. Os manifestantes estão provando que entendem essa lógica. Cantam as música de Fairuz, o libanês mais famoso do Oriente Médio e procuram gritar suas insígnias de luta em várias línguas, uma das heranças mais preservadas por todos. Não se esqueçam: "Todos eles, significa todos eles". Libanês inteligente!

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