Revolução Haitiana, os jacobinos negros governam

Dia da Consciência Negra. Talvez, o melhor seria Dia da Inconsciência Branca. Lembrar Palmares? Prefiro lembrar a Revolução Haitiana. Alguns historiadores a colocam no mesmo patamar de importância da Revolução Francesa e da Norte Americana. A Revolução Haitiana é a mãe de todas as rebeliões de negros que ocorreram nas Américas, inclusive no Brasil.
Hoje, quando pensamos no Haiti, lembramos de miséria, mas não entendemos como um país rico virou o mais pobre da América Latina. O Caribe era no século XVIII o grande centro econômico e produtivo do mundo. O tráfico de escravos e a produção de produtos primários na região, colonizada por espanhóis e franceses, ocorria em larga escala. A colônia francesa de Saint Domingues (hoje Haiti), ao lado da ilha de piratas chamada Tortuga, era um dos maiores polos mercantis.

O total massacre dos índios.

A colonização do Haiti começou com um massacre. Diferentemente das demais regiões das Américas, a entrada europeia no Caribe resultou na extinção total. Essa matança desvairada, resultou em um território sem mão de obra. A saída foi o tráfico negreiro. E esses senhores brancos se tornaram os maiores especialistas na retirada de negros da África e seu transporte para as Américas. O Haiti virou um país de milionários franceses.

Senhores sádicos e agressivos.

Não se conhece uma experiência escravagista tão sádica e agressiva quanto a realizada no Haiti. Essa violência fez ebulir, pelo século XVIII, diversas rebeliões nas fazendas que, cumulativamente, estimularam a explosão de uma revolta generalizada contra os franceses em 1791.

Hipocrisia: Os revolucionários franceses se chocam com os haitianos.

Três anos e meio antes dos haitianos se rebelarem, os franceses tinham feito sua revolução. Na Europa e nas Américas só se falava no ideal de Liberté, égalité e fraternité. Em 1791 os franceses irão se encontrar com a verdade. E reagirão muito mal. Como um bando de revolucionários brancos deve tratar um bando de revolucionários negros? É o momento hipócrita dos governantes. Há uma verdade histórica que não pode ser negada: todo governo, em todos os lugares, em algum momento, age com hipocrisia. Não há exceção. Se hay gobierno, hay hipocrisia. Os revolucionários franceses mandaram uma tropa de 6.000 soldados para subjugar seus colegas revolucionários negros haitianos.

Um sacerdote vodu conclamou o povo a rebelar.

Também há outra verdade histórica tao escondida quanto a da hipocrisia: em todas as revoltas há uma nuance religiosa submersa. No caso haitiano, um sacerdote vodu, de nome Bois Caiman, discursou pela liberdade. Foi seu líder espiritual. Mais de 100 mil escravos se levantaram, liderados por Toussaint Louverture. Foram tão cruéis quanto seus senhores brancos. Estupraram, decapitaram, torturaram, seviciaram todos os brancos que passaram por eles. O mundo dos escravos foi sacudido. A notícia chegou a todos os cantos das Américas. Os revolucionários brancos franceses não suportaram a pressão: libertaram todos os escravos de suas colônias. Os portugueses ainda levariam cem anos para libertar seus escravos. A Princesa Isabel era boazinha, né? Uma santinha beata do pau-oco....
Mas há um final terrível para essa Revolução no Haiti. Os franceses e seus aliados europeus nunca perdoaram os negros revoltosos. Condenaram o país a sanções e artifícios bancários e exigiram uma série de reparações que se converteram em dívidas gigantescas. Somada à má qualidade de suas administrações, o Haiti sucumbiu. E nunca mais se ergueu.