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Em Pauta

Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída

Mário Sérgio Lorenzetto | 20/10/2015 08:31
Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída

O coração do altruísmo. É possível aprender a ser bom?

Muitas vezes, quando pensamos na aparência física de homens e mulheres bondosos, aqueles que se preocupam com o bem estar dos outros, raramente os imaginamos com uma postura firme, com um papel de liderança. Em geral, tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída. Até mesmo em experimentos científicos em que os participantes são convidados a imaginar a si mesmos mais generosos, levam os voluntários a "se encolher" fisicamente - na maioria das vezes sem se dar conta dessa atitude. Essa constatação revela uma crença equivocada - afinal, ser bom não é ser bobo. Essas pesquisas mostram que liderança e autoridade combinam muito bem com generosidade. E o melhor resultado das pesquisas: essas qualidades podem se e reforçadas.

Mas há alguns cuidados. As boas intenções são indispensáveis ao altruísmo, mas não são suficientes. É necessário agir e o ato deve ter um objetivo: contribuir para o bem estar do outro. Um ato não pode ser considerado altruísta se não comportar um risco e não tiver algum "custo", real ou potencial, para aquele que o realiza. Lembrem-se: liderança e autoridade combinam muito bem com generosidade. É tudo que falta em Campo Grande. Uma cidade dilacerada pela ausência de lideranças que a impulsionem ao bem estar comum. Só há egos inflados e interesses duvidosos.

Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída
Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída

O dia em que observadores de passarinhos detonaram a revolução comunista.

Eles eram 40 observadores de passarinhos. Provenientes da Alemanha, França, Itália, Rússia, Holanda, Suécia, Bulgária, Polônia e Romênia. Encontraram-se em uma pequena pensão na aldeia suíça denominada Zimmerwald - próxima à capital Berna. Eles abririam um novo capítulo na história mundial. Eles cantavam, bebiam e dançavam a noite toda. O único policial da aldeia foi reclamar à dona da pensão onde estavam os bagunceiros.

Havia uma disputa entre dois líderes dos observadores de pássaros: um russo chamado Vladimir Ilitch Oulianov e um suíço de nome Robert Grimm. Era apenas um disfarce. O que ocorria na pequena Zimmerwald era a reunião dos principais comunistas da época. Lenin, Trotski, Zinoviev, Radek, Herve, Rosa Luxemburgo, Jaurès....detonariam uma revolução que mudou o rumo, inicialmente, da Rússia e de depois de todo o planeta.

Essa reunião ocorreu há 100 anos. Setembro de 1915 foi o mês do "Canto de Zimmerwald". O propósito inicial era plenamente louvável - pacificar a Europa conturbada pela Primeira Guerra Mundial. Um manifesto, redigido por Trotski, denunciava a guerra como uma barbárie e conclamava pelo seu fim. Zimmerwald sempre detestou o rótulo de "vilarejo de Lenin". Chegou a votar uma lei para o esquecimento, bem como proibir monumentos e placas comemorativas.

Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída
Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída

Chile, Peru, Equador e México começaram avaliar seus professores. No Brasil o mau professor é igual ao bom.

O elemento crítico para termos uma educação de boa qualidade no Brasil é a avaliação do desempenho do professor. Pesquisas mostraram que há necessidade premente de termos padrões claros sobre o que é ensino excelente, bom, adequado e inadequado. Também já vai longe a época que deveríamos ter estabelecido recompensas por excelência do ensino e fazer sanções, inclusive com demissões, por repetido desempenho inadequado dos professores.

Chile, Peru, Equador e México tomaram medidas importantes ao introduzir a avaliação regular do desempenho do professor. O sistema "Docentemás", do Chile, com base em vídeos de professores em sala de aula que são avaliados por especialistas nacionais, é a melhor prática atual da América Latina. Nos Estados Unidos, a melhor prática é o sistema "Impact", introduzido em 2009, em Washington, incorporou uma avaliação rigorosa que, somente nos primeiros quatro anos, um grande número de professores ineficazes foi removido, bons professores melhoraram, professores excelentes receberam promoção e aumento salarial atraentes. No Brasil o mau professor é igual ao bom. Por quê? Embora esteja claro que a avaliação funcione, essa política desafia o status quo dos sindicatos dos professores. Eternizamos a lenda de que greve faz bom professor. A mediocridade impera.

Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída
Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída

"Produzindo certo", o incentivo de grandes empresas para as melhores práticas na cultura da soja.

Bayer, Yara, Unilever e Santander se uniram para estimular a cadeia da soja a se adequar às melhores práticas socioambientais e de gestão empresarial. Esse programa apoiará produtores na obtenção de certificação RTRS (Round Table on Responsible Soy), um selo de qualidade internacional. Engloba desde o uso responsável de agroquímicos até o compromisso de não plantar em área desmatada a partir de 2009.

No Santander o produtor com RTRS pulará a fila da burocracia. A Unilever só comprará soja de quem tiver a certificação e pagará 1% a mais sobre a tonelada. Por sua vez, a Yara contribuirá com assistência técnica e a Bayer com assistência através de seu programa Valore. É um pacote "ganha-ganha" para todo mundo.

Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída
Tendemos a atribuir aos "bons" uma expressão corporal tímida, um tanto retraída

Não precisamos de heróis, nem de messias salvadores da pátria. E muito menos de mentirosos.

Os nossos problemas são sobretudo políticos. A população sabe disso. As manifestações e as pesquisas mostram isso. É difícil acreditar no nosso grau de amadurecimento, mas a pauta política se sobrepõe ao terror do desemprego e da inflação.

O mundo dos políticos entrou em um labirinto sem porta de saída por um tempo indeterminado. Nossos atores são medíocres, quase mambembes, se é que um dia tiveram o semblante de estadistas - o perderam. Se algo deveria diferenciar as democracias do século XXI dos antigos regimes totalitários seria ter se livrado do perigo dos messianismos, sejam religiosos ou ideológicos. Eles se comprovaram, no mínimo, incompetentes. Este século se tornou incompatível com dogmas políticos, à esquerda e à direita. Os governantes não são ungidos por Deus e devem responder tão somente a dois imperativos: o da Constituição e do bom senso de trabalhar em prol dos que os elegeram. Não precisamos de mentirosos em qualquer instância - tanto no município como em Brasília. Nossos políticos têm de aprender que quanto mais perfeita é uma democracia, menos brilho têm os seus representantes. Sem privilégios ostensivos, sem mansões faraônicas, sem carros do mais elevado luxo, sem motoristas a conduzir suas esposas às compras. As democracias plenas não precisam de heróis, nem de messias salvadores da pátria, nem tampouco de pais ou mães dos pobres. Precisam de competência e justiça. Pode parecer simples, mas na prática o discurso dos políticos em geral é ocioso. Ignorar isso é abrir a porta para a irritação popular.

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