Tesourada silenciosa: cortaram fortemente as verbas de vários programas sociais
A tesourada silenciosa nos programas sociais.
O novo orçamento da União traz novidades que não estão sendo debatidas em público e nem no Congresso: cortaram fortemente as verbas de vários programas sociais. Em verdade, os cortes estão ocorrendo desde o início do ano. De janeiro a agosto, a saúde gastou R$3 bilhões a menos que no mesmo período do ano passado. A educação também recebeu uma tesourada de mais de R$4 bilhões e o Minha Casa Minha Vida recebeu 31% a menos em agosto de 2015 comparado com o mesmo mês do ano anterior.
No orçamento para 2016, o Programa Ciências Sem Fronteira receberá R$2 bilhões a menos que neste ano e o Pronatec ficará com outros R$2 bilhões a menos. Os cortes estão ocorrendo sem alarde. O governo vem executando um forte ajuste fiscal nas áreas sociais e nos investimentos da União - no total caíram 39% de janeiro a agosto. Se corta tem de divulgar, sob pena de continuar passando a ideia de um ajuste fiscal frouxo e sem um compromisso de Dilma com o reequilíbrio das contas. Tudo para não alvoroçar o PT e movimentos sociais. Enquanto isso, debatem à exaustão cortes determinados pela pauta política ou melhor, dos políticos - a diminuição de ministérios.
Futuro dos governantes será de tempos de cortes de benefícios e vantagens.
Desejam mais um "salvador da pátria", outro "caçador de marajás"? Continuem a encontrar alternativas pelo aumento de receitas, com impostos ou qualquer alternativa. Existia uma perspectiva de que o país cresceria de forma substancial por muitos anos e de que as recitas governamentais não cessariam de crescer. Essa visão otimista de nação permitiu que a distribuição de privilégios e vantagens permanecesse exagerada para vários grupos, dentre os quais funcionários públicos e profissionais liberais ligados aos governos. A visão mais otimista, todavia, estava com as empresas que trabalham com governo.
A realidade não confirmou o sonho. O país não cresceu em 2014. Está e continuará em recessão até organização em contrário. Surpreende que, mesmo nesse ambiente, diversas camadas continuem perseguindo (algumas conseguindo) privilégios com os cofres governamentais. Especificamente, a capital do Estado está integralmente desorganizada e, provavelmente, à beira da falência. O novo mandatário a ser escolhido pela população terá de, obrigatoriamente, cortar benefícios e vantagens sob pena de nos perpetuarmos na mesma situação pré-falimentar. É claro que essa capacidade não pode ser almejada pelo prefeito que ora retorna. Ele e sua equipe só gozam de um conhecimento e desejo: às armas, à guerra, ao litígio continuado.
Fazer carreira em uma só empresa é uma ideia comprometida desde 1970.
Até os anos 1950 fazer carreira em uma só empresa era a regra, os funcionários começavam a vida profissional em uma empresa e nela aposentavam. Todos tinham horários fixos. Os funcionários passaram a ganhar mais autonomia e fez a época que se estabeleceu o conceito de estar satisfeito no local de trabalho. A partir dos anos 1970 a concorrência começou a aumentar, as pessoas estavam mais instruídas e as empresas dão os passos iniciais para o enxugamento dos quadros - ocorrem muitas demissões. Como não dava para garantir emprego a todos, a ideia de que os profissionais podem mudar de trabalho com mais velocidade ganha força. Nasce o conceito do profissional como responsável por sua carreira. A partir do novo século, com fusões, aquisições e mercado globalizado, as mudanças ocorrem com frequência, não permitindo planos de carreira longos. Surge o conceito de que empresa e funcionários são apenas parceiros momentâneos, enquanto os interesses combinem.
É mais fácil perder um reino do que mudar um hábito.
O rei Fernando VI, da Espanha, dizia que: "é mais fácil perder um reino do que mudar um hábito". O mensalão, sozinho, não mudou práticas e culturas arraigadas, mas possibilitou o surgimento e crescimento de um conjunto contemporâneo de fatores: as leis de transparência, a ampliação dos poderes da Polícia Federal e do Ministério Público e o uso intensivo de tecnologia. Quais os ganhos para a sociedade que trarão o processo Lava-Jato?
Lava-Jato dará espaço às empreiteiras estrangeiras?
Como terminará o caudaloso processo apelidado de Lava-Jato e seus satélites, que começarão a orbitar com a nova decisão do STF em retirar alguns nacos do original? A resposta é uma só: ninguém sabe. Mas, muito além das prisões de empreiteiros e políticos, está a economia para o país que essa ação poderá resultar.
Desde a época da ditadura militar há um grande acerto entre essas empreiteiras e governantes para que somente um pequeníssimo grupo conquistasse a quase totalidade das grandes obras nacionais. Com a Lava-Jato esse ambiente de monopólio está sendo dissolvido. As especulações e debates estão acessos em Brasília e nos principais centros de interesse. A pergunta é uma só: por quem serão construídas as grandes obras que o país necessita?
A primeira linha de pensamento diz que grandes empreiteiras chinesas ocuparão uma parcela desse espaço de nossa economia. Para o ex-ministro das Relações Exteriores, Rubens Ricupero, atual membro do conselho da Odebrecht esse é "um absurdo que só tem inconvenientes". Ele diz que "seria criminoso liquidar este patrimônio que são as empresas de construção civil. Este é o único setor em que o Brasil exporta serviços, é um setor estratégico". Na outra ponta, seu colega de Itamaraty, Roberto Abdenur, ex-embaixador na China, considera o investimento estrangeiro bem-vindo. Em sua opinião há um encolhimento das grandes empreiteiras, não só como decorrência da Lava-Jato mas pela associação de fatores técnicos como a taxa de juros e as dificuldades de captar dinheiro no exterior. Com chinês ou sem chinês, as obras ficarão mais baratas e é isso que passará para a história.