Três Lagoas: cabra macho aos dez anos de idade
Uma das melhores historias de Três Lagoas traz uma breve fotografia da cidade em 1.917 e a coragem de um menino de apenas dez anos de idade. Narrada por Umberto Puiggari, que garante ter realizado exaustiva pesquisa, quando aquela cidade era apenas um vilarejo. A população, nessa época, era quase toda constituída por operários e empregados da Estrada de Ferro Itapura a Corumbá, depois denominada Noroeste do Brasil. O passageiro, ao sair da estação, ainda provisória, entrava em uma larga praça, tomada pelo capinzal, riscado de trilhas para pedestres.
Comendo Maria Isabel.
À esquerda da estação, havia uma pensão de propriedade de um italiano descrito como "jovial e gordo”, de nome Carrato. Quase ao lado, um cinema, igualmente modesto, que possuía na entrada, um pequeno bar. Em frente, outra pensão, de propriedade de Dona Francisca, onde era oferecido o melhor almoço da cidade. Um arroz com charque, que em Três Lagoas era denominado Maria Isabel. Também haviam alguns armazéns e botecos, onde abundava a cachaça vendida aos copos.
Sarará, o valentão de T.Lagoas.
No boteco do Matias estava um valentão da região. Indivíduo de cabelos e bigodes ruivos, estatura mediana, musculoso, não enjeitava briga quando o álcool lhe subia à cabeça. Certo domingo, sentado em uma pilha de três sacos de arroz, Sarará contava suas proezas, quando ali chegou um menino franzino e pálido, de nove a dez anos. Sarará interpelou o garoto: “Queres um gole de galipola (cachaça)?”. O menino respondeu que era muito novo para beber cachaça. O valentão exigiu que o menino tomasse um gole. Ao não ver sua exigência atendida, atirou o liquido de um copo nos olhos do menino. Tropeçando, retornou a sua casa.
Tiros no machão.
Lá chegando, entrou no galpão procurando uma velha garrucha de dois canos. Carregou a arma e voltou ao boteco. Joãozinho colocou uma moeda no balcão e pediu um copo de cachaça. Sarará o provocou: “Já aprendestes piazinho?“ Joãozinho pediu ao dono do boteco que colocasse um punhado de sal no copo de cachaça. Ninguém entendeu. Exigindo que o Sarará tomasse a bebida estranha, não obteve concordância. Rápido, em um gesto violento, jogou a cachaça nos olhos de Sarará e, sacando a garrucha, deu dois tiros no valentão. Uma das balas raspou-lhe o rosto e arrancou uma parte da orelha. O outro tiro, raspou o crânio. Sarará foi levado à enfermaria da estrada, ainda não havia um hospital na vila. Joãozinho foi levado à delegacia. Tanto o delegado como o promotor assinaram um documento arquivando o pedido de prisão do menino e, que termina, com a frase: “Herói aos dez anos”. Joãozinho estava indultado… e aplaudido.