Vavilov morreu de fome, mas seus estudos nos deram comida
O russo Nikolái Vavilov é o pai da botânica das espécies cultivadas. Isso significa que se você come batata, milho ou soja, deve a ele. Estudou agronomia em Moscou e logo foi à Inglaterra trabalhar com William Bateson, o homem que criou o termo "genética". A maior aportação à ciência feita por Vavilov foi criar um gigantesco banco de sementes e à partir dele, criar a teoria de que quanto mais antigo fosse o uso de um cultivo, maior seria a biodiversidade encontrada nesse lugar. Isso significa que, só depois de Vavilov, foram procurar as melhores variedades de soja na China; as de milho no México e na América Central; e as variedades de batata nos Andes. Antes dê Vavilov, essas plantas tinham péssima aparência e gosto pior ainda. Mas esses são apenas uns exemplos. O trabalho de Vavilov é muito maior. Ele percorreu o mundo, inclusive estudou no Brasil.
Morreram de fome mas não comeram as sementes.
O banco de sementes de Vavilov foi protegido e preservado ao longo dos 28 meses do cerco de Leningrado que matou em torno de 800 mil russos de fome. Inicialmente, os russos retiraram as obras de arte do Museu Hermitage, mas não tomaram qualquer medida para preservar as mais de 250 mil sementes, raízes e frutos do banco de Vavilov. Um grupo de cientistas, sem o apoio governamental, teve de levar esse banco para os porões de um prédio e se revesar em turnos para protegê-lo. Eles se recusaram as comer as sementes armazenadas durante o cerco. Nove deles morreram de fome.
Vavilov morreu de fome.
Vavilov era um comunista convicto. Mas nunca deixou que seus estudos se interpusessem com seus pensamentos políticos. Ele foi o único cientista de fama a criticar abertamente Trofim Lysenko, um agrônomo amigo de Stalin. Esse Lysenko negava a existência da genética de Mendel e da evolução darwinista, a que chamava de capitalistas. As críticas ao homem forte da agricultura stalinista levaram Vavilov à cadeia, onde morreu, como preso político, devido à fome. Aqueles russos que são diretamente responsáveis pela comida em nossas mesas, morreram de inanição.