Vivem caçando "lambaris", não se aproximam dos "tubarões"
Derrubem as pirâmides. O crime é um negócio.
É importante compreender. O crime entrou em uma nova fase, há anos. Numa nova era. Novos homens e mulheres. Uma maneira diferente de trabalhar. Há muito mais jogadores no mundo do crime do que há vinte anos. As gangues estão aí para ficar. Há gangues de jovens e de presidiários e elas se organizam a cada dia com os pressupostos do mercado.
Os grupos criminosos vivem dentro da lei suprema do mercado. Pois o crime é exatamente isso, a essência da economia de mercado. O crime é bem regulado, livre, segue as leis da oferta e da procura. Sem intervenção dos governos. Sem planejamento governamental, sem estar sob a mercê dos decretos ou tutela dos governantes. No mundo do crime é o mais forte quem ganha. Escolhem a área de atuação em função da relação custo-benefício. Minimizam os custos de oportunidade. Investem sem parar, independentemente de crises econômicas. Injetam capital em novos segmentos. Contratam consultores e pessoas razoavelmente qualificadas. Trabalham por micro células. Aprenderam muito com os esquerdistas que encontraram nos porões da ditadura. Assemelham-se às redes de terrorismo muçulmanas. Eles mal se conhecem e, apesar de tudo, trabalham pelo mesmo objetivo. Se uma célula para de funcionar, são presos e isso não afeta o quadro geral. Isso é um aglomerado. A velha organização hierárquica ficou para trás. A velha máfia deixou de funcionar. Dividem os mercados, os bairros, as cidades e os estados. Uma organização cuida da maconha em alguns bairros e cidades, outra da cocaína e maconha em outros bairros, outras do contrabando de cigarros e bebidas e as mais ricas e organizadas do tráfico de armas e os "territórios de domínio" raramente são desrespeitados. Há uma imensa complexidade organizada.
Utilizam métodos modernos de armazenamento. São os campeões da logística de transporte. Conhecem estratégias de venda, truques de revenda. Como recrutar novas pessoas. Também utilizam meios eficazes de pagamento. "Big business". Implodiram as pirâmides, soterraram a velharia hierárquica. Construíram negócios utilizando modelos do mundo contemporâneo. Tudo que as polícias estaduais não conseguiram entender até hoje. Vivem caçando "lambaris", não se aproximam dos "tubarões".
O ódio ao islamismo surgiu na Europa pela falta de dinheiro
O sistema romano de cunhagem de moedas sobreviveu na Europa mesmo com a queda do Império Romano. Os preços ainda estavam sendo cotados em termo dos "denarii" (a moeda de prata romana) na época de Carlos Magno (768 a 814 d.C.) A dificuldade foi que, na época da coroação de Carlos Magno como "Imperador Augustus" (um rei que mandava nos demais reis europeus), havia uma escassez crônica de prata na Europa ocidental. A demanda pelas moedas era maior nos centros comerciais muito mais desenvolvidos do Império Islâmico, que dominava quase todas as cidades do Mediterrâneo e o Oriente Médio, de modo que a pouca prata existente saia da Europa atrasada. O denarius, a moeda de prata, era tão raro nesses séculos que bastavam apenas 24 deles para comprar uma vaca. Em algumas partes da Europa, as pimentas que saiam da Índia e as peles de esquilo substituíram os denarius. Em outras, as transações começaram a ser feitas utilizando a terra como moeda.
A primeira tentativa de superar a falta de prata europeia foi feita com a venda de escravos, principalmente escandinavos que eram trocados por prata em Bagdá, capital iraquiana e em Damasco, capital da Síria. Córdoba, o mais importante centro do islamismo na Espanha, e Cairo, no Egito, eram os centros secundários de troca de escravos brancos escandinavos por prata. Córdoba ainda era o centro de troca de escravos brancos por ouro africano. Quase ao mesmo tempo em que vendiam escravos, os europeus iniciaram a venda de madeira (que era rara nos centros islâmicos) para adquirir um pouco de prata.
Os europeus acabaram declarando guerra ao mundo mulçumano. Do mesmo modo que as conquistas subsequentes, as cruzadas serviram tanto para resolver a penúria da prata europeia quanto para tentar convertê-los ao cristianismo.
Brasileiros X portugueses: quem pode rir mais de si próprio?
Os brasileiros herdaram dos portugueses o costume de rirem de si próprios. Em Portugal, naquelas piadas que começam com "estava um inglês, um espanhol e um português...", é ao português que cabe sempre o papel de tolo. Em Portugal não se contam piadas de brasileiros, contam-se piadas de portugueses. No Brasil, já se sabe, para o bem ou para o mal, nada é levado excessivamente a sério. A não ser o futebol. E para ambos, portugueses e brasileiros, o futebol é a mais séria das coisas menos sérias da vida.
Ou nem o futebol: basta ver que alguns brasileiros se deram ao trabalho de criar um site que vai atualizando com rigor matemático o placar do jogo entre Alemanha e Brasil na Copa do Mundo. Neste momento está: Alemanha 70.000 X 10.000 Brasil. E o jogo mais dramático e vergonhoso da história da gloriosa seleção brasileira ainda cunhou uma das últimas expressões dos brasileiros que aludem ao futebol. Quando em uma conversa surge um daqueles silêncios constrangedores, um dos participantes quebra-o com um "E entretanto..." , ao que o outro completa: "...e entretanto, gol da Alemanha" . Deveríamos propor aos portugueses um campeonato: quem pode rir mais de si mesmo? Não é só o Brasil que não é sério.
As galinhas portuguesas assustaram os indígenas
Na Europa a carne da galinha não era um alimento cotidiano, mas uma comida especial. Era, principalmente, dada aos doentes. Também era servida em dias importantes para pessoas igualmente importantes. O manjar branco, um dos pratos mais refinados da era dos descobrimentos, levava, como ingrediente principal, peito de galinha.
A galinha foi um dos primeiros animais europeus a serem introduzidos no Brasil. Ela veio na armada de Pedro Álvares Cabral. Os índios se assustaram com o animal, que julgaram estranhíssimo. Mas logo já os estavam criando pelo mato adentro. Não comiam nem o animal nem os ovos. Apenas usavam como moeda, para trocar com os colonos e viajantes por utensílios de ferro. Uma pequena faca por uma galinha ou cinco anzóis por três galinhas pequenas. Os índios também tinham horror aos ovos das galinhas. As mulheres indígenas demonstravam um profundo desagrado quando viam um português comendo quatro ou cinco ovos de galinha em uma única refeição. É que elas achavam que cada ovo equivale a uma galinha; portanto, um só ovo seria suficiente para alimentar duas pessoas. Os indígenas gostavam dos ovos de emas, de cágados e de tartarugas. Os de cágado eram "delicatessen" indígena, os índios os engordavam apenas para apanhar seus ovos.
Um porre entre portugueses e índios
Ao descreverem as frutas brasileiras, os portugueses observavam que os índios as usavam para fabricarem "seus vinhos". Os portugueses chamavam de "vinho” todas as bebidas fermentadas ou alcoólicas. Para eles, o famoso cauim de mandioca, era "vinho". Bebidas feitas com caju, abacaxi, mangaba...todas eram "vinhos". Os índios faziam "vinhos" com praticamente todas as frutas que comiam.
Faziam também um "vinho" medicinal com mel de abelhas. Aliás, é importante entender que para os europeus em geral, as bebidas alcoólicas eram, então, consideradas medicinais e faziam bem à saúde. Um padre narra que o cauim de mandioca era "tão fresco e medicinal para o fígado que a ele se atribui não haver entre eles [índios] doentes do fígado". Os únicos europeus a reclamar do consumo de "vinhos" feito pelos índios, foram alguns padres jesuítas.
Geralmente avessos aos animais e plantas trazidos pelos portugueses, os índios passaram a usar a cana-de-açúcar na produção de seus "vinhos". Eles iam aos engenhos apanhar a cana para preparar a bebida que era nova para eles. Provavelmente a única influência portuguesa que assimilaram.
Também é fundamental saber que os índios não bebiam como os europeus, diariamente. Reuniam-se em festas que duravam dias, quando bebiam, ininterruptamente, todo o estoque de bebidas produzido. Um português da época dos descobrimentos conta: "Juntos em roda, muitos homens e mulheres estão nesse canto todo um dia e noite inteira, sem dormirem, bebendo sempre de ordinário muito vinho até caírem todos por terra...".
As diferenças na ingestão de bebidas alcóolicas eram imensas: os portugueses bebiam todos os dias, pouco ou em excesso, variando na quantidade consumida. Os índios bebiam somente em suas festas, quando ocorria o consumo total da bebida de muitos potes grandes.