Caiu na boca do povo: “Chora, bonequinha!”
Após assistir um trecho de um reality show, com grande audiência, na qual a participante que acabara de ser eliminada do jogo se autoagride mediante uma situação de frustração e derrota, eu me questionei: “Meu Deus, o que está acontecendo com essa geração?”
A fragilidade emocional das crianças e jovens, fruto da falta de valores educacionais que nos preparam para situações desafiadoras da vida, pode ter diversas causas, tais como: pressão acadêmica, ausência de convívio familiar, experiências traumáticas, dificuldades de relacionamento, questões de autoestima, bullying, problemas de saúde mental, uso abusivo de tecnologias, falta de atividades esportivas, entre outros fatores.
Eu tenho certeza de que todo mundo conhece alguém extremamente inteligente, bem-sucedido (a) profissionalmente, mas pouco inteligente emocionalmente. A inteligência emocional envolve a capacidade de reconhecer, compreender e lidar com as emoções de forma saudável e eficaz; a fragilidade emocional pode aumentar o risco de desenvolver depressão e ansiedade. Quando uma pessoa tem dificuldade em lidar com suas emoções, como sentimentos de tristeza, estresse, raiva, frustrações, medo ou solidão, isso pode levar a um estado emocional mais vulnerável. Essa vulnerabilidade emocional pode contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como a depressão e a ansiedade.
A adolescência (10 a 19 anos) é um momento único, que molda as pessoas para a vida adulta. Enquanto a maioria dos adolescentes tem uma boa saúde mental, múltiplas mudanças físicas, emocionais e sociais, incluindo a exposição à pobreza, abuso ou violência, podem tornar os adolescentes vulneráveis. No Brasil, segundo o relatório Situação Mundial da Infância 2021, estima-se que quase um em cada seis meninas e meninos entre 10 e 19 anos de idade, viva com algum transtorno mental, parcela mais exposta ao risco de automutilações e depressão.
A manutenção dos relacionamentos familiares, sociais (incluindo atividades esportivas) e afetivos, e as trocas interpessoais são essenciais para o bem-estar e a qualidade de vida de pessoas de todas as idades.
Quem nasceu após 1995, provavelmente não se lembra como era a vida antes da internet. Estar constantemente conectado por meio de smartphones ou de outros dispositivos, é como ter o mundo nas mãos. Nesse contexto, compreender o impacto da tecnologia na saúde mental dos jovens e adolescentes é essencial para encontrar soluções de tratamento que reduzam essas influências na vida desse grupo. Entre as suas consequências, fica evidente a fragilidade emocional; há uma clara relação entre o uso excessivo de redes sociais, jogos violentos e aplicativos de filmes e séries, com o surgimento de sintomas de depressão, ansiedade patológica, isolamento social e privação de sono. Na juventude, o excesso de tecnologia faz com que o indivíduo passe a maior parte do tempo interagindo virtualmente, o que afeta o desenvolvimento e perda de experiências sociais muito importantes.
Acredito que os (as) adolescentes e jovens que se sentem offline em relação à vida, se valem das redes sociais para tentar amenizar a dor, tentando compensar o vazio emocional ou habilidade social menos desenvolvida. As relações humanas devem ser vividas com a intensidade devida, principalmente no seio familiar, antes do convívio escolar.
Alguns valores são bases fundamentais para a vida inteira, por exemplo: equilibrar a liberdade, estipulando limites; permitir o aprendizado por intermédio das frustrações inerentes a cada faixa etária; estabelecer, por meio da empatia, um bom relacionamento com a sociedade e manter sempre um canal de diálogo aberto. Os pais que se esforçarem pare seguir esse caminho, conseguirão criar as suas crianças para viverem em equilíbrio, preparados, de corpo e a mente, para os momentos de perdas e frustrações, tendo a humildade de aprenderem e amadurecerem com os erros e adversidades, atenuando os reflexos negativos que podem trazer problemas emocionais.
Pai e mãe, eu sei que o amor incondicional por um filho e/ou filha gera uma superproteção, e que é um chavão dizer que a gente não cria filho para si, a gente cria filho para o mundo, mas deixem as suas crianças viverem as frustrações sozinhas, não as poupem disso porque o mundo não as poupará. Se elas caírem, não as levantem, ensinem a se levantarem sozinhas. Tornem os seus filhos e filhas autônomos (as) e libertos (as) até das suas ordens, pois a partir de certa idade, só valem conselhos.
(*) Carlos Alberto Rezende é conhecido como Professor Carlão. Siga no Instagram @oprofcarlao.