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Finanças & Investimentos

Equilíbrio: poupar para o futuro e viver o presente

Por Emanuel Gutierrez Steffen (*) | 01/07/2016 08:22

Gustavo Cerbasi é um guru das finanças pessoais. Seu maior best-seller, Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, já vendeu mais de um milhão de exemplares e, segundo ele, já ajudou muita gente a evitar um desastre no relacionamento.Sua trajetória pessoal e profissional lhe dá um bom gabarito para falar de dinheiro e oferecer conselhos sobre vida financeira.Nesta entrevista, ele fala sobre qualidade de vida e como devemos valorizar o momento presente, sem deixar tudo para amanhã ou ano que vem. Acompanhe:

Eu dei consultoria entre 2002 e 2008. Nesse período, percebi que aquelas pessoas que se saíam muito bem e poupavam muito mais do que o recomendado, mais cedo ou mais tarde se arrependiam. Geralmente esse arrependimento estava ligado à perda de uma pessoa querida ou de uma oportunidade. Por exemplo, tudo que se queria era fazer uma viagem de 50 anos de casamento e de repente a pessoa amada morria.

Aí a pessoa não só deixava de poupar como tendia a se desfazer muito rápido da sua poupança em resposta a uma frustração. O sentido da vida não estava no presente, mas no futuro.Quando comecei a constatar casos assim, passei a valorizar ideia de que planejamento financeiro não é para o futuro, é para o presente. O futuro é consequência de um bom presente. É parecido com a minha ideia de educação dos filhos [ele tem três]: eu não estou nem um pouco preocupado com o futuro deles, estou preocupado com o presente, de ser um bom pai, de dar um bom exemplo, de dar uma boa educação. Porque crianças bem-educadas vão se virar no futuro.

Eu batalho contra a ideia de tirar do presente e colocar no futuro. Quero que as pessoas vivam seu presente da melhor maneira, cuidando para que esse presente não falte no futuro. É quase a mesma coisa, né? Mas as escolhas que as pessoas fazem a partir dessa reflexão são diferentes. Veja, quando você pensa em presente bem vivido, não procura coisas supérfluas a serem cortadas. Valoriza o que te faz bem, que podem ser cuidados pessoais, lazer, curtir shows.

As pessoas que pensam só em poupar para o futuro tendem a cortar o que é fácil. Mas quando você corta a manicure, o cafezinho e as viagens de férias fica, apesar de construir racionalmente um futuro, emocionalmente abalada.A verdade é que ninguém é disciplinado para poupar. É algo que você constrói e a principal base da disciplina é a motivação. Se você quer se alimentar bem, tem que gostar do que come. Se você quer manter a disciplina da poupança, não pode sentir como se estivesse destruindo o presente. Porque aí, mesmo que racionalmente você queira poupar, emocionalmente seu cérebro começa a se defender. A pessoa que deixa de lado o que lhe dá prazer para organizar as contas vai se sentir ansiosa e frustrada. Precisamos ter válvulas de escape para a vida estressante que levamos. A vida burocrática, de acordar, comer, trabalhar e dormir só funciona na matemática. Você pode se cuidar. Isso às vezes falta para as pessoas que se organizam de uma maneira excessivamente racional.

A fórmula para uma vida mais rica é adotar uma vida mais simples em termos de custo para não perder em experiência e qualidade de vida. Em geral, a regra é simples: você tem um carro de R$ 60 mil, venda e compre um de R$ 40 mil. Tem casa de R$ 500 mil, compre ou alugue uma de R$ 400 mil. Quando você compra um carro mais barato vai economizar IPVA, seguro, não vai ficar com tanto medo de estacionar na rua. Às vezes, uma ou duas escolhas na sua vida trazem uma cadeia de redução de custos que vão facilitar muito a administração do orçamento.

Por isso, prefiro morar numa casa um pouco menos confortável e sair dela no fim de semana do que pagar uma casa melhor e não ter lazer ou uma vida bem cuidada. Aí a conta fecha com uma facilidade incrível. A primeira coisa para poupar é ter certeza de que você não vai gastar mais do que ganha. O único jeito de ter essa certeza é ter certa flexibilidade no orçamento, porque imprevistos acontecem sempre. Só que o brasileiro - que tem o orçamento todo tomado por prestações, porque aprendemos a comprar a prazo e nos tornamos viciados nisso - vai ter muita dificuldade para lidar com imprevistos.

Em segundo lugar, sim, para poupar é necessário ter um rótulo para cada centavo. Vou poupar para quê? Você precisa de objetivos. Tem também outra lição importante que é “pague-se primeiro”. Guarde o dinheiro para os sonhos antes de qualquer coisa. Ou seja, quando o salário cair na sua conta, você já reserva x reais para próxima viagem, y para a faculdade do filho. Coloque logo na poupança ou na aplicação que você achar melhor.

Se no final do mês faltar dinheiro para pagar as contas do dia-a-dia, tome emprestado.Você pode pensar: a aplicação rende 0,7% ao mês e o empréstimo me custa 3%, por que vou tomar emprestado? Porque a aplicação é por 10, 15 anos. O dinheiro emprestado, se você for consciente, vai lidar rapidamente com aquilo. Se for um valor alto, os juros serão o preço a pagar por uma falha de planejamento. Matematicamente, parece que estou indo pelo caminho errado, mas conscientemente é o preço que eu pago para garantir um sonho e garantir um sonho vai trazer mais motivação para me manter mais disciplinado. Pague-se primeiro é orientação poderosa. O empréstimo eventual, desde que seja para gerar renda, montar negócio ou preservar grandes sonhos eu acho razoável. Empréstimo para consumo, esse sim é pecado.

Fonte: Gustavo Cerbasi /Época Negócios
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(*) Emanuel Gutierrez Steffen é criador do portal www.mayel.com.br

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