Em meio à pandemia, Pantanal permanece na memória e inspira
Desde a pré-história a natureza, com suas cores e formas, serve de inspiração para a arte. Presente nas mais variadas vertentes, também é um tema recorrente na música. Em Mato Grosso do Sul, diversos artistas utilizam o Pantanal como inspiração para suas criações. Cantores e cantoras falam de sua beleza, sua biodiversidade, cultura, folclore, lendas e até conservação.
Um dos primeiros músicos a falar do nosso bioma, senão os primeiros, foi o Grupo Acaba, que recebeu a alcunha de Cantadores do Pantanal. Eles começaram em 1966, anterior à divisão do Estado, aqui em Campo Grande.
O povo pantaneiro, fauna, flora, preservação, alegria e as dores da raça pantaneira estão presentes em suas letras, muitas compostas após pesquisa de campo, vivências e observação das manifestações culturais e folclóricas da região. Eles colocam em debate a defesa do meio ambiente e da cultura local.
Ainda estão na ativa. Em 2017, após completarem 50 anos de estrada, foi lançado um DVD contando um pouco de sua história, com muitas das imagens gravadas em Corumbá, à beira do Rio Paraguai.
Eles não foram os únicos influenciados pela nossa natureza. Na década de 1970 fomos presenteados com Trem do Pantanal, criação de Geraldo Roca e Paulo Simões. Depois veio a canção Adeus Pantanal, de Itamar Assunpção, mais conhecida pela interpretação de Tetê Espíndola e várias outras surgiram.
Em 2015, a Mupan-Mulheres em Ação no Pantanal, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Green Beat organizaram uma expedição pela região, denominada Pantanal Poética, que contou com o apoio do Programa Aliança Ecossistemas. Ambientalistas, pesquisadores e artistas se juntaram com o objetivo de transcender os debates segmentados, trazendo diferentes visões e saberes para co-desenhar novos caminhos e inspirar ações.
Entre os participantes estavam o trio Hermanos Irmãos, formado pelos músicos Jerry Espíndola, Rodrigo Teixeira e Márcio De Camillo, a jovem percussionista campo-grandense Ju Souc, Ruben Goldin, músico argentino, entre outros músicos do Paraguai, Bolívia e Holanda. Foram quatro dias de expedição em um barco que adentrou o Pantanal, que inspirou a criativa tripulação a compor 10 músicas.
Ainda agora, quando não se pode ir à região devido a pandemia mundial, o lugar ainda é uma inesgotável fonte de inspiração. “Mesmo longe ele está dentro de você. O Pantanal é um dos lugares que quando você interioriza a essência não sai mais de dentro do ser”, filosofa Teixeira, que foi a primeira vez para a região na década de 1980.
Para Camilo, o bioma é ainda mais íntimo. “O Pantanal sempre esteve na minha vida. Meus avós paternos saíram da Espanha e chegaram no Pantanal pelo rio Paraguai, meu avô ganhava a vida vendendo mantimentos pelas fazendas da região do rio Negro, meu pai partiu nas águas do Pantanal. Tenho esse santuário na minha imaginação desde sempre. Quando defini meu estilo musical, na adolescência, a música da região e seus protagonistas foram importantíssimos”, recorda.
Ouvindo nossas músicas podemos entender alguns dos motivos para avaliarmos nossa conduta em relação a conservação do bioma. Em tempos de isolamento social, é bom dedicar alguns momentos do dia a essas canções, as que exaltam a beleza de nossa terra, para lembrarmos que devemos agir para que ela permaneça imponente.