Moradores escondem crianças em guarda-roupa e idoso sofre choque durante chuva
Casos aconteceram em razão das chuvas que atingiram algumas regiões da Capital neste sábado
As 80 famílias que vivem na Favela Cidade dos Anjos, na Rua Segismundo Tavares Santana, no bairro Parque Lageado, viveram momentos de terror neste sábado (3). Ao Campo Grande News, eles disseram que a intensidade do temporal na região sul da cidade fez com que todos se unissem para reestruturar a favela, tomada por galhos de árvores, poças de lama, barro e muita sujeira. Dentre tantos reparos, a comunhão serviu para proteger as crianças dentro de um guarda-roupas e também para auxiliar um idoso a se recuperar de um choque elétrico.
Mãe de quatro filhos, Gleiciane Garrido, de 31 anos, precisou da ajuda do esposo, Alexander Vallejo, de 29, para colocar os quatro filhos dentro do guarda-roupas da família. Durante a parte mais intensa da chuva, por volta das 13h, Alexander e Gleiciane não titubearam para “enfiar” os filhos, com idade entre 11, 7, 3 e apenas 16 dias, dentro do móvel.
“Foi o recurso que a gente tinha. Quando a chuva apertou, nossa primeira ideia foi justamente esconder as crianças dentro do guarda-roupas, disse Gleiciane, que trabalha como limpadeira, ao passo que o marido garante o sustento em uma empresa de recicláveis.
Ele disse que quando precisa reestruturar o barraco com lonas e materiais, sempre busca ajuda dos amigos, seja em grupos de redes sociais ou de forma direta. Diante de toda a lama e galhos espalhados por toda a comunidade e em cima da bota que usa nos pés, ele diz que os moradores vivem uma relação "extrema" com as árvores da comunidade.
“No período quente, elas (árvores) são nossa maior aliada e nos ajudam na proteção contra o vento. Quando chega a chuva, se tornam as maiores vilãs, justamente porque podem derrubar nossos barracos”, falou.
Instalada em frente à casa de Gleiciane, Josiane Garrido Arraes é quem fala sobre a complexidade de viver no local. Com o barraco “em pé”, ela compartilha da situação vivida pela irmã. Enquanto mostra os estragos causados pela chuva e conta como ajudou a “embrulhar os sobrinhos”, caminha até o vizinho Antônio Malaquias Gumercindo, de 65 anos, que vive a poucos metros de sua casa.
O idoso foi vítima de um choque elétrico durante a chuva. Passado o susto, ele conta que nunca havia tomado um choque tão forte. Segundo Antônio, ele pensou que fosse morrer.
“Eu encostei em um fio de energia enquanto tentava remover os galhos da árvore que estavam na frente do barraco. Levantei justamente para fechar a porta de casa, senão a chuva levaria tudo embora”, falou.
À reportagem, ele disse que ficou “pranchado" no chão por cerca de quatro minutos até ser salvo pelos muitos garotos que vivem por ali, que se arriscaram e puxaram o fio para longe da árvore. Na comunidade há quatro meses, ele vive junto do irmão, Luiz Carlos Malaquias, de 64 anos.
Questionado sobre as condições de moradia, ele disse que o acolhimento do irmão foi a alternativa encontrada após ser mandado embora de casa pela esposa. Na favela, ambos vivem por meio de doações, além do benefício do Loas (Lei Orgânica de Assistência Social), recebido por Luiz.
A situação dos irmãos é a mesma vivida por Camila Alves, de 33 anos. Dona de casa e mãe de cinco filhos, ela vive junto do marido e dos cinco filhos. Vice-líder da comunidade, ela diz que a Cidade dos Anjos foi a alternativa encontrada pela família após não conseguirem mais pagar o aluguel da casa em que viviam.
“Aluguel muito caro, viemos para casa há pouco tempo. Sempre morei aqui na região, já conhecia o pessoal”, disse. Perguntada sobre a organização dos moradores, ela disse que neste quesito não há união, e que no momento de doações é um “salve-se quem puder”, em que garante o alimento e lonas aqueles que chegam primeiro.
“Tudo que é doado aqui roda na mão de cerca de 10 famílias, isso não é justo”, fala. Reunidas, as moradoras tomam frente na reconstrução das moradias e lutam por condições melhores.
Um dos exemplos citados por elas são os moradores do antigo Mandela, que foram realojados em diferentes espaços da cidade após o incêndio que tomou suas casas em novembro último. “Lá sim, lá eles se organizaram. Quando as doações chegam existe divisão, ao contrário do que acontece aqui”, diz uma moradora que não quis se identificar.
Apesar das chuvas, os moradores reforçaram os números dos barracos. Segundo eles, a identificação é importante para o recebimento de benefícios como o Bolsa Família e o Mais Social.
Direto das Ruas - A situação chegou pelo Direto das Ruas, o canal de interação dos leitores com a redação do Campo Grande News. Sugestões de pauta em áudios, fotos e vídeos podem ser enviadas pelo número (67) 99669-9563.
Clique aqui e envie agora sua sugestão.
Para que sua imagem tenha mais qualidade, orientamos que fotos e vídeos sejam feitos com o aparelho celular na posição horizontal.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.
Confira a galeria de imagens: