Com inflação alta, trabalhador corta até carne e faz bico para pagar contas
As contas básicas como água, luz e telefone, têm pesado no orçamento das famílias de baixa renda, que se viram como podem para adequar ao salário que ganham. Vivendo na periferia de Campo Grande e com apenas um salário mínimo por mês, algumas pessoas contam que deixaram de consumir o supérfluo para poder arcar com as despesas do mês e a alimentação. Além disso, precisam buscar meios para aumentar a renda.
É o caso da aposentada Zoraide Sanches, 65 anos, que mora sozinha em uma casa construída nos fundos do terreno do filho, no bairro Zé Pereira, em Campo Grande. Ela vive com apenas um salário mínimo, ou seja R$ 788, para pagar água, luz e telefone, item este que ela não abre mão, pois garante que é de extrema necessidade para um idoso ter um telefone. Além dessas despesas básicas, ela ainda gasta com medicamentos. "A luz subiu muito, frutas e verduras estão caríssimos, sentimos aumento em tudo e é cada vez mais difícil viver com apenas um salário mínimo". conta.
Segundo Zoraide, para conseguir se manter ela faz alguns bicos de vez em quando na casa de uma amiga, mas nem assim o dinheiro é suficiente para comprar todos os dias o item que ela mais gosta de comer, a carne, que está 30% mais cara esse ano. "Sempre gostei de comer muita carne, agora compro pouco ou em pequenas quantidades, faço porções pequenas para render, mas para economizar mesmo eu substituí a carne por verduras que possuem as mesmas vitaminas", conta.
Outra moradora do mesmo bairro, Helena Benitez, 73 anos, aposentada, também reclama da atual situação dos preços dos alimentos e das contas básicas. Ela fez uma cirurgia recente de retirada da mama e gasta por mês R$ 300 só com medicamentos. Morando nos fundos da casa do filho, em duas peças, ela arca com as contas de água e luz.
Ela paga todas as contas e o que sobra é para a alimentação. Como segundo Helena, sobra pouco para ela comprar "mistura". "Tive que me adaptar para gastar o que ganho e ainda conseguir comprar os alimentos. Está tudo caro, um absurdo, só este ano tivemos três reajustes na conta de luz, fora os alimentos que sobem todos os meses".
"Tive que fazer alguns ajustes, hoje quase não consumo carne, mas quando compro prefiro o frango que é mais barato, ou então troco pelas verduras que estão mais em conta", diz.
Para complementar a renda da aposentadoria, Célia Regina Jabra, 75 anos, abriu um brechó, pois com o que ganha não conseguia pagar as contas básicas, por isso resolveu abrir o comércio para ajudar. "Moro sozinha e ainda pago R$ 100 para uma cuidadora, então tenho muitos gastos que somente com meu salário não daria conta, então tive que abrir o brechó".
Planos adiados - No Jardim Itália, a auxiliar de cozinha Sonia Regina, 49 anos, conta que deixou de reformar a casa, que já estava prevista para esse ano, e por conta do aumento da luz e de alguns alimentos, e foi adiada. "Tinha planos para esse ao de arrumar minha casa, construir uma varanda para não lavar roupa no sol, mas agora tive que adiar o sonho", afirma.
Ela mora com o marido e mais dois filhos, sendo que um está desempregado, mas Sonia comenta que só conta com o salário de um dos filhos. "Meu salário sempre atrasa e do meu marido também, então só contamos com o salário mínimo do meu filho mesmo".
Para economizar energia elétrica por exemplo, ela lava roupas uma vez por semana e passa a cada 15 dias. Já na alimentação, ela compra aos poucos e aproveita as promoções. "Compramos carne uma vez por semana e mesmo assim não conseguimos pagar todas as contas, a de água mesmo está atrasada".
Gastar com coisas suplérfuas também é proibido na casa de Sonia. "Antes fazia unha e cabelo, agora isso acabou, roupas também não compramos mais. Se as coias continuarem subindo do jeito que estão, daqui a pouco teremos que usar lamparina e ferro movido a brasa", desabafa.