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Economia

Com vendas fracas, comércio apela aos descontos "imperdíveis"

Luciana Brazil | 08/07/2014 08:07
Lojas apelam para liquidações para atrair os clientes. (Fotos: Marcos Ermínio)
Lojas apelam para liquidações para atrair os clientes. (Fotos: Marcos Ermínio)
Gerente diz que vendas caem nos dias de jogos da seleção brasileira.
Gerente diz que vendas caem nos dias de jogos da seleção brasileira.

O mês de junho terminou e não deixou boas lembranças para o comércio de Campo Grande. Além da Copa do Mundo, os feriados nacionais e a atual economia do país empataram as vendas forçando comerciantes a anteciparem as liquidações para amenizar a queda nos lucros. Nas ruas, é difícil encontrar uma vitrine que não anuncie promoção ou descontos “imperdíveis”.

Mesmo não sendo o único vilão do período, o Mundial de Futebol só estimulou os dias de penúria. Em dias de jogos da seleção brasileira, lojas, acostumadas a vender diariamente quase 25 mil pares de sapato, não negociaram nem a metade dos produtos.

Na loja Gabriella, da Avenida Mato Grosso, a venda no Dia dos Namorados foi 40% menor do que em 2013, segundo o gerente Everton Custódio. No ano passado, foram vendidos 35 mil sapatos, mas desta vez apenas 18 mil saíram dos estoques. “A Copa refletiu muito no Dia Dos Namorados, foi a estreia da seleção e abertura do Mundial. No prognóstico do mês, tivemos que baixar a meta de vendas em 60%”, admite Everton.

Para o diretor da Associação Comercial de Campo Grande, Omar Aukar, a Copa é apenas mais um dos fatores que estão prejudicando o comércio. Ele aponta ainda a elevada taxa de juros e o ínfimo crescimento da economia nos últimos meses.

“A taxa de juros disparou e quando isso acontece o consumidor some. Outra variável vitalidade da economia. Se a economia não cresce, perde a vitalidade. Há alguns anos, o ministro (Guido Mantega) estabelece um PIB (Produto Interno Produto) e logo depois diminui, estabelecendo um índice menor. Esses indicadores econômicos apontam para onde vai a economia”, diz, descontente, Omar.

Entretanto, o diretor da Associação não nega que o Mundial também afetou assustadoramente o setor. “Pela primeira vez vi a Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping) assumiu que em junho deste ano as vendas teriam queda de 35% por causa da Copa. A entidade, sempre muito confiante, desta vez revelou a situação real e crítica. Isso significa que muita gente não vai conseguir pagar o aluguel”, lembra ele.

Há pelo menos quatro anos, outra medida tem antecipado as liquidações. Um cabo de guerra no setor, segundo Omar. Para sair na frente e garantir os lucros, fabricantes começaram a lançar as coleções antes do que era acordado na categoria. Com isso, os lojistas tiveram que antecipar a liquidação para se livra dos estoques antigos.

“Isso começou com um determinado fabricante, há quatro, cinco anos. E começou a prevalecer  a máxima de que 'quem chega primeiro, bebe água limpa'. Isso é bom para o fabricante, mas mortal para o lojista. O que ele acabou de comprar no preço normal, terá que vender na liquidação”.

Omar diz que essa dinâmica deve acabar, mas para isso “os fabricantes precisam ter sensibilidade”.

Bota, item de decoração no ritmo de Copa, até pode ser vendida se tiver quem se aventure.
Bota, item de decoração no ritmo de Copa, até pode ser vendida se tiver quem se aventure.

Para empresária Renata Furtado, 39 anos, dona da loja de sapatos Pisato, na Rua Euclides da Cunha, as dificuldades se estendem desde o início do semestre. Mas ela lamenta que o mês de junho tenha sido ainda pior. Além da Copa, o frio que ainda não chegou com força pode ter contribuído para o enfraquecimento dos lucros. “E ainda tem a situação econômica do país”, frisa.

Outra mediação, tão dominante quanto as outras, tem afastado os consumidores: o crédito. “Antes todo mundo estava consumindo porque todo mundo tinha crédito. Agora, as operadoras estão cortando e tudo ficou mais difícil. E ainda tem o juros que estão altíssimos”, disse Renata.

A crise generalizada também chegou à loja Retrô, na Rua Dom Aquino. A proprietária, Adriana Hayafuji, 35 anos, teve que apostar nas promoções para suprir a falta de clientes. A coleção nova que deveria ser vendida no valor normal, está com 30% de desconto. “Isso, inclusive, tem feito as clientes ficarem acostumadas a esperar a promoção", lamenta.

Os donos da loja de sapatos Estima, na Avenida Mato Grosso, engrossam o discurso dos colegas lojistas e lembram que o comércio todo está na mesma situação. "No mês de junho, as vendas ficaram como no ano passado, mas como a loja é nova, a gente deveria ter crescido, o que não aconteceu", explica Evandro Lima, 28 anos. "A queda foi acentuada nos dias de jogos", reforça a também proprietária Rosana Saldivar, 51 anos.

"Para o comércio o ano está muito complicado. Os impostos continuam tendo que ser pagos, mas as vendas caem. As pessoas estão gastando com bebida, festa e até viagem para assistir os jogos", diz Evandro.

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