Em seis meses, Campo Grande perde dez voos por falta de passageiros
Nos últimos seis meses as empresas aéreas cancelaram pelo menos 10 voos em Campo Grande. Foi a única Capital da região Centro Oeste que apresentou retração no número de passageiros no período, provocando a realocação de rotas para praças mais rentáveis às companhias, segundo o presidente do Sindetur (Sindicato das Empresas de Turismo de Mato Grosso do Sul), Sebastião Rosa.
Para ele, as companhias aéreas deixaram de atender voos na Capital por conta do baixo índice de aproveitamento, que em algumas rotas estavam girando em torno de 55% a 65%. “As empresas procuram rotas mais rentáveis, que possam bancar os custos e obter o lucro, como acontece em qualquer negócio”, comentou, acrescentando que o ideal para elas é voar rotas que garatam um aproveitamento de 80% a 90%, em média.
De acordo com o sindicato, entre os voos cancelados, estão dois da Gol Linhas Aéreas Inteligentes, que ligava Campo Grande a São Paulo, um para o aeroporto de Congonhas e outro para Guarulhos. Porém, a empresa contesta a informação e afirma que o que houve é um remanejamento de malha, ou seja, mudança de horários e destinos.
A Azul Linhas Aéreas Brasileiras também teria cancelado um voo direto para o Rio de Janeiro e a ligação aérea entre a Capital e Corumbá.
Mas mudanças também atingiram até rota internacional, com o cancelamento do voo entre Campo Grande e a maior cidade da Bolívia, Santa Cruz de la Sierra, que era operado pela empresa boliviana Amaszonas Línea Aérea. A rota foi ativada antes do início da Copa do Mundo de futebol e último voo aconteceu no dia 30 de setembro do ano passado.
No mercado de turismo há 21 anos, Sebastião Rosa, lembra que, da mesma forma que acontece a redução nas rotas quando cai a procura, também pode aumentar quando cresce a demanda em determinados trechos.
Segundo ele, a Azul que, recentemente, cancelou o voo direto de Campo Grande para o Rio de Janeiro já estaria avaliando a possibilidade de retomá-lo com a proximidade dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. “Da mesma forma, a Gol também estaria revendo o cancelamento de uma rota para Congonhas, devido aumento na procura”, revela.
No entanto, esses cancelamentos, conforme o presidente do Sindetur, acaba dificultando a situação do mercado das agências de viagens e turismo, que são obrigadas a encontrarem alternativas para atenderem os clientes. “Apesar de as companhias aéreas informarem com certa antecedência, as mudanças também causam prejuízos aos passageiros”, conta ele, referindo-se ao fato de o passageiro ter de mudar horário ou aguardar mais tempo em conexões para chegar em Campo Grande.
Geralmente, as agências são comunicadas com 15 a 30 dias de antecipação sobre as alterações nas rotas. Atualmente, além das duas citadas, mais duas companhias aéreas operam na Capital com voos diários, a TAM Linhas Áreas e Avianca Transportadora Aérea.
A empresária Regina Matsubara, da Check-in Agência de Viagens, reclama que essas realocações tem ocorrido com maior frequência nos últimos meses e isso estaria provocando certa instabilidade no mercado, pois a rota comercializada hoje pode ser cancelada ou alterada a qualquer momento.
Regina comenta ainda que os passageiros ficam com menos opções de voos, especialmente em conexões para voos internacionais. “Isso causa transtornos aos passageiros também. Tenho cliente vindo do exterior que precisou aguardar quase 12 horas em Guarulhos para pegar uma aeronave de volta a Campo Grande”, contou.
De acordo com ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), órgão responsável pela regulamentação do setor aéreo no País, nesses casos, a companhia aérea tem o dever de cumprir o previsto em contrato de transporte assinado entre a empresa e o passageiro, previsto no Código de Defesa do Consumidor.
“Se a empresa descontinuou alguma rota, além de avisar os passageiros, deve devolver os valores pagos ou remarcar as passagens, caso seja a vontade do usuário que não concordar com a nova rota realizada”, explica a assessoria de imprensa da Agência.
Caso o passageiro se sinta prejudicado ou tenha seus direitos desrespeitados, a Agência recomenda que ele procure a empresa aérea para reivindicar seus direitos como consumidor. Se o usuário não se sentir atendido pela empresas ele deve encaminhar a demanda à ANAC, para análise do caso e eventual aplicação de penalidade à companhia por descumprimento de norma, aos órgãos de defesa do consumidor e ao Poder Judiciário.
A Agência também possui canais de comunicação destinados a receber as reclamações dos usuários pela internet ou pelo telefone 163, que funciona 24 horas.
Para o presidente do Sindetur, a solução de momento para evitar novos cancelamentos ou até mesmo acontecer a inclusão de novas rotas vai depender diretamente do crescimento número de passageiros. “Mesmo com as mudanças e a redução de opções, a pessoa interessada em fazer uma viagem vai buscar as alternativas existentes e dificilmente vai desistir de viajar”, comenta.
Redução - Em março, o governador Reinaldo Azambuja afirmou que estuda conceder benefício fiscal para empresa de transporte aéreo, como a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) no querosene, para incentivar mais voos para cidades do Estado.
Para evitar novos cancelamentos, o governo do Estado firmou acordo com Azul, que prevê redução na alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do querosene, de 17% para 4%. Em troca a empresa vai continuar a operando voos regionais para Bonito e Três Lagoas. A informação foi dada nessa quinta-feira, 7, pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB).