Falta de trabalhadores desafia setores mesmo com oferta de vagas em MS
Entenda as razões por trás da escassez de mão de obra especializada no varejo
A falta de mão de obra não é novidade no país e embora Mato Grosso do Sul tenha alcançado a condição de pleno emprego – conceito de equilíbrio entre oferta e procura de trabalho –, tanto a indústria quanto o setor varejista vivem os desafios de não encontrar pessoas para as funções oferecidas. O problema também é percebido no âmbito da construção civil e empregos que exigem força física. Mas afinal, porque mesmo com oferta há deficit de candidatos no mercado de trabalho?
RESUMO
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A falta de mão de obra qualificada é um desafio em Mato Grosso do Sul, mesmo com o pleno emprego. O problema afeta setores como indústria, varejo e construção civil. Jordana Duenha, do Senac MS, aponta que salários baixos, informalidade e mudanças na percepção do trabalho são fatores que afastam candidatos. A pandemia trouxe novas prioridades, como qualidade de vida. O Senac busca capacitar jovens e levar cursos a áreas periféricas. Fernando Camilo, do Sindivarejo, destaca a falta de interesse dos jovens em funções tradicionais. O governo estadual investe em qualificação profissional para atender às demandas do mercado.
De acordo com a diretora regional do Senac MS, Jordana Duenha, o assunto da falta de mão de obra é amplo e não pode ser atribuído a apenas um fator. Para ela, o pilar da discussão se sustenta nos salários desproporcionais com a carga horária oferecida, informalidade dos serviços (autonomia), escolarização e mudança de comportamento sobre o que significa o trabalho.
Ela pontua que o último é justamente um dos motivos que afastam as pessoas da profissionalização e, consequentemente, de empregos que exigem cursos específicos. “Agora as pessoas lidam com emprego de maneira diferente e que os empresários precisam levar em consideração. Outras questões como qualidade de vida e tempo para família são assuntos que têm sido colocados na mesa, principalmente após a pandemia. As empresas precisam estar atentas a essas condições colocadas pelas pessoas”.
Segundo ela, o Estado está entre as unidades federativas com um dos menores índices de desocupação do país, ou seja, poucas pessoas desocupadas. “Temos um volume muito significativo de vagas abertas constantemente em supermercado, alimentação fora do lar, por exemplo, até em setores que demandam mais qualificação como tecnologia e saúde, que também tem volume grande de vagas que não consegue ser preenchido. Hoje, vivemos uma carência de mão de obra em tudo. Mas não é realidade em parte do Brasil e do mundo. A gente também percebe isso fora”.
Uma das preocupações do mercado varejista, até mais que a inflação, é a falta de mão de obra especializada. Outro fator que contribui com o desinteresse pela profissionalização é a questão não proporcional de trabalho e salário. Áreas que demandam muita mão de obra e pouco salário têm afastado as pessoas.
“No Brasil temos um desafio grande da educação básica. Vivemos um momento onde a tecnologia e áreas de gestão e saúde tem oportunidade, mas que demandam mais qualificação e isso demanda a escolarização. É um assunto que tem muitas variáveis.Aqui não existe um único ponto de vista”.
Outro lado da moeda - Quando a gestora percebeu que o interesse nos cursos de capacitação estavam caindo, resolveu levar as disciplinas para os bairros afastados de Campo Grande.
“Temos visto que as pessoas realmente não tem acesso e não chegam a profissionalização por isso, não tem acesso a informação e sequer comida. Temos questões sociais muito significativas. Temos a questão da informalidade, que muitas pessoas acabam empreendendo quase de maneira obrigatória, como condição para sobrevivência e acabam não se interessando com oportunidades que envolvam a carteira assinada”.
Para tentar ajudar o segmento empresarial o Senac tem buscado despertar interesse de uma profissionalização nos alunos do ensino médio indo até as escolas. A iniciativa é feita em parceria com associação de bairros e instituições que estão em regiões periféricas da cidade.
“Temos mantido diálogo muito forte com as empresas, para pensar em novas estratégias. Muitos dos cursos têm oferta significativa, mas o setor de tecnologia é um com alta empregabilidade e remunerações de entrada significativas. Temos quase 20 turmas de desenvolvimento de sistemas aqui e no interior”.
Futuro do varejo - Fernando Camilo, presidente do Sindivarejo de Campo Grande (Sindicato de Comerciantes Varejistas) explica que não há falta de vagas, pelo contrário, ele afirma que há falta de interesse em buscar a qualificação.
Para ele, fatores como a automação de processos com o uso de tecnologias para executar tarefas repetitivas e operacionais com IAs (Inteligência Artificial), por exemplo, e os e-commerces não são motivos de preocupação, pelo menos por hora.
“Empresas se adéquam e acabam entrando no e-commerce. De fato são os pequenos que podem ter problemas. Enquanto existir esse tipo de consumidor que vai na loja o comércio vai andando. A automação de processos isso traz realmente uma falta de vagas.
Ele pontua que a forma com a entrada do e-commerce e outros tipo da oferta de varejo estão sendo feitas está mudando e isso vai atrapalhar a abertura de empresas. "Apesar disso, o comércio continua bom, não está sofrendo. No futuro pode ser problema mas não agora”.
Para ele, os jovens não querem mais atender balcões, querem serviço em áreas dinâmicas como uso de tecnologia. Ele pontua que o futuro do varejo vai haver algumas transformações.
“Eu não estou vendo a curto prazo a dificuldade, tanto de admissão quanto de mão de obra, as pessoas não querem se adequar. Aí começa a sobrar vagas, tem oferta e não tem gente para assumir”.
O secretário-executivo de qualificação profissional da SEQUALIT, veiculada a Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Esaú Rodrigues de Aguiar Neto, comenta que constantemente a pasta é demandada e orientada sobre as qualificações necessárias para atender as exigências do mercado varejistas.
De acordo com o secretário, em dois anos o Estado já capacitou mais de 130 mil pessoas e a meta é chegar a 13 mil em todo estado em 2025, através do programa MSQualifica, que oferece de qualificações profissionais gratuitas.
Ele acrescenta que o setor de serviços foi um dos que mais cresceu em 2024. Ao todo foram 71,3% das novas empresas registradas em 2024. Além disso, o estado registrou aumento significativo na criação de empregos formais no setor de serviços em 2024, sendo este o setor que liderou a geração de empregos, contribuindo com 50,36% do total de novas vagas.
"Esses dados reforçam o olhar cuidadoso que o governo e as entidades representativas do setor precisam dedicar. O governo de MS reconhece a importância do setor varejista para a economia estadual e está comprometido em continuar desenvolvendo soluções inovadoras e eficazes para suprir a demanda por mão de obra qualificada".
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