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Economia

Garantia de R$ 600 do mínimo existencial não ajuda na rotina de quem é devedor

Na terça-feira, foi publicado decreto que aumento o mínimo existencial para os superendividados

Izabela Cavalcanti | 21/06/2023 11:27
Vendedora de legumes na Rua 14 de Julho, Marilda de Oliveira (Foto: Izabela Cavalcanti)
Vendedora de legumes na Rua 14 de Julho, Marilda de Oliveira (Foto: Izabela Cavalcanti)

Mesmo com o aumento do valor do mínimo existencial para R$ 600, na prática, os trabalhadores têm visto que a mudança não ajuda em muita coisa para sobreviver no dia a dia. Essa é a quantia mínima de renda necessária para o pagamento de despesas básicas, como água e luz, protegida por lei em casos de superendividamento. Mas e como ficam os outros gastos?

Viver com apenas esse valor é uma realidade distante para a vendedora Marilda de Oliveira, de 39 anos, que vive com três filhos. De segunda a sábado, às 9h, ela já chega ao Centro para conseguir vender os legumes e ter seu ganha-pão.

“As contas passam de R$ 600. Só com luz já vai o dinheiro. Não dá para sobreviver”, disse.

Ela conta que tem dívida no banco e acha um absurdo só restar os R$ 600 para quem deve. “É como se fosse uma punição, né? Acho que não dá para viver”, completou.

Esteticista Eliana Morais, na Rua 14 de Julho, aguardando cliente para atender (Foto: Izabela Cavalcanti)
Esteticista Eliana Morais, na Rua 14 de Julho, aguardando cliente para atender (Foto: Izabela Cavalcanti)

Da mesma forma, a esteticista Eliana Morais, de 46 anos, tem a mesma visão. “Ninguém sobrevive. Não dá para comprar nem um sacolão, imagina conseguir pagar o resto. Como faz?”, questionou. Segundo ela, não tem dívida com o banco.

A cabeleireira Juliely Spiller, de 29 anos, prefere nem lembrar da dívida que tem. Sem querer falar do valor, ela diz que, na época, emprestou o cartão para sua mãe comprar alguns itens para a casa e acabou acumulando.

Quando se fala em viver com R$ 600, o discurso é o mesmo para todos. “Não tem como viver com isso. Dá só para pagar água e luz, está tudo vindo caro. É muito pouco. E para comprar gás, pagar aluguel?”, lamentou.

Entenda – Foi publicado na terça-feira (20), no Diário Oficial da União, o decreto que aumenta o mínimo existencial de R$ 303 para R$ 600.

Este novo decreto altera o Decreto nº 11.150, de 26 de julho de 2022, que regulamenta a preservação e o não comprometimento do mínimo existencial para fins de prevenção, tratamento e conciliação de situações de superendividamento em dívidas de consumo.

Conforme explica o advogado e membro da Comissão de Direito do Consumidor, Família e Sucessões da OAB/MS, Leandro Nazarko, a situação se aplica aos superendividados. Em um exemplo claro, o consumidor que está devendo para os credores e tem que ter o salário “tomado”, necessariamente os R$ 600 (mínimo existencial) precisam ficar resguardados e todo o resto pode ser penhorado.

“A lei diz o seguinte, vamos proporcionar para os consumidores, os devedores, uma oportunidade de eles pagarem isso. Parcela e negocia o valor, vai pagando até conseguir quitar. A partir daí que entra o mínimo existencial. Os credores podem penhorar o salário da pessoa todo, desde que deixe R$ 600 para ela sobreviver”, explicou.

Ainda de acordo com Nazarko, desde 1988, a Constituição Federal Brasileira diz que cabe ao Brasil garantir essa segurança financeira dos cidadãos. “Daí surgiu a Lei do Superendividamento (Lei 14.181/2021), para dispor as regras de como alcançar essa segurança financeira. Em 2022, veio o decreto que define o que é mínimo existencial e qual é esse valor. Em 2023, o decreto que aumenta o valor do mínimo existencial e o Desenrola, que é um programa social para a população endividada renegociar e pagar as dívidas", completou.

Na visão do economista Enrique Duarte, o aumento ajuda as famílias a voltarem a comprar. “Sabemos muito bem que várias famílias estão com as contas em atraso. Até se ele estiver com um nome negativado, isso ajuda a colocar mais gente de novo no mercado do consumidor. Mas é impossível viver com esse valor”, disse.

Programa Desenrola - No dia 5 de junho, foi instituído o programa Desenrola, com potencial para renegociar dívidas de até 70 milhões de brasileiros.

O programa pode beneficiar mais de 1 milhão de pessoas em Mato Grosso do Sul, considerando os dados de inadimplência do Serasa, referentes ao mês de abril.

Ainda conforme informações do Serasa, o Estado tem o total de 3.712.272 dívidas, porque uma pessoa pode ter mais de um débito. É como se cada um devesse para quase quatro empresas. O total soma R$ 5.281.231.751,89, o que significa que cada inadimplente deve em média R$ 5,1 mil.

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