Opção financeira em meio à instabilidade, América Latina abraça as stablecoins
Continente é terreno fértil para a adoção de criptomoedas, especialmente para as stablecoins
A América Latina, conhecida por sua instabilidade econômica, é um terreno fértil para a adoção de criptomoedas, especialmente para as stablecoins. Essas moedas digitais estáveis, vinculadas a ativos como o dólar americano, estão ganhando espaço como solução para proteger economias pessoais, facilitar transações internacionais e democratizar o acesso a serviços financeiros.
Em países como Brasil, Argentina e Venezuela, onde a inflação e a desvalorização das moedas locais são recorrentes, as stablecoins despontam como uma alternativa viável e inovadora.
Por que as stablecoins estão em alta na América Latina?
A instabilidade econômica é uma realidade histórica em muitos países da região. Segundo dados do FMI, a inflação na América Latina atingiu uma média de 15,4% em 2023, com casos extremos, como a Argentina, onde a inflação ultrapassou 138%, e a Venezuela, com uma inflação de 400%. Essas condições criam um ambiente de incerteza para quem deseja preservar o poder de compra de suas economias.
No Brasil, embora a inflação tenha sido mais moderada (4,86% em 2023, conforme o IBGE), a volatilidade cambial continua sendo um problema para empresas e cidadãos que dependem do dólar em transações comerciais. Sendo assim, as stablecoins oferecem uma alternativa prática e segura, permitindo que os usuários armazenem valor em um ativo estável, sem depender de contas bancárias tradicionais ou enfrentar as taxas e restrições dos mercados cambiais.
Como vemos nas notícias sobre altcoins, o mercado de stablecoins na América Latina está se expandindo rapidamente. De acordo com a Chainalysis, a região responde por cerca de 9% do volume mundial de transações com stablecoins. No Brasil, o uso dessas criptomoedas cresceu 27% entre 2022 e 2023, com volumes de transações ultrapassando R$ 150 bilhões. O Tether (USDT) lidera como a stablecoin mais utilizada, seguida por outras como USD Coin (USDC) e DAI.
Além disso, pesquisas realizadas pelo Banco Central do Brasil mostram que mais de 16 milhões de brasileiros ainda não possuem acesso a contas bancárias, mas grande parte dessas pessoas tem acesso a smartphones. Isso torna as stablecoins uma ferramenta poderosa para inclusão financeira, já que permitem transações rápidas com apenas uma conexão à internet.
As stablecoins oferecem uma série de vantagens que as tornam uma solução atraente para os problemas econômicos da América Latina. Em economias com moedas locais constantemente desvalorizadas, como o peso argentino e o bolívar venezuelano, as moedas digitais estáveis proporcionam uma maneira de preservar o poder de compra ao vincular seu valor ao dólar americano ou a outros ativos estáveis.
Enviar dinheiro para o exterior por meio de stablecoins é bastante mais rápido e barato do que usar serviços tradicionais de remessa, como bancos ou empresas de transferência de dinheiro. Um estudo da PwC revelou que as stablecoins podem reduzir os custos de transação em até 70%. E para milhões de pessoas sem acesso a serviços bancários tradicionais, as stablecoins oferecem uma porta de entrada ao sistema financeiro, democratizando o acesso e promovendo a inclusão econômica.
Com as stablecoins, é possível realizar pagamentos de forma digital, eliminando a necessidade de carregar dinheiro físico ou depender de intermediários. No entanto, uma das grandes dificuldades é a falta de regulamentação clara em muitos países da América Latina. Regulamentar as stablecoins é essencial para garantir a segurança dos usuários, proteger o sistema financeiro e atrair investimentos estrangeiros.
No Brasil, a Lei nº 14.478/2022, conhecida como Lei das Criptomoedas, trouxe avanços importantes, mas ainda existem lacunas a serem preenchidas, especialmente no que diz respeito à supervisão das emissões de stablecoins. A transparência também é uma questão crítica, já que é necessário garantir que essas moedas sejam realmente lastreadas pelos ativos que prometem.
Outros países da região, como México e Argentina, ainda estão desenvolvendo seus próprios marcos regulatórios. Enquanto isso, a ausência de normas claras cria incertezas para empresas e investidores, limitando o crescimento do setor. O futuro das stablecoins na América Latina é promissor, com a tecnologia se tornando mais acessível e as regulamentações sendo implementadas.
A plataforma de criptomoedas Bitso processa até 10% do volume total de remessas do corredor México-Estados Unidos, evidenciando a rápida adoção dessas criptomoedas no país. As stablecoins representam 63% dos pares mais negociados na Argentina, superando criptomoedas como Bitcoin e XRP. Alguns dados indicam que, entre meados de 2023 e 2024, as transações envolvendo stablecoins no Brasil aumentaram mais de 200%.
Sua capacidade de oferecer estabilidade, acessibilidade e eficiência as torna uma ferramenta indispensável para milhões de pessoas. No entanto, é fundamental que governos e empresas colaborem para criar um ambiente regulatório seguro e transparente. Com isso, a América Latina pode não apenas adotar as stablecoins, mas também liderar a inovação no uso de criptomoedas em economias emergentes.