Sefaz recebe 150 denúncias contra espertos que tentam lucrar com Nota Premiada
Funcionários de comércios digitam próprio CPF no lugar do consumidor e "roubam" a chance do cliente concorrer
Se você tem o costume de não informar o CPF (Cadastro de Pessoas Físicas) no ato de uma compra, em estabelecimentos de Mato Grosso do Sul, saiba que seu cupom fiscal pode estar servindo de oportunidade para aproveitadores.
Segundo a Sefaz (Secretaria de Estado de Fazenda), desde que o Estado passou a premiar consumidores por meio do programa “Nota Premiada”, cresceu o número de denúncias envolvendo comércios e/ou atendentes “espertinhos” que se recusam a entregar o comprovante correto ao cliente ou aproveitam a negativa da pessoa em passar os números do CPF para cadastrar o próprio documento, como forma de aumentar as chances de ser contemplado.
Foi o que percebeu o servidor público Marcelo Vianna, de 25 anos. Semanas atrás, ao finalizar a compra de produtos em loja de chocolates da Capital, o jovem abriu mão de cadastrar teu CPF, porém, identificou que o atendente havia registrado o canhoto de compras em seu nome.
“Eu não costumo colocar o CPF na nota, por questões de agilidade no atendimento, e muito menos conferir se há algum cadastrado. Nesse dia, em específico, eu não joguei fora o comprovante. No dia seguinte, eu percebi que havia um n. de CPF cadastrado no cupom fiscal. Eu estranhei, porque não era o meu. Fiquei pensando se eu poderia fazer alguma coisa a respeito. Voltei na loja para questionar o colaborador, e ele disse que por engano havia digitado o CPF dele mesmo”, conta Marcelo.
Após orientar o atendente e destacar que a atitude era ilegal, podendo resultar em problemas para ele, o consumidor decidiu acessar o site do Governo do Estado, quando percebeu diversos números em nome do funcionário.
“Consultando o site da nota premiada, no mês da compra, pude perceber que várias notas haviam sido cadastradas naquele mesmo CPF”, revela Marcelo. “Acredito que estava sendo rotina isso”.
E tem sido rotina mesmo. De acordo com o chefe da unidade de educação fiscal da Sefaz, Amarildo Cruz, o órgão tem recebido cerca de 150 ligações, por mês, a maioria delas com denúncias. Por isso, campanha de alerta tem sido divulgada por meio das redes sociais.
“É um apelo que a gente faz para que as pessoas participem do programa e coloquem o CPF. Agora, tem algum receio, não quer colocar, tudo bem, é um direito, mas se não ficar atento, isso pode acontecer”, destaca Amarildo.
Segundo ele, recentemente, fiscalização do Procon-MS investigava denúncias de validade de produtos, em estabelecimento comercial da cidade de Taquarussu, a 335 quilômetros da Capital, quando fiscais acabaram descobrindo atitude irregular de um morador local. “Ele é técnico de informática e prestava serviço para empresa. Estava com um monte de notas no CPF dele”, cita Amarildo, destacando ainda que situações semelhantes são detectadas de vez em quando.
Quase ninguém se atenta – Pelas ruas, relatos de consumidores comprovam ser fácil enganar o consumidor.
A design de sobrancelha Talia Lourrane, por exemplo, garante exigir o CPF em todos os tipos de compras, mas que não repara em qual número foi registrado. “Até em compra de R$ 10 eu já coloquei e nunca fiz isso de olhar e confirmar”, diz.
Morando há sete meses em Campo Grande, o “manicuro” Fabson Bispo, de 38 anos, também confessa não se atentar à informação na nota fiscal. “Em São Paulo a gente já usava e, na hora da compra eu não olho, mas chega no fim do mês eu olho no site da Nota Premiada”.
O bom exemplo fica a cargo da psicóloga Lucimar Nunes de Rezende, de 58 anos. “Confiro na nota sempre, já vejo com qual número vou concorrer e também meu CPF”, garante.
O que conferir - Notas fiscais expedidas em comércios de Mato Grosso do Sul devem apresentar o CPF do consumidor, além das dezenas com as quais o cliente irá concorrer a prêmios por meio da da Nota Premiada.