Sem mesma sorte de Gleice, ambulantes da Capital sentem vendas cair pela metade
Vendedores do Centro contam que nunca receberam doação como fez cantor João Bosco a ambulante Gleice
Não foi à toa que a ambulante Gleice ficou tão comovida ao ganhar R$ 1 mil do cantor sul-mato-grossense João Bosco, da dupla com Vinícius, como mostrou vídeo que repercutiu nesta semana. Em Campo Grande, quem nunca teve a mesma sorte de receber uma doação, conta que o trabalho sempre compensou, mas nos últimos meses as vendas já despencaram e hoje faturam metade do que ganhavam antes.
Cerca de 38,6% da população de Mato Grosso do Sul ativa trabalha na informalidade. Com a crise econômica, os ambulantes insistem nas vendas no Centro, mas explicam que a situação é difícil.
Ambulante há 34 anos, Cícero Fermino da Silva, de 58 anos, sai todos os dias do Bairro Serra Azul para vender meias na Rua 14 de Julho. Nos melhores dias, ele vendia entre R$ 500 a R$ 600.
“Hoje, o máximo é R$ 200. Tem dias que dá meio dia e não vendi um par de meias sequer”, conta. Os tempos áureos foram em 2018, lembra Cícero. “Em três meses juntei dinheiro e comprei um carro de R$ 20 mil. Depois foi ficando complicado, veio a pandemia e complicou ainda mais a vida do ambulante”, lembra Cícero.
Ele explica que os ambulante vivem de oportunidades e novidades. “Com a recessão econômica e a pandemia, as oportunidades se perdem”, avalia. Quanto às novidades, as que mais se mantiveram foram as tecnológicas, mas a tecnologia também prejudicou o trabalho do ambulante, na percepção de Cícero.
"As pessoas vinham ao Centro para pagar conta e compravam dos ambulantes. Agora, com o Pix você consegue comprar uma conta deitado. Eu trabalhava com guarda-chuvas se o tempo virasse. Hoje, se o tempo virar a pessoa não vem comprar guarda-chuva, ela chama um motorista de aplicativo e volta para casa”, explica Cícero.
De Salvador (BA), aqui há um ano, Dernival Barreto Mendes, de 34 anos, vende produtos diversos na Avenida Calógeras para ajudar nas despesas da esposa que está grávida e dos filhos de 3 e 5 anos de idade. Ele mora no Guanandi e conta que as vendas caíram, pelo menos 30%, nos últimos meses.
“Nunca tive sorte de alguém fazer uma doação. Seria bom, nunca aconteceu, mas uma hora vai chegar. A gente tem que se desdobrar para vender. Nos melhores dias, eu fazia R$ 350 e hoje é cerca de R$ 150 por dia só”, relata Dernival.
Na Avenida Afonso Pena, Sanderlan da Silva, de 23 anos, que vende redes e acessórios, também viu as vendas caírem pela metade. O paraibano está há 10 anos em Campo Grande.
“Dá para perceber que a população está com menos dinheiro. Antes, eu vendia R$ 600 em dias bons, agora caiu 50%. Nunca ganhei nada durante as vendas, é tudo com suor e trabalho. Vamos levando. Acredito que as coisas ainda vão melhorar”, diz Sanderlan.