Na mira da PF, irmãos viram império ruir e afetar negócios em MS
Os empresários Wesley e Joesley Batista viram seu império financeiro desmoronar ao longo de 2017 ao serem alvos de sucessivas operações da PF (Polícia Federal) por suspeitas de envolvimento em esquemas de corrupção. Essa crise acabou afetando as companhias dos irmãos, que tinham negócios também em Mato Grosso do Sul.
O grupo que albergava marcas de chinelos a laticínios foi severamente reduzido à medida que ativos foram vendidos na tentativa de pagar dívidas principalmente da JBS, menina dos olhos da família que tem sucursais em outros países, como Estados Unidos e Nova Zelândia.
No estado, os Batista têm unidades do frigorífico em Campo Grande, Naviraí, Anastácio e Nova Andradina.
Ascenção com atalhos – Segundo informações do Valor Econômico, a JBS se destacou pela competitividade ao impulsionar o setor que até então estava desacreditado pelos bancos e investidores. Em 2005, com abate diário de 15 mil cabeças de gado em todo o país e faturamento de R$ 4 bilhões, tornou-se o maior frigorífico do país.
Fatos revelados durante a Operação Lava Jato e nas delações premiadas dos Batista, apontam que eles usaram a influência e esquemas ilícitos para serem favorecidos.
Segundo o Valor, Joesley disse ao MPF (Ministério Público Federal), por exemplo, que pagou propinas de US$ 150 milhões referentes a contratos com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a itnernacionalização da JBS.
Reflexos – A JBS começou o ano fechando a unidade de Coxim, a 260 quilômetros de Campo Grande. Embora os diretores da empresa tenham alegado que o encerramento das atividades se deu pelo fim do contrato de sublocação da planta, entidades do setor afirmam que a decisão estava relacionada de certa forma com a crise pela qual passava o mercado de carnes.
Em março, a rede foi impactada pela operação Carne Fraca. As investigações apontaram que agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva.
Nenhuma unidade em Mato Grosso do Sul chegou a ser investigada, mas a credibilidade não apenas da empresa, mas das exportadoras de carne brasileiras foram seriamente abaladas. No mesmo dia em que policiais vasculharam abatedouros no país, o índice Ibovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo, encerrou esta sexta-feira (17) com queda de 2,39%, aos 64.210 pontos, puxado pelas ações da JBS e também da BRF.
O estado começou a ser afetado, de fato, pela Carne Fraca quando importantes clientes deixaram de comprar os produtos do frigorífico, como a União Europeia, Egito, Chile e a China.
A rede então decidiu suspender os abates em seis das sete unidades de Mato Grosso do Sul por alguns dias no intuito de reduzir em 35% a capacidade total de produção. Com isso, o gado ficou represado no pasto, deixando os pecuaristas apreensivos, já que uma vez engordado, o animal deve ser vendido rapidamente para não continuar gerando custos.
Para os consumidores, por conseguinte, o preço dos cortes da JBS despencou nas prateleiras. Alguns dos principais mercados da Capital fizeram promoções.
Aos poucos os países importadores de carne brasileira revogaram os embargos e a companhia decidiu reabrir as unidades no estado, embora tenham reduzido as operações em 35% e dado férias coletivas a funcionários Naviraí, Nova Andradina e Anastácio.
Contudo, as delações dos irmãos Batista denunciando esquema de propinas que envolvia até agentes públicos de Mato Grosso do Sul deixou os pecuaristas receosos em maio, derrubando o valor da arroba.
Desta vez foram os próprios criadores que seguraram o gado no pasto com medo de saírem no prejuízo com preços mais baixos.
Segundo matéria do Valor Econômico em junho, a empresa havia reduzido 65% a escala de abates no intuito de preservar caixa. Novamente os direteores resolveram dar férias coletivas aos trabalhadores, desta vez em Ponta Porã.
No dia 20 daquele mês, o grupo dono do JBS anunciou que começaria a vender ativos para recuperar as contas. A meta era se desfazer de R$ 6 bilhões, incluindo a participação na Vigor da subsidiária norte-irlandesa Moy Park, que processa carnes de aves; e da empresa de confinamento de gado Five Rivers, que opera nos Estados Unidos e no Canadá.
Alguns meses mais tarde começou a tramitar na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar fraudes em incentivos fiscais pela JBS. Como consequência, a Justiça decretou bloqueio de R$ 730 milhões em bens da empresa, causando uma nova crise.
O grupo resolveu paralisar as atividades das sete unidades de bovinos no estado diante da insegurança jurídica, colocando os funcionários na linha de frente contra os parlamentares, já que seus empregos ficaram em risco.
As partes entraram em acordo, liberando os valores, mas deixando como garantia cinco áreas que pertencem ao frigorífico, dando uma trégua até fevereiro do ano que vem para que seja apurado quanto que a companhia deverá devolver aos cofres públicos.
Salva-vidas – Os irmãos Batista venderam a Eldorado Celulose em Três Lagoas, a 338 quilômetros de Campo Grande, por R$ 15 bilhões à companhia indonésia Paper Excellence. Em setembro ela repassou R$ 1 bilhão desse valor e tornou-se acionista minoritária.
A estrangeira só herdará os direitos políticos da planta quando houver a transferência da propriedade. Até lá, o acordo de leniência feito por Wesley e Joesley protegem os novos proprietários de term que futuramente serem penalizados caso haja condenação judicial a multas.