Livro de jornalista faz homenagem a Manoel de Barros
"Um escritor é um homem como os outros: sonha"
José Saramago
O livro "Vaso de colher chuvas"- contos-reportagem com Manoel de Barros - é uma porta entreaberta. Lá, se avista Nequinho, casado há mais de meio século com a mesma mulher, há Stella, a esposa que decide sobre a vida ou morte da poesia, há o poeta que passa as manhãs trancafiado no escritório de "ser inútil", como ele mesmo batizou.
No livro, que reúne contos-reportagem escritos nos últimos 12 anos, o jornalista e escritor Luiz Taques conduz o leitor por um passeio ao mundo manuelino.
Ao colher impressões e contar histórias, o livro traz à tona personagens como Bernardo da Mata, alter ego do poeta. "Bernardo é um bandarra velho, andejo, fazedor de amanhecer e benzedor de águas". Amigo de todas as horas, Bernardo trabalhou na fazenda do poeta, no Pantanal, até a doença determinar a mudança para um asilo de Campo Grande. Bernardo da Mata, o pantaneiro com "cacoete para poeta", morreu em dezembro de 2003.
Nas páginas de "Vaso de colher chuvas", o poeta esclarece até mesmo porque evita as entrevistas. "Entrevista precisa ser uma obra de arte. Para mim, não me satisfaz uma entrevista falada. Falando, a gente está jogando conversa fora", confessa.
Com mais de 20 livros publicados, a procura pela poesia é ofício diário do homem tímido e franzino, que só se vale do lápis no embate com as palavras. "Eu tenho muito medo de me tornar um sujeito que aceita tudo. Sou indignado pela mesmice das palavras", revela na reportagem "Libertário da Poesia".
Se soube tirar de letra um problema de saúde em 2005, se viu em ruínas dois anos depois, quando a fatalidade levou João Wenceslau, o filho caçula.
"Fazendeiro, advogado, piloto, corretor de imóveis, contador de causos, violeiro, carregador de fios", João morreu em março de 2007, vítima de um acidente de avião no Pantanal. No final das 59 páginas, persiste a sensação de que o poeta também é um homem como outro qualquer.
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