Acolhida no Brasil, belga sofre em silêncio ao ver seleção perder
Julie já fez intercâmbio no Brasil e veio visistar a família que a acolheu. Nervosismo e olho na tela marcaram o jogo para a jovem Belga

Julie respirava fundo a todo momento. Sentada com as duas mãos juntas, em forma de prece, ela se projetava para frente, mais perto da televisão. No primeiro gol da França, que venceu a Bélgica por 1x0, a jovem Belga de 22 anos leva a mão na cabela e fecha os olhos. Foi assim, com silêncio e nervosismo, que Julie Hardeel, assistiu o tenso jogo entre Bélgica e França nesta terça-feira (10).
Julie vive na Antuérpia, na Bélgica, mas veio visitar os amigos e a “família brasileira”. A ligação com o país veio de um intercâmbio que ela fez em 2013, em Campo Grande. “Agora vim passear”, conta. “Vou ficar três semanas”.
“Aqui a cultura é muito diferente. No intercâmbio eu escolhi três países: Brasil, Argentina e Estados Unidos, aí a Agência escolheu o Brasil”, comenta. Para a jovem, o país tem pessoas “muito abertas”. “Fui num bar esses dias e foi muito legal. A comida é muito diferente”. Por aqui, Julie já foi encantada pela culinária. Pastéis, carolinas e doces de leite são os preferidos.
“Para a Bélgica foi um dia muito especial”, diz, sobre a vitória que eliminou o Brasil nas quartas de final. “Só em 1986 chegamos numa semifinal. Estou com muita vontade de estar com os meus amigos”. Sobre o jogo entre o país natal e o país que a acolheu, Julie não ficou “nem um pouco dividida”. “Eu estava torcendo pelo Brasil nos outros jogos, mas contra a Bélgica não tem como”, relata a Belga, que fala bem o português.
Durante o jogo Julie não desviava o olhar da televisão. “Estou muito nervosa”, revelou, apesar da aparência já ter denunciado o estado de ânimos da jovem. Julie é bem apegada à família que a acolheu. “É bem legal porque essa mãe brasileira já morou fora, então ela entende bem”.
De vez em quando a jovem olhava no celular, para checar se havia chegado alguma mensagem do irmão. “Meu irmão está muito nervoso. Meus pais estão assistindo ao jogo na Espanha, num café Belga”, contou.
A mãe brasileira é a bancária Anadia Oliveira de Andrade, 50, que também acompanhou o jogo com nervosismo. “Olha, ela foi uma grata surpresa. Ela é muito querida e expande a nossa cultura e dessa vez a vinda dela foi uma total surpresa. Ela até vai na casa das minhas amigas, as crianças abraçam ela”, explica.
Sobre a “rivalidade” entre o jogo do Brasil com a Bélgica, Anadia e o filho, Yuri Andrade Peixoto, 18, não acham que a derrota tenha sido “o fim do mundo”. “No dia do jogo a gente estava juntos, ficamos tristes pelo Brasil, mas feliz pela Bélgica”, diz Yuri.
“Afinal nós temos 5 estrelas. A Bélgica não tem nenhuma, então por que não dividir esse sentimento?”, comenta Anadia. “Ela se emociona, chora. Eu tenho certeza que ela queria estar com a família dela nesse momento, mas não deu então vamos vibrar com ela”, comentou a “mãe”, antes da derrota da Bélgica.
Durante o jogo Julie murmurava palavras Belgas toda vez que a bola chegava perto da rede. “É engraçado como os comentários falam os nomes dos jogadores”, afirma, sobre a pronúncia dos nomes belgas. Ao fim do jogo, Julie estava ainda mais quieta e com os olhos um tanto marejados.
“É o pé frio de vocês”, brinca, apontando para a família. “Estou triste...sim. Mas tem outro jogo para o terceiro lugar”, conclui.