ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
JANEIRO, SEGUNDA  27    CAMPO GRANDE 23º

Esportes

Intocável há 4 décadas, Cezário já “escapou” da prisão por desvio de dinheiro

Preso pelo Gaeco, “dono da bola” foi acusado de tirar dinheiro do futebol para financiar própria campanha

Por Anahi Zurutuza | 21/05/2024 17:51
Intocável há 4 décadas, Cezário já “escapou” da prisão por desvio de dinheiro
Francisco Cezário de Oliveira deixando a casa dele, no Taveirópolis, preso (Foto: Henrique Kawaminami)

No centro da Operação Cartão Vermelho, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), o presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, Francisco Cezário de Oliveira, já tem na “ficha técnica” condenação por desviar recursos da entidade.

Em 2009, o juiz Paulo Afonso de Oliveira, que atuava na 1ª Vara Criminal de Campo Grande, condenou Cezário a 4 anos e 5 meses de reclusão no regime semiaberto por apropriação indébita. Ele havia desviado recursos da FFMS, conforme investigação da PF (Polícia Federal) à época, para uma conta bancária pessoal e para a coligação de sua candidatura a prefeito de Rio Negro, cidade que governou entre 2001 e 2004.

O inquérito, que virou denúncia há 15 anos, foi aberto em 2001, a partir da CPI da Nike, na Câmara Federal. Ele já havia ocupado o cargo de prefeito no município, entre 1976 e 1983, e foi eleito novamente, em 2000, pelo PSDB, com 1.656 votos – 48% do eleitorado rio-negrense que foi às urnas. A suspeita surgiu porque, patrocinada pela marca mais valiosa do mundo esportivo, a CBF aportou R$ 15 mil – o equivalente a 99 salários-mínimos da época – para a campanha de Cezário para prefeito da cidadezinha a 150 km da Capital sul-mato-grossense.

Cezário também teria feito, entre 1999 e 2000, transferências em benefício próprio. O prejuízo comprovado, conforme decisão judicial, era de R$ 56.610,00 – 374 vezes o valor do salário-mínimo.

O presidente da FFMS foi condenado ainda a ressarcir os cofres da entidade do montante e ao pagamento das custas processuais. “Os motivos do crime, como é próprio dos delitos de apropriação indébita, são egoístas e atingem o patrimônio alheio”, afirmou o magistrado na sentença, conforme publicado pelo Campo Grande News, em 2 de setembro de 2009.

A culpabilidade do condenado ultrapassou os limites normais do tipo, em razão do alto valor apropriado, e ainda pelo fato de a vítima tratar-se de uma federação que tem por fim zelar pelo desporto, direito constitucionalmente garantido no artigo 217 da Constituição Federal”, completou o juiz Paulo Afonso de Oliveira.

Naquele mesmo ano, o homem que acumulava mandatos à frente da federação desde a década de 80, alternando-se no cargo de presidente e vice-presidente, ganhou “de presente” da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) mais 5 anos de permanência no comando da entidade.

Com a justificativa de garantir a continuidade nas ações voltadas a Copa do Mundo no Brasil, a CBF orientou a prorrogação dos mandatos dos presidentes das federações das então candidatas a sediar jogos do evento. Cezário havia sido eleito dirigente pela última vez em 1998 e depois, foi reeleito pelo menos duas vezes antes de ter o mandato prorrogado.

A Capital foi uma das candidatas a sediar partidas da Copa do Mundo de 2014, mas perdeu a disputa para Cuiabá, no Mato Grosso.

Intocável há 4 décadas, Cezário já “escapou” da prisão por desvio de dinheiro
O presidente durante o lançamento do Campeonato Estadual de Futebol em 2011 (Foto: Campo Grande News/Arquivo)

Vai e vem – Cezário não foi preso em 2009 e recorreu da condenação. Em junho de 2010, às vésperas do julgamento do recurso no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), o dirigente disse em entrevista ao Campo Grande News que não estava preocupado. “Isso é um problema da Justiça. Se me acusam, devem provar. Mas não tenho informação sobre o andamento do processo, nem de data de julgamento”.

Um mês depois, a 2ª Câmara Criminal, por unanimidade, manteve a pena de prisão. Mas, a defesa de Cezário conseguiu reverter a condenação mais tarde, pelo que foi registrado em jornal impresso de Mato Grosso do Sul, sem mais detalhes.

O Campo Grande News verificou com fonte na Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) e nunca houve passagem do dirigente pelos presídios de Mato Grosso do Sul, nem nas unidades para os apenados no regime semiaberto.

Intocável há 4 décadas, Cezário já “escapou” da prisão por desvio de dinheiro
Na casa de Cezário, policial militar do Gaeco conta dinheiro apreendido e na parede, o "passado" do futebol em MS (Foto: Gaeco/Divulgação)

Entenda – Nesta terça-feira (21), o Gaeco levou Fracisco Cezário de Oliveira, de 77 anos, para a cadeia. A Operação Cartão Vermelho investiga esquema que desviou R$ 6 milhões da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, entidade que recebe dinheiro público e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para custear o esporte no Estado.

A casa do presidente da FFMS – imóvel de alto padrão, localizado na Vila Taveirópolis, na Capital – também foi vasculhada. No local, agentes apreenderam mais de R$ 800 mil em espécie.

Contra Cezário também havia mandado de prisão preventiva (por tempo indeterminado). Como ele é advogado com registro ativo, o trabalho foi acompanhado por representantes da Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas dos Advogados de Seccionais da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

André Borges, responsável pela defesa de Cezário, afirmou que a quantia encontrada na casa tem origem lícita. “Não é crime manter dinheiro em casa. Tem origem lícita, que no momento oportuno será declarada”.

Borges não advogava para o presidente da FFMS em 2009. Por isso, não tem detalhes sobre a condenação.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias