Quem foi Belmar Fidalgo? Esportista que "virou" estádio e hoje é praça

Todo mundo fala da Praça Esportiva Belmar Fidalgo, mas poucos sabem o que deu origem ao nome de um dos pontos mais importantes para o esporte campo-grandense, e surgiu como primeiro estádio da cidade. Até campanha foi feita para homenagear o personagem que dá nome ao local, que tem espaço para caminhada, corrida, esportes na areia, futsal, futebol, basquete e vôlei.

As respostas e a história completa da praça geraram, inclusive, a dissertação de mestrado "Praça Esportiva Belmar Fidalgo: a metamorfose de um estádio de futebol em um espaço sociocultural e esportivo em Campo Grande". O texto também virou um livro. A autoria é da professora Ana Cristina Medeiros Rodrigues, de 55 anos, que é formada em Educação Física e Direito.

A história de vida dela se mistura com a Praça Belmar Fidalgo, nascida em São Paulo (SP), ela veio para Campo Grande em 1982 e trabalhou como profissional de educação física por 17 anos na Praça Belmar Fidalgo. Atualmente, ela trabalha na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) como professora no curso de Direito.

Mas vamos à história. Belmar Fidalgo foi um homem dos mais importantes para sua época no esporte sul-mato-grossense (quando o Estado ainda era Mato Grosso). Ele nasceu em 3 de novembro de 1917 em Campo Grande.

Em sua certidão de nascimento, o registro é de Três Lagoas. No texto escrito por Ana, ela explica que "acredita-se que por conta das dificuldades encontradas na época, o registro civil tenha sido feito anos mais tarde ao nascimento da criança, e, também em outra localidade. Como a certidão de nascimento tem fé pública, a sua autenticidade não é questionada".

Ele era filho do marceneiro Felix Fidalgo e Regina Zambelli e viveu a infância em Três Lagoas. Homem do esporte é o melhor jeito de defini-lo. Ele atuou no atletismo, futebol, vôlei e basquete pelo que se tem registro. Ainda criança, foi incentivado pelos pais e jogou pelo Commercial Sport Club. Fidalgo foi apelidado de Feitiço e jogava de meia-esquerda.

Praticar esporte em Campo Grande passava por Belmar Fidalgo. Segundo a professora, ele foi um grande incentivador da prática esportiva, ativo nas competições intermunicipais e como promotor desses eventos. Desse modo, se os esportes ganharam notoriedade em Campo Grande, muito se deve a ele.

Segundo o jornalista Reginaldo Alves Araújo, citado no trabalho de Ana, Belmar é considerado um articulador do futebol em Campo Grande. O homem do esporte pode ser comparado ao Charles Miller (que foi responsável por trazer o futebol para o Brasil) e homenageado com uma praça em frente ao Estádio Pacaembu, em São Paulo (SP).

Belmar Fidalgo tinha grande compreensão desportiva e era sempre muito pontual com os compromissos que assumia, desse modo, acredita-se que ele tenha sido uma celebridade admirada pela população campo-grandense e querido pelos torcedores das equipes de que fez parte", escreveu Ana Cristina.

Para além do esporte, Belmar serviu ao Exército Brasileiro e cumpriu seu período na época da 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Ele chegou a ser segundo-sargento da Guarnição de Campo Grande. Ele morreu em 19 de agosto de 1953 no Hospital Militar de Campo Grande.

Campanha para homenagem - Menos de um mês após a sua morte, o Jornal do Comércio começou uma campanha para que o nome do estádio de Campo Grande fosse Belmar Fidalgo. A data da primeira publicação é de 3 de setembro de 1953. Por 10 dias seguidos, conforme consta na dissertação de Ana, o jornalista Aníbal Leite publicou materiais incentivando a mudança do nome.

O espaço já existia desde 1930, quando foi doado pelo prefeito de Campo Grande à época, Deusdedit de Carvalho, para a Liga Esportiva Municipal Campo-Grandense. "Tinha uma cláusula que ali só poderia ser construído algo relacionado ao esporte e iniciou com a questão do futebol", relembra Ana.

O jornalista teve apoio de pessoas influentes da época. Dentre eles se destaca o sargento Elias Gadia, tenente Raul Sans de Matos, capitão Arcy Neves e coronel Melanio Barbosa. Até mesmo o então governador Fernando Corrêa da Costa deu seu depoimento, também favorável à campanha.

Vamos dar o nome de Belmar Fidalgo ao nosso Estádio Municipal? Uma das maneiras altruístas de se perpetuar a memória de um homem que foi em sua vida de lutas, um propulsor de um progresso, um beneficiário, um incentivador das belas cousas, etc [...] Por todos êsses feitos do grande esportista campograndense, é uma obrigação que se impõe a todos nós, esportistas, perpetuar a sua memória, dando a uma das nossas praças de esportes o nome venerado de Belmar Fidalgo (sic)".

Após campanha fervorosa na mídia, o Estádio Belmar Fidalgo ganhou esse nome oficialmente no dia 25 de outubro de 1953 com aval do então prefeito Wilson Fadul. Anos mais tarde, em 1957, veio o primeiro sistema de iluminação.

Antes de virar praça, o estádio passou por muitas transformações, como é possível conferir nas fotos abaixo. Da estrutura inicial, sobrou somente a casa que ficava ao lado da arquibancada. Atualmente, ela é a sede do memorial Belmar Fidalgo e a administração da praça.

Mudança até virar praça - Ana Cristina explica que a mudança do Estádio Belmar Fidalgo para praça veio muito catalisada pelo Estádio Pedro Pedrossian, o Morenão. Inaugurado em 1971, ele tinha capacidade para cerca de 40 mil pessoas e passou a ser a casa do futebol sul-mato-grossense na saída para São Paulo.

Mas antes de virar um espaço de praça esportiva, o Estádio Belmar Fidalgo recebeu muitas competições. Teve a honra de receber o maior jogador brasileiro de todos os tempos: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

O jogo foi no dia 11 de maio de 1965 para amistoso entre Comercial e Santos. A partida acabou 4 a 1 para a equipe paulista. Pela contagem de gols do Rei do Futebol, esses foram os tentos 710, 711 e 712. O outro gol foi feito por Coutinho. O colorado marcou com Nino. O jogo foi válido como um amistoso.

A partir de 1980, o Estádio Belmar Fidalgo perdeu seus muros e, posteriormente, houve a retirada das arquibancadas e dos vestiários para a criação de duas quadras de esportes de areia, fazendo com que o acesso fosse disponibilizado a todos os campo-grandenses. A partir daí, nascia a praça de esportes.

Em sua nova fase, passou a receber provas de atletismo por muito tempo, depois aulas de ginástica, competições de vôlei. Dentre elas, se destaca o Circuito Nacional de Vôlei de Praia, que veio pela primeira vez a Mato Grosso do Sul em 1988.

No início de 1990, contextualiza Ana em seu trabalho: "entre os anos de 1991 e 1992, foi realizada uma consulta popular acerca de qual seria a necessidade da população quanto à utilização do Estádio Belmar Fidalgo, e segundo consta nos arquivos, os cidadãos reivindicaram que ali fosse reformulado um centro de lazer, com ênfase às atividades esportivas diversificadas".

O fechamento para uma nova reforma foi em 1993 e o estádio virou praça em 1994. Esse projeto de arquitetura é o que se mantém até o momento com o campo de futebol, quadras de vôlei, banheiros, quadra de futsal e basquete.

Algo que chama a atenção é que o campo de futebol tinha outra orientação com os gols ficando para a Rua 13 de Junho e 25 de Dezembro. Atualmente, o campo fica com as linhas de fundo para as Ruas Dom Aquino e Barão do Rio Branco.

"Segundo o projeto, a Praça Esportiva Belmar Fidalgo passaria a ter um módulo de banheiro e lanchonete (n. 1); Sede administrativa (n. 2); Campo de futebol suíço (n. 3); Quadras de areia (n. 4); Quadras poliesportivas (n. 5); Vestiários masculinos e femininos (respectivamente ns. 6 e 8); Coreto (n. 7) e Play Ground (n. 9)", cita Ana Cristina.

Livro e memorial para Belmar Fidalgo - A professora Ana Cristina Medeiros Rodrigues, de 55 anos, fez de seu trabalho (que fundamenta a reportagem) um livro que assina com a professora Maria Augusta de Castilho. Ana explicou ao Campo Grande News o motivo da escolha do tema.

Quando fui fazer meu mestrado em desenvolvimento local, a minha orientadora me sugeriu de falar de algum ponto turístico, acho uma história interessante. Se transformou em uma praça central e super frequentada. Foi o que deu início a minha pesquisa. Eu tenho contato muito grande com o local", descreveu.

Tudo partiu de uma caixa com documentos, própria certidão de nascimento e outros registros de Belmar Fidalgo que ficavam na praça. Ela explica que se não fosse sua pesquisa, tudo isso poderia ter se perdido.

O livro tem o conteúdo da dissertação e seu lançamento foi em 2017 em evento na própria praça. Ana afirmou que tem cerca de 100 unidades da obra e que vai doar para a rede pública de ensino. "Esse livro a gente conseguiu fazer depois para tese, final do ano, conseguimos a produção. Eu tenho algumas unidades que não estão à venda, e eu pretendo fazer doação para algumas escolas de Campo Grande".

O Memorial do Esporte fica na antiga casa que estava ao lado da arquibancada no estádio. É a única estrutura remanescente da estrutura do antigo estádio. Hoje abriga a administração e o memorial.

Dentro dele, é possível encontrar um resumo da história de Belmar, troféus antigos, bolas usadas no século passado, camisas do Operário, Comercial e fotos antigas (veja a galeria). A visita é gratuita e o espaço funciona das 8h às 12h e das 13h às 17h de segunda a sexta-feira.

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Confira a galeria de imagens: