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Esportes

Tadeu Macrini e Lima, encontro de ídolos dos bons tempos do Operário

Juarez Araújo* | 10/11/2020 22:00
Tadeu Macrini e Lima, encontro de ídolos dos bons tempos do Operário
O ex-atacantes Lima e Tadeu Macrini em novembro de 2020: depois de várias décadas, o reencontro de dois goleadores que fizeram história no Operário de Campo Grande (Foto: Arquivo pessoal)

Quando o atacante paulistano Francisco Tadeu Macrini, ou simplesmente Tadeu Macrini (26/11/1952), o eterno goleador da história do Operário de Campo Grande, já arrasava com as defesas adversárias, no início dos anos de 1970, o garoto  Adesvaldo José Lima (17/09/62), ainda vivia em Camapuã, onde nasceu,  a 140 km de Campo Grande, e nem sonhava  jogar no Estádio Morenão, muito menos fazer parte da legião de craques que o Galo campo-grandense tinha na época. Apenas torcia e observava o ídolo.

Mas o destino tratou de convergir pela aproximação dos dois. Quando chegou no Operário no final da década de 70, ainda juvenil, Lima olhava para o goleador Macrini com a admiração de fã e fazia de tudo para agradá-lo, até lavar o seu carro, um Puma de cor vermelha, que na época era uma espécie de marca registrada do atacante que havia acabado de sair da base do São Paulo.

Tadeu e Lima tiveram poucos anos jogando juntos no Operário, mas foi o suficiente para mexer com o coração de cada um e fazer surgir uma relação de amizade e admiração mútua. Tadeu Macrini sabia que ali estava um jogador de grande futuro e dava os melhores conselhos para o jovem jogador que quase foi parar no maior rival dos operarianos, o Esporte Clube Comercial, contra o qual havia um dos principais embates regionais do país na época, o clássico Comerário.

Tadeu Macrini e Lima, encontro de ídolos dos bons tempos do Operário
Tadeu Macrini com a camisa do Operário na década de 1970, um artilheiro que marcou época na história do clube (Foto: Arquivo pessoal)

Lima chegou a ser negociado pelo seu pai com o Comercial, depois de ser reprovado no primeiro teste no Operário, mas acabou sendo “sequestrado” pela diretoria operariana, na época liderada por Irineu Farina, um tipo de dirigente que fazia tudo nem media consequências para beneficiar o seu clube, uma figura quase extinta no futebol moderno.

Mesmo ainda muito jovem, Lima diz que tinha plena consciência de que encontraria em Tadeu Macrini, no Operário, um espelho de como se tornar um bom atacante. Quando Tadeu foi negociado, Lima assumiu a posição de titular no comando do ataque operariano. Depois disso, os caminhos dos dois raramente se cruzaram.

Eram dois grandes goleadores. Segundo o site de estatísticas “Futebol80”, Tadeu Macrini fez 105 gols em jogos oficiais ao longo da sua carreira entre 1971 e 1987, dos quais 48 foram marcados com a camisa do Operário. Já o atacante Lima, conforme dados do site “ogol.com”, marcou 205 gols em jogos oficiais, 51 deles pelo time campo-grandense.

Esta semana, depois de várias décadas afastados, enfim, Lima e Tadeu Macrini se reencontraram em um momento especial de boas lembranças e também muitas risadas. O encontro foi no Parque São Jorge, antigo Centro de Treinamento do Corinthians, um lugar de muitas emoções para o atacante sul-mato-grossense, que em 1984 trocou o Operário de Campo Grande para ser goleador dos corintianos.

Quem promoveu o reencontro foi ninguém menos do que Basílio, ídolo histórico do Corinthians, autor do gol da vitória diante da Ponte Preta de Campinas que valeu a conquista do título do Paulista de 1977, depois de 24 anos de espera. Imaginem o quanto foi animada a resenha.

"No Operário eu chamava o Lima de meu filho. Era um garoto de ouro. Sabia que ele tinha um futuro enorme como atacante, como aconteceu. Tinha uma admiração grande por ele como jogador, e agora como amigo. É um cara sensacional que fez uma história no futebol", disse Tadeu Macrini, que depois do Operário, onde virou ídolo da torcida do Galo, jogou no Cruzeiro, Coritiba, Santa Cruz, Vitória da Bahia, XV de Piracicaba, São Bento de Sorocaba, e encerrou a carreira no Nacional de São Paulo.

Tadeu Macrini e Lima, encontro de ídolos dos bons tempos do Operário
Registro histórico: o atacante Lima pouco antes de enfrentar o Fluminense pelo Campeonato Brasileiro de 1984 em um dos seus últimos jogos com a camisa do Operário no Estádio Morenão (Foto: Reprodução)

Ao encerrar a carreira nos gramados, Tadeu Macrini virou empresário. Montou um laboratório, a Biomacro, criou o Gelobio, uma espécie de gelol e, depois de vender o laboratório, arriscou no ramo de restaurantes, chegando até duas cantinas de alto nível em São Paulo. Agora, aos 68 anos, vive apenas para os netos Enzo e Manu, casal de gêmeos, que a filha Fabienne lhe deu.

 "Tadeu Macrini foi e sempre será meu ídolo", disse Lima. "Como era gostoso ver esse cara dar uma arrancada em cima dos beques (zagueiros) e marcar gol. Ninguém segurava. Era um centroavante, estilo do Romário", elogiou Lima.   "Quando comecei a fazer gols nos treinos no Operário, tiveram que negociar o Tadeu. Ficou pesado pra ele", brinca Lima, sorrindo para o ex-companheiro. "Não dava para a gente jogar junto. Tinha o Arthurzinho de meia que era um craque também", lembra Lima.

"Queria jogar com o Lima, fazendo uma dupla que seria perfeita. Pedia para o Carlos Castilho, técnico do Operário na época, para colocar nos dois no ataque.  Nunca fomos escalados na mesma equipe, infelizmente. Tinha certeza que daria certo porque tínhamos características diferentes", completa Macrini.

Tadeu Macrini e Lima, encontro de ídolos dos bons tempos do Operário
Lima no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, na foto de capa de a Gazeta Esportiva que definiu sua transferência para o Corinthians em 1984 (Arquivo/Gazeta Esportiva)

Do Operário, Lima foi para o Corinthians. Ele era um dos destaques do Campeonato Brasileiro de 1984, passou a ser sondado por vários grandes clubes e no mesmo ano foi comandar o ataque corintiano.

Uma matéria de capa de a Gazeta Esportiva, principal jornal sobre conteúdo de esportes da época no Brasil, produzida com o atacante no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em uma conexão do voo que trazia a delegação do Operário desde a capital do Rio Grande do Norte, onde enfrentou o ABC de Natal, foi decisiva para a sua contratação pelo Corinthians. Na mesma semana da publicação ele foi apresentado no Parque São Jorge como reforço do clube paulista.

Depois do Corinthians, Lima foi para o Grêmio, onde é ídolo até hoje, Santos e Benfica (Portugal). Por onde passou deixou sua marca como um goleador de primeira linha. Hoje, aos 58 anos de idade, tenta conseguir atividade no futebol, mas acha difícil pelo nível dos dirigentes. Apenas rasgou elogios aos dirigentes do Grêmio, em especial ao atual presidente, Romildo Bolzan Júnior.

"Ele é um cara incrível. Um dirigente diferenciado no futebol de hoje", elogia Lima, que tenta cuidar da carreira do sobrinho Raysson, lateral direito e que também joga no meio-campo, de 16 anos, filho do irmão mais novo, Ronivaldo.

A resenha entre Tadeu e Lima iniciou às 12h e lá pelas 15 horas, parecia que não iria parar nunca. Lembranças, histórias vividas entre dois craques em um tempo de ouro do futebol sul-mato-grossense, onde Operário e Comercial, em especial quando tinha o clássico, levavam multidões ao Morenão. O clássico Comerário está próximo de fazer mais uma decisão pelas quartas de final do Campeonato Sul-Mato-Grossense, no fim deste mês.

 Agora, Tadeu e Lima prometem outros encontros, principalmente depois do fim da pandemia de Covid 19. Quem sabe, um encontro em Campo Grande para rever amigos, sentir ainda o quanto são queridos pela torcida do Operário. "Que alegria. Que momento. Tenho uma admiração de pai com o Tadeu. Foi bom demais encontrá-lo", finalizou Lima.

"É filho. Bem demais ter encontrado contigo. Não desapareça mais, porque você sabe que estou sempre aqui em São Paulo. Você é mais difícil, porque nunca sei se você está em Campo Grande, Lisboa, Porto Alegre ou Santos", finaliza sorrindo Tadeu Macrini.

* Juarez Araújo é jornalista. Natural de Campo Grande, há 42 anos vive em São Paulo. Foi ele que abriu as portas para divulgar, no Jornal A Gazeta Esportiva,  os feitos do jogador Lima no Operário de Campo Grande, que valeram a sua contratação pelo Corinthians. Atualmente, apresenta o Programa 424 no Canal SP, em São Paulo.

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