Legumes foram tão importantes quanto os pensadores para a Idade Moderna
Qualquer livro que você leia verá nomes como Copérnico, Galileu, Da Vinci, Bacon, Descartes, e outros tantos, como os grandes pensadores que erigiram a razão no lugar de dogmas religiosos no interlúdio entre o período medieval e a Idade Moderna. Mas há dois elementos faltando nas listas que aparecem nos livros: a batata e o milho.
Tantas especiarias que não conseguiríamos comer.
No final da Idade Média, os pratos continham tantas especiarias, até 15, que hoje dificilmente seriam comestíveis para os comuns mortais. A ideia era ostentar, quem colocasse mais especiarias na comida era mais rico e poderoso. Os nobres também disputavam os melhores chefs e os “trinchantes”. Essa é uma arte culinária que desapareceu. Eles eram encarregados de cortar a comida na mesa, convertidos em símbolo de status social. Diziam que era um espetáculo ver os trinchantes cortarem a comida.
“Sent Soví“, o livro mais antigo da alta culinária.
“El libre de Sent Soví” é tido como o mais antigo da alta gastronomia medieval. Tem 72 receitas mediterrâneas e é atribuído a um cozinheiro da monarquia inglesa. A obra é datada de 1.024, durante o mandato do viking Canuto, o Grande, rei da Inglaterra, Dinamarca e Noruega. É ele que dá as diretrizes de como seria a cozinha até o final da Idade Média. Os ingredientes principais eram o pão, o azeite de oliva, o queijo, as carnes e os peixes. O açúcar era usado em pratos salgados. Mas, como as especiarias, era produto de luxo.
E chega a batata e o milho.
Tal como hoje, havia um abismo entre a culinária de ricos e a de pobres. A maioria da população comia o que podia, especialmente as “qualquer coisa” colocada em caldeirões, presos no teto da sala nas residências dos menos abastados. Era uma sopa “vale tudo”. Cabia qualquer comida. Como regra geral, esses “sopões“ eram acompanhados por pão. Enquanto havia pavão e leitão na mesa do nobre, pão e sopão comandavam o cardápio dos pobres. Mas o milho e a batata da América do Sul revolucionaram esse estado de coisas. À partir da chegada deles na Europa, pobres e ricos encontraram algo em comum para comer. Se os grandes pensadores e artistas do renascimento criaram uma nova ordem para as sociedades, nós latinos, hoje tão perseguidos e mal vistos, demos a eles os alimentos que sustentaria a nova sociedade. Meia volta, volver, rumamos ao passado medieval.
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