Casa de madeira é o esconderijo de Bernardino que muita gente já quis derrubar
Há 50 anos, Bernardino Soares Silveira guarda lembranças da casa de madeira que virou relíquia da família. O lugar erguido na década de 1950 resiste ao tempo graças ao jeito caprichoso dele e da esposa Nancy, na Vila Gomes.
Apesar da estrutura torta e do amontoado de coisas no interior da residência, sem uso, até quem já quis derrubar conseguiu enxergar o valor que a residência tem para o casal.
Aos 90 anos e com uma lucidez plena, Bernardino amanhece lendo o jornal na varanda de casa. No terreno de 600m², a morada dos dois fica nos fundos, também numa casa de madeira, mas bem mais estruturada e feita por ele.
Já no meio do quintal está a casa bege, velha e meio sem jeito, mas que ele prefere chamar de esconderijo. "É aqui que eu me escondo", brinca.
Derrubar a casa já passou pela cabeça de Bernardino e de quase toda família, conta. "Eles queriam derrubar, fazer algo novo, porque ninguém usa mais", diz.
Mas foi a esposa que conseguiu acabar com a ideia de colocar um fim nas tábuas. "Tenho tanto orgulho, criamos 5 filhos debaixo desse teto. Meus filhos até pensaram em derrubar para construir alguma coisa, mas todo mundo acabou vendo o valor do trabalho do pai".
A residência mais antiga vive fechada, no interior estão móveis e um amontoado de objetos que o casal prefere deixar reservado. Agora, distante da ideia de demolir, o lugar vira motivo de contemplação pelo capricho ao redor.
Quase impossível não perceber os cuidados no quintal. Dona Nancy Silva Silveira, de 83 anos, é quem faz questão de deixar tudo impecável, tudo que é possível enxergar na grama bem cortada, o jardim florido e o enorme pinheiro plantado e mantido por eles. "Aqui é a nossa vida, tem que cuidar né. A gente cresceu aprendendo que tudo tem que ser no capricho", afirma a esposa.
Bernardino conta que chegou no terreno depois de largar a fazenda onde foi criado em Jaraguari (MS). A casa foi erguida com apenas três peças e depois ampliada para conforto da família. Depois de ter sido peão, caminhoneiro e mecânico, o serviço de pedreiro ele tirou de letra.
"Vim de família pobre. Naquele tempo o pai só ensinava trabalhar e hoje dia ninguém quer pegar no pesado.Tudo que tem aí foi eu que fiz", afirma.
Quando ele chegou na região, o cenário era diferente, repleto de mato. Hoje, os prédios e casas de alvenaria tomam conta da região. Tanto que a casa bem cuidada de madeira é uma das poucas residências antigas com arquitetura intacta.
Vivendo nos fundos, ele a esposa levam uma vida tranquila cheia de recordações. "Isso daqui viu o nosso melhor tempo, quando a criançada corria por esse quintal", lembra Nancy.
A vantagem segundo ela é a simplicidade. "A casa de madeira sempre fez parte da gente. Acho que mudar não ia fazer diferença na nossa vida. A gente gosta de viver assim".
Bernardino diz que só tem o que agradecer à vida. Porque, assim como a casa, conquistou uma felicidade simples, mas plena. "Sempre fomos pobres, mas só tenho filho de bem. A gente ergueu essa casa para criar todo mundo e hoje eles criam a gente. Agora, essa casa só vai para o chão o dia que eu viajar para outro mundo", afirma.
Curta o Lado B no Facebook.