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Arquitetura

Com mais de mil objetos em casa, Jânio entregou a alma ao Pedrossian

Família até implora para Jânio voltar a cidade Natal, mas nada tira o professor do Maria Aparecida Pedrossian

Thailla Torres | 26/08/2021 08:00
Com mais de mil objetos em casa, Jânio entregou a alma ao Pedrossian
Jânio lendo livro na rede, que fica dentro do quarto, em sua casa cheia de objetos. (Foto: Thailla Torres)

História é o que não falta na casa laranja com pintura de arara na fachada, no bairro Maria Aparecida Pedrossian. Ela é uma das 1.035 casas lançadas no residencial ainda na década de 1980 e se tornou morada do professor de Filosofia Jânio Batista de Macedo, de 62 anos.

Ao entrar na residência, a cena lembra um antiquário ou museu. Não fosse a organização de cada item e a limpeza aparente em todos os cantos, muitos diriam que o professor Jânio é um acumulador. Mas ele se justifica logo de cara: “Sou um acumulador muito organizado”, brinca.

Cada cantinho da casa revela ambientes que já se perderam na maioria dos lares, principalmente com a onda “minimalista” tão em alta. Mas Jânio não se importa. “Gosto de tudo o que tenho aqui e sei a história de cada objeto. Tudo tem uma história”, garante.

Com mais de mil objetos em casa, Jânio entregou a alma ao Pedrossian
Casa do professor Jânio é lotada de objetos e lembranças que impressionam visitantes. (Foto: Thailla Torres)

A casa é uma viagem no tempo, assim como a memória intacta do professor, que sabe cada detalhe do bairro e da cidade, mesmo não sendo natural de Campo Grande — mas seu coração é como se fosse. “Eu amo Campo Grande, eu amo este bairro”, diz. “Minha mãe vive pedindo para eu voltar para a minha cidade, mas não volto e brinco que serei enterrado em Campo Grande”, conta.

Na casa, sem dúvida, há mais de mil objetos, entre obras de arte, bibelôs, lembranças de viagens, instrumentos musicais, livros, discos de vinil, artesanatos e muitos brinquedos dos netos.

“Em todos os lugares onde morei, sempre gostei de organizar a casa. Nunca gostei de parede limpa; sempre gostei de ter muitas coisas, gosto de ver a casa recheada de lembranças e memórias”, afirma.

Com mais de mil objetos em casa, Jânio entregou a alma ao Pedrossian
Por todos os cantos, há paineis de fotografias da família e amigos. (Foto: Thailla Torres)
Com mais de mil objetos em casa, Jânio entregou a alma ao Pedrossian
Nem o banheiro escapou da decoração e ainda tem ventilador. (Foto: Thailla Torres)

Nem o banheiro escapa de uma porção de objetos. Para ver tudo o que Jânio tem pela casa, é preciso passar horas ou, quem sabe, dias por ali. No quarto, além da cama para descanso, ele fez questão de colocar uma rede para os momentos de leitura. “Esta casa é meu refúgio; cada peça aqui tem um significado especial para mim.”

Louco por música, o rádio toca 24 horas na residência. “Com o rádio, não há solidão. Ainda que haja uma pobreza nas programações, em termos de música e conteúdo, tem umas duas rádios que são boas e dá para ouvir canções muito bacanas. Por isso, nunca desligo o rádio na minha casa.”

Os instrumentos também servem para recepcionar os amigos, que adoram fazer uma cantoria por ali. Embora a pandemia tenha reduzido as visitas, ele espera, em breve, retomar os encontros, que são sempre especiais. “Tenho muitos amigos empresários, músicos, artistas, pessoas que gostam de estar aqui e aproveitar as minhas memórias.”

Colecionador assumido, ele tem uma série de discos e não abre mão das obras de arte — inclusive, com inúmeras obras de Ilton Silva espalhadas pelas paredes. “Gosto muito de valorizar a arte e os artistas do nosso estado.”

Com mais de mil objetos em casa, Jânio entregou a alma ao Pedrossian
Uma das salas da casa com inúmeras obras de arte. (Foto: Thailla Torres)
Com mais de mil objetos em casa, Jânio entregou a alma ao Pedrossian
Outro ângulo do quarto do professor. (Foto: Thailla Torres)
Com mais de mil objetos em casa, Jânio entregou a alma ao Pedrossian
Jânio abraçado com árvore que ele plantou no bairro. (Foto: Thailla Torres)

Quem ouve Jânio falando até pensa que ele é campo-grandense. Mas ele nasceu em Cáceres (MT) e chegou a Mato Grosso do Sul na década de 1980 para lecionar. Foi professor na Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado e no Colégio Dom Bosco. Concluiu o curso de Pedagogia, com especializações na área de Educação e Cultura Brasileira.

Enquanto procurávamos, pelo bairro, pessoas que merecessem uma estátua, o nome de Jânio foi o que mais se ouviu. Quando ele passa de carro pelas ruas, todo mundo acena e dá “tchauzinho”, especialmente por ele ser presidente do bairro há 15 anos e ter conquistado diversas transformações na região.

“Peguei a associação sem nenhuma cadeira, e hoje temos inúmeros serviços gratuitos para a população. Ainda necessitamos de muitas melhorias, mas eu não me canso de trabalhar pelo Maria Aparecida Pedrossian”, diz, orgulhoso do bairro.

Além de uma casa cheia de histórias e objetos que impressionam, Jânio também se declara “maluco pela natureza”. Por isso, plantou boa parte das árvores em uma praça perto de sua casa e, agora, tenta cultivar um bosque ao lado da associação. “Eu amo as árvores, e elas transformam qualquer bairro. Aqui, ao lado da associação, quero criar um bosque e tornar o bairro cada vez mais arborizado.”

Questionado sobre qual lugar do bairro ele acha que sua estátua deveria ficar, ele diz que não é necessário. Mas, segundos depois, os olhos se enchem de emoção. “Ao lado da associação. Aquele lugar é a minha segunda casa; tenho orgulho de cada família que entra ali dentro”, finaliza.

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