Com mais de mil objetos em casa, Jânio entregou a alma ao Pedrossian
Família até implora para Jânio voltar a cidade Natal, mas nada tira o professor do Maria Aparecida Pedrossian
História é o que não falta na casa laranja com pintura de arara na fachada, no Bairro Maria Aparecida Pedrossian. Ela é uma das 1035 casas que foram lançadas no residencial, ainda na década de 80 e virou morada do professor de Filosofia Jânio Batista de Macedo, de 62 anos.
Ao entrar na residência, a cena é bem estilo antiquário ou museu. Não fosse a organização de cada item e a limpeza aparente em todos os cantos, muitos diriam que o professor Jânio é um acumulador. Mas ele se justifica logo de cara. “Sou acumulador muito organizado”, brinca.
Cada cantinho da casa mostra ambientes que já se perderam na maioria dos lares, principalmente, com a onda “minimalista” tão em alta. Mas Jânio não se importa. “Eu gosto de tudo o que tenho aqui e sei de cada objeto. Tudo tem uma história”, garante.
A casa é uma viagem no tempo, assim como a memória intacta do professor, que sabe cada detalhe do bairro e da cidade, mesmo não sendo natural de Campo Grande, mas seu coração é como se fosse. “Eu amo Campo Grande, eu amo esse bairro”, diz. “Minha mãe vive pedindo para eu voltar para minha cidade, mas não volto e brinco que serei enterrado em Campo Grande”, diz.
Na casa, sem dúvidas, tem mais de 1 mil objetos entre obras de artes, bibelôs, lembranças de viagens, instrumentos musicais, livros, discos de vinil, artesanatos e muitos brinquedos dos netos.
“Em todo lugar que eu morei, sempre gostei de organizar a casa, nunca gostei de parede limpa, sempre gostei de ter muitas coisas, gosto de ver a casa recheada de lembranças e memórias”, diz.
Nem o banheiro escapa de uma porção de objetos. Para ver tudo o que Jânio tem pela casa, é preciso passar horas ou quem sabe dias por ali. No quarto, além da cama para descanso, ele fez questão de colocar uma rede para momentos de leitura. “Essa casa é meu refúgio, cada peça dessa tem um significado especial pra mim”.
Louco por música, o rádio toca 24 horas na residência. “Com o rádio, não há solidão. Ainda que haja uma pobreza nas programações em termos de música e conteúdos, tem umas duas rádios que são boas e dá para ouvir canções muito bacanas. Por isso, nunca desligo o rádio na minha casa”.
Os instrumentos também são para recepcionar os amigos, que adoram fazer uma cantoria por ali, embora a pandemia tenha reduzido as visitas, ele espera, em breve, retornar com os encontros, que são sempre especiais. “Tenho muitos amigos empresários, músicos, artistas, pessoas que gostam de estar aqui e aproveitar as minhas memórias”.
Colecionador assumido, ele tem uma série de discos e não abre mão das obras de arte, inclusive, com inúmeras obras de Ilton Silva pelas paredes. “Gosto muito de valorizar a arte e artistas do nosso estado”.
Quem vê Jânio falando, até pensa que ele é campo-grandense. Mas nasceu em Cáceres (MT) e chegou a Mato Grosso do Sul na década de 80 para lecionar. Foi Professor na Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado e no Colégio Dom Bosco. Concluiu o Curso de Pedagogia com especializações na área de Educação e Cultura Brasileira.
Enquanto procurávamos pelo bairro pessoas que mereciam uma estátua, o nome de Jânio foi o que mais se ouviu. Enquanto ele passa de carro pelas ruas, todo mundo acena e dá “tchauzinho”, especialmente, por ser o presidente de bairro há 15 anos e conquistado transformações na região.
“Peguei a associação sem nenhuma cadeira, hoje, temos inúmeros serviços gratuitos para a população. Ainda necessitamos de muitas melhorias, mas eu não me canso de trabalhar pelo Maria Aparecida Pedrossian”, diz orgulhoso do bairro.
Além de uma casa cheia de histórias e objetos que impressionam, Jânio também se diz “maluco pela natureza”, por isso, plantou boa parte das árvores em uma praça perto de sua casa e agora, tenta vingar um bosque ao lado da associação. “Eu amo as árvores e elas transformam qualquer bairro. Aqui do lado da associação, quero fazer um bosque e tornar o bairro cada vez mais arborizado”.
Questionado sobre qual lugar do bairro ele acha que sua estátua deveria ficar, ele diz que não é preciso, mas segundos depois, os olhos se enchem de emoção. “Ao lado da associação, aquele lugar é a minha segunda casa, tenho orgulho de cada família que entra ali dentro”, finaliza.
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