Contrato do primeiro hotel de luxo em Campo Grande completa 49 anos de história
O contrato do primeiro hotel de grande porte levantado em Campo Grande completou em junho 49 anos. No documento, as cláusulas marcam o início de um sonho do pecuarista Laucídio Martins Coelho, que à época foi o maior investidor no edifício "Hotel Campo Grande", com 13 andares de luxo e que se tornou hospedagem, inclusive, de grandes artistas, até fechar e se transformar em um símbolo de contreto de uma época que já se foi.
O documento foi redigido e assinado pelos sócios em 10 de março de 1969, mas registrado na Jucemat (Junta Comercial do Estado de Mato Grosso) em 20 de junho daquele ano. No total, 13 sócios entre pai, esposa, filhos e genros entraram com cotas para serem os donos do que se tornaria o maior estabelecimento do setor da cidade, durante décadas.
No papel, o prazo de duração da sociedade foi de 15 anos com investimento de NCR$ 400.000,00, ou seja, quatrocentos mil cruzeiros novos. Se contabilizado com base no salário mínimo atual, de acordo com o economista Norman Kallmus, esse valor corresponderia na época a R$ 2.958.138,96, quase R$ 3 milhões.
A maior cota para fechar o capital social foi de Laucídio, com 328 mil cruzeiros novos. Os demais entraram na sociedade com 6 mil. Fizeram parte do primeiro contrato além do pecuarista, Adelaide Martins Coelho, Eudeter Martins Coelho, Italívio Coelho, Wilson Coelho, Lúdio Martins Coelho, Rachid Saldanha Derzi, Magno Martins Coelho, Hélio Martins Coelho, Edmar Pinto Costa, José Cândido de Paula, Marcelo Renato Miranda e Antônio Barbosa de Souza. Todos já falecidos.
Hoje, metade do Hotel Campo Grande pertence a Leonor Maria Coelho de Paula, viúva de José Cândido que deixou outra parte para os quatro filhos, entre eles, a herdeira Maria Adelaide de Paula Noronha, empresária e administradora do Yotedy.
Depois do hotel fechar de vez em 2001, a família passou a reunir dinheiro para acabar com as dívidas da empresa. Com todas as pendências quitadas, Maria disse ao Lado B, em 2012, que a ideia era reativar o Hotel Campo Grande, mas cinco anos depois o prédio permanece fechado.
Sem contato com Maria que não retornou as ligações, conversamos com o advogado da família Gervásio de Oliveira Junior. Ele afirma que o hotel passou por dificuldades financeiras e agora a nova fase é de recuperação econômica para que volte a funcionar, aproximadamente, daqui dois anos. "Já foram solucionados assuntos pendentes (dívidas) e o Corpo de Bombeiros já fez diversas vistorias. Agora a família está passando por uma etapa para conseguir reformar o hotel. Em um segundo momento se não houver parcerias, vão tentar com recurso próprio", diz.
Gervásio diz que há muito tempo a família espera que o edifício volte a brilhar no Centro da cidade e garante que o prédio tem condições estruturais para voltar a funcionar. "De imediato é preciso mexer na instalação, reconstruir hidráulica e elétrica. Mas a estrutura é espetacular, basta olhar e ver que não tem um reboco caindo e nada fora do lugar".
O advogado também descarta a preocupação de quem faz um paralelo com o prédio de 20 andares que desabou após pegar fogo no centro de São Paulo, em maio deste ano, que estava abandonado pela União e foi ocupado por cerca de 150 famílias, de maneira irregular. "Os Bombeiros vão com frequência ao edifício. O prédio está fechado e não está abandonado. Não tem perigo de cair como o de São Paulo", garante.
História - Em 1969, antes da construção, uma consultoria foi contratada para avaliar o investimento. O conselho foi para abertura em São Paulo, mas isso não convenceu Laucídio, que fincou pé em Campo Grande.
O escritório Botti & Rubin, dos arquitetos Alberto Rubens Botti e Marc Bores Rubin, assinou o projeto arrojado, de 13 andares, e a cidade parou para acompanhar a abertura em 1971.
A área construída do hotel era de 8.156,10 m² com 82 apartamentos e quatro suítes. Um terreno quase quadrado, com subsolo para garage, andar térreo para a agência bancária da família e acesso do Hotel. O hall de entrada, em pé-direito alto, todo em concreto aparente, um belo jardim interno e uma cozinha internacional faziam parte do edifício luxuoso.
Além de receber muitos artistas, dentro do hotel havia o "American Bar" com o funcionário histórico Chiquinho no comando do balcão, Júlio Eduardo Cheda no piano e os sábados eram de feijoada com uma atendente vestida de baiana servindo caipirinha e caldo de feijão.
Segundo o arquiteto e urbanista Angelo Arruda, de acordo com engenheiro Valmor Rocha Soares o que se gastou, na época, dava para comprar 50 mil garrotes. Ou seja, algo em torno de R$ 60 milhões comparado aos preços de 2016, para um prédio feito ainda naquele tempo com carrinho de mão.
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