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Arquitetura

Depredada e esquecida, Rotunda é tema de pesquisa que busca a restauração

Naiane Mesquita | 04/09/2016 07:15
Rotunda vista do alto em Campo Grande (Foto: Marcos Ermínio)
Rotunda vista do alto em Campo Grande (Foto: Marcos Ermínio)

Cenário queridinho de fotógrafos que buscam um visual trash, abrigo para moradores em situação de rua e patrimônio jogado as traças há muito tempo. A Rotunda de Campo Grande é tombada em três esferas públicas, municipal, estadual e federal, este último em 2009, assim como todo o Complexo Ferroviário da cidade, mas isso não fez diferença na sua história. Continua enfrentando as dificuldades do tempo e, principalmente, da falta de uso.

Foi pensando na importância do prédio, que é uma das três únicas construções tombadas do gênero no País, que o historiador e arquiteto, João Santos, 29 anos, está desenvolvendo um projeto de restauração completo da Rotunda, levando em consideração seus reais problemas e como solucioná-los. “O que falta atualmente é uma iniciativa privada, pública ou público-privada, que restaure e coloque em uso a Rotunda”, afirma João.

Local perdeu as telhas, o que causa umidade (Foto: Marcos Ermínio)
Local perdeu as telhas, o que causa umidade (Foto: Marcos Ermínio)
Pichações, sujeira, umidade e cupim estão entre os problemas principais (Foto: Marcos Ermínio)
Pichações, sujeira, umidade e cupim estão entre os problemas principais (Foto: Marcos Ermínio)

O projeto faz parte dos estudos de João para o Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumentos e Núcleos Históricos, da Universidade Federal da Bahia. Segundo ele, por mais que a Rotunda esteja tombada, não existia um levantamento detalhado como este.

“Como sou de Mato Grosso do Sul precisei delimitar um tema sobre o Estado, então escolhi a Rotunda. Eu sou historiador, já trabalhei no Iphan, então era algo que estava envolvido. Muitos dos projetos de restauros desenvolvidos no mestrado, que existe desde a década 70, são utilizados posteriormente pelas prefeituras e outros órgãos como ponto de partida”, explica João.

Situação é considerada grave pelos especialistas, mas recuperável (Foto: Marcos Ermínio)
Situação é considerada grave pelos especialistas, mas recuperável (Foto: Marcos Ermínio)
Local está completamente abandonado apesar de ser tombado nas três esferas públicas (Foto: Marcos Ermínio)
Local está completamente abandonado apesar de ser tombado nas três esferas públicas (Foto: Marcos Ermínio)

No caso da construção em Campo Grande, o pesquisador aponta como principal problema a falta de uso do espaço, seguida de umidade em todo o prédio, manchas, sujeiras, fechamento de vãos, rachaduras e fissuras, vegetação espontânea, perda da camada de revestimento, elementos que foram retirados, lixos, pichações, cupim, vigas, alvenarias e esquadrias danificadas. “A construção precisa de um uso para manter uma vitalidade. Temos um ditado que diz “casa vazia ruína anuncia”. Um local que não é utilizado está fadado a ruína”, acredita.

Localizada na continuação da rua 14 de Julho, no bairro São Francisco, a Rotunda conta com uma dinâmica cultural interessante no entorno. Feiras, apresentações culturais e até o uso para ensaios fotográficos indicam que talvez o espaço combine perfeitamente com uma programação voltada para o entretenimento. No entanto, João ainda não tem um parecer. “É preciso entender a dinâmica cultural da região, para saber o que seria mais adequado”, frisa.

Construção foi erguida em 1943 (Foto: Marcos Ermínio)
Construção foi erguida em 1943 (Foto: Marcos Ermínio)

Ao todo o processo para a criação de um projeto de restauração tem três etapas. “A fase de cadastro e levantamento físico do imóvel além de toda a análise histórica e urbanística e de materiais. A segunda é a fase de diagnóstico, que é a análise e mapeamentos de danos que estão afetando o imóvel e as soluções para esses problemas, baseando-se em análises laboratoriais. E a terceira é a elaboração do projeto arquitetônico de restauro em nível executivo com uma proposta de um novo uso que seja compatível com as legislações”, aponta.

João diz que o mais impressiona os pesquisadores do mestrado baiano é a relevância da Rotunda. “As rotundas do Brasil desapareceram. Quando desativaram a ferrovia no Brasil diversos imóveis foram deixados ao desaparecimento. Ao todo só existem três rotundas tombadas em todo o País, a de São João Del Rei, em Minas Gerais, que é completa, ou seja, faz o giro em 360 graus, em Porto Velho, Rondônia da ferrovia Madeira-Mamoré e a de Campo Grande, da Noroeste do Brasil”, indica.

Pichações danificam o os tijolos originais (Foto: Marcos Ermínio)
Pichações danificam o os tijolos originais (Foto: Marcos Ermínio)
Por dentro, muita coisa se perdeu no tempo (Foto: Marcos Ermínio)
Por dentro, muita coisa se perdeu no tempo (Foto: Marcos Ermínio)

A de Campo Grande não faz o giro completo. A construção foi financiada na época pelo Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional, programa criado por Getúlio Vargas no regime do Estado Novo em 1939. A obra foi iniciada em 1941 e finalizada em 1943. “Todas essas rotundas são diferentes entre si, no estilo arquitetônico, o que as tornam únicas. Como é um projeto de mestrado, a finalização do trabalho está prevista para 2018. Por enquanto, estou coletando dados que darão subsídio a etapa 2”, acredita.

Além de João, outro arquiteto sul-mato-grossense, Eduardo Melo, faz mestrado na Bahia com um projeto de restauração para o Castelinho de Ponta Porã. A obra no local, no entanto, já está prevista por meio de medida judicial.

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