Em casinha da Afonso Pena, professora completa Bodas de Diamante com avenida
Escondida, entre árvores e o trânsito agitado da Afonso Pena, a casinha verde com um Fusca na garagem é o que restou da década de 60 na principal avenida da cidade. Nada se transformou naquele cenário, apesar de toda a mudança em volta.
Ali, na região da antiga rodoviária, mora Lenis Lemes, de 73 anos, uma professora aposentada que parece ser de pouca conversa, até ser convidada a falar da sua história. Sentada na varanda, ela observa toda a movimentação junto da vira-latas Bel e, como nunca teve marido, diz que se “casou” com a avenida. A relação já dura 62 anos, tempo suficiente para bodas de diamante.
Sem saber a idade da casa, ela conta que chegou ao local em 1954. Os pais vieram de Coxim e compraram o imóvel com o desejo de morar em Campo Grande e as filhas estudarem em colégio interno.
Dos sete irmãos que a vida deu, todos já faleceram. Por isso, atualmente, a história da família vai seguindo ao lado de um primo e do filho dele, que moram no mesmo endereço.
Do lado de fora, o verde é o que mais chama atenção. Os traços antigos estão na arquitetura por toda parte, em cada móvel de madeira há uma história e uma lembrança.
Mesmo que muita coisa já tenha mudado, o formato das portas, janelas e o piso são os mesmos desde que Lenis entrou na casa pela primeira vez. O que não volta mais são os amigos que fez por ali. Ela se lembra de quando havia outras casas por perto e a vizinhança se conhecia. “Essa foi minha única casa, presenciei as mudanças e as melhorias. Mas sinto falta mesmo é dos vizinhos” diz.
Hoje, a realidade é bem diferente. A casa de dona Lenis fica entre um posto de combustíveis e um hotel. Ela precisa lidar com a correria e a paisagem totalmente transformada, onde a maioria das casas deu lugar aos comércios.
Para a professora, morar na mesma casa é ver o tempo passar e as pessoas partirem. “Todos os meus irmãos já se foram e continuo aqui. Por isso não saio dessa casa, aqui carrego minha história e sempre fui feliz aqui”, garante a aposentada que preservou, pelo menos, a sensação de segurança. “Aqui eu não sou incomodada, quando vou dormir só fecho as portas e fico em paz, na companhia de quem ainda mora comigo".
Nada tira da cabeça dela o desejo de continuar vivendo no mesmo endereço das últimas 6 décadas. “Aqui é a minha vida e a minha história. E só saio daqui quando eu morrer”.