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Arquitetura

Galpão do "tempo do epa" guarda histórias de gerações de marceneiros

Até maquinário construído no local é conservado até hoje para manter as memórias

Aletheya Alves | 03/12/2022 07:25
Máquina antiga para corte foi fabricada na própria marcenaria. (Foto: Kísie Ainoã)
Máquina antiga para corte foi fabricada na própria marcenaria. (Foto: Kísie Ainoã)

Mantendo as mesmas madeiras alocadas há mais de 40 anos, não há quem desconheça o galpão da Rua Ouro Negro na Vila Marcos Roberto. Construído para abrigar marceneiros, o local até mudou de dono, mas continuou guardando histórias de gerações do ofício.

Desde as pequenas janelas espalhadas pelas paredes laterais até o formato da construção, cada detalhe deixa nítido que o espaço é do “tempo do epa”. E, em seu interior, máquinas construídas ali se mesclam com a renovação da profissão.

Hoje, o proprietário é Evaldo Modes Fernandes, que cresceu aprendendo sobre marcenaria com o pai e continua fazendo com que o galpão mantenha a tradição com a madeira. “Nós até pensamos em fazer uma reforma, pensamos em vender, nos desfazermos, mas acabamos continuando aqui. Às vezes até perguntam sobre desmanchar tudo, mas eu tenho dó porque gosto daqui. Tem muita história”, diz.

Barracão guarda histórias de gerações de marceneiros no bairro. (Foto: Kísie Ainoã)
Barracão guarda histórias de gerações de marceneiros no bairro. (Foto: Kísie Ainoã)
Maior parte da estrutura segue sendo a mesma de quando construção foi levantada. (Foto: Kísie Ainoã)
Maior parte da estrutura segue sendo a mesma de quando construção foi levantada. (Foto: Kísie Ainoã)

Puxando para si a responsabilidade de executar uma marcenaria que consiga unir o passado e o presente, Evaldo conta que o galpão reúne exatamente isso. Enquanto no início ele foi equipado com máquinas de corte feitas ali dentro, as novas tecnologias chegaram e nada foi deixado para trás.

“Aprendi desde cedo com meu pai que não podemos perder serviço, precisamos atender o cliente da forma que ele precisar. Então costumo dizer que aqui a gente faz de tudo, desde os móveis até portas”, narra sobre como o tempo fez com que várias fases da marcenaria resultassem no cenário atual.

Sobre a história do galpão, Evaldo conhece os detalhes a partir de meados de 1980, quando a construção passou a ser de sua família. “Quando meu pai comprou aqui já era uma marcenaria, mas voltada para construir carrocerias de caminhões. Era um modelo bem mais antigo e nós até seguimos nele por um tempo”.

Na época da construção, o asfalto ainda não havia chegado à rua do barracão e o proprietário explica que o antigo dono costumava contar que até o loteamento estava em curso. “Ele falava que tinham poucas casas em volta e as ruas ainda estavam sendo feitas, então é muito antigo mesmo”, explica.

Inicialmente, espaço era usado para construir carrocerias. (Foto: Kísie Ainoã)
Inicialmente, espaço era usado para construir carrocerias. (Foto: Kísie Ainoã)
Evaldo conta que cresceu aprendendo sobre a profissão. (Foto: Kísie Ainoã)
Evaldo conta que cresceu aprendendo sobre a profissão. (Foto: Kísie Ainoã)

Com execuções dos serviços de forma manual e usando de equipamentos que nem se aproximam dos atuais, Evaldo narra que sua família continuou produzindo as carrocerias, mas que a especialidade era trabalhar com móveis.

Após alguns anos, as carrocerias foram deixadas de lado e muitas transformações se passaram dentro do galpão. “Minha família é toda de São Paulo, então sempre estivemos acostumados com a cidade grande. Na época, aqui ainda estava começando a se desenvolver e meu pai resolveu voltar para São Paulo. Eu acabei ficando aqui e mudamos várias vezes o modo de produção”.

Devido à época, ele detalha que Campo Grande não suportava os serviços oferecidos em São Paulo. Por isso, a produção de móveis e outras peças foi reduzindo até que o galpão se tornou uma espécie de escritório para outros marceneiros.

“Como a gente não estava conseguindo manter a produção, decidimos deixar o espaço para que outros marceneiros usassem. Desse jeito eles não precisavam ter os equipamentos, podiam alugar aqui e usar”, conta sobre o período de aluguel.

Produções continuam mantendo itens mais tradicionais. (Foto: Divulgação)
Produções continuam mantendo itens mais tradicionais. (Foto: Divulgação)
E também contemplam peças modernas. (Foto: Divulgação)
E também contemplam peças modernas. (Foto: Divulgação)

Durante esse período, o galpão abrigou vários marceneiros, mas acabou retornando para Evaldo. “Nós retornamos para Campo Grande e começamos mais uma vez a produzir. Reuni uma equipe e precisamos conquistar de novo os clientes porque a pessoa que havia locado acabou queimando o ponto”.

Depois de cerca de quatro anos insistindo, ele narra que os clientes passaram a voltar e mais uma vez o modo de fazer marcenaria foi modificado. “Outras máquinas começaram a ser usadas, técnicas diferentes também e aquela estrutura inicial foi ficando para trás”.

Mesmo com a evolução da marcenaria, que hoje é muito computadorizada, as antigas máquinas e a estrutura do galpão continuam lá. “Me perguntam o motivo de eu guardar essas máquinas velhas, mas eu costumo dizer que elas fazem parte e ainda funcionam. Se um dia eu precisar, elas estão aí”.

Apesar de ser um local de memórias, a estrutura antiga também gera preocupações, mas enquanto pode, o dono completa que o galpão vai continuar sendo a referência histórica do bairro.

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