Inspirada em templo, casa entre ciprestes é relíquia no Taquarussu
Casa guarda história de casal que construiu igrejas no interior de Mato Grosso do Sul
Olga Aigner de Souza, de 81 anos, é uma mulher de estatura baixa, mas gigante na simpatia. Por volta das 14h, ela desce dois lances de escada e abre o grandioso portão de ferro que dá acesso à casa onde vive com o marido há 53 anos.
No Bairro Taquarussu, a residência da professora aposentada é uma beleza escondida entre ciprestes italianos e icsórias numa rua sem saída. A casa desperta curiosidade, admiração e dúvida se ali é templo religioso ou lar de família.
A impressão é causada graças ao arco pleno e a parede de pedras monocromáticas que compõem a fachada do imóvel. Assim como fizeram as igrejas do século XIX, Olga adotou a arquitetura neorromântica para construir a casa que é uma das primeiras do bairro.
“A história é longa”, declara Olga após subir novamente as escadas e sentar no sofá da sala. A professora volta à década de 1960 e é a partir do passado que ela inicia a narrativa.
“Esse terreno aqui foi comprado quando meu esposo estava com 20 anos. Ele adquiriu esse terreno e aqui tudo era mato, era loteamento. A Avenida Bandeirantes era estrada de chão, o pessoal falava que era estrada boiadeira. Ali na entrada pra 26 (de Agosto), tinha um portão de ferro”, diz.
Nessa época, Olga sequer sonhava em conhecer o marido Imer Pires de Souza, de 83 anos. No auge dos 20 anos, ele servia ao Exército e construiu a casa de madeira onde morava com os pais. “Os primeiros compradores da região foram nosso vizinho japonês, o França, seu Primitivo e a gente”, afirma Olga.
Em Amambai, a 351 km de Campo Grande, ela conheceu o homem que recém tinha ingressado no curso de teologia. “Ele foi num trabalho evangelístico e a gente se conheceu lá. Casamos há 53 anos, fomos embora pro Rio e ele deixou a família morando aqui”, recorda.
É com a voz serena, calma e esmiuçando cada detalhe das últimas décadas que Olga revela que construiu templos batistas com o marido. “Na área da teologia, ele se dedicou à construção de templos e fomos construir vários em Paranaíba, Sidrolândia e por último em Bonito.
Após falar sobre o último templo, erguido em 2005, a professora regressa à década de 1980. De volta a Campo Grande, o casal passou no concurso público da prefeitura e começou a lecionar em escolas. Os dois professores juntaram as economias e materiais para construir a casa que deixou de ser madeira para se tornar alvenaria.
Olga aos poucos inseriu na obra os próprios gostos, como o estilo do portão, o arco e as plantas que predominam a sacada da casa. “Eu gostava dessa fachada assim e na época a gente tinha um amigo português construtor que estava trabalhando com a gente. Ele falou que tinha feito muito disso em Portugal”, explica.
Em seguida, ela revela a última e mais moderna novidade do lar: o elevador. “Agora que estamos com 80 anos temos dificuldades nas escadas. Nossos filhos se juntaram, fizeram uma reunião e falaram que iriam colocar o elevador. Aqui você pode ver que está na fase de acabamento”, diz ela apontando para a estrutura.
O elevador foi a solução para o casal que não se vê saindo da casa onde passaram as últimas cinco décadas e criaram os filhos Jader, Alex e Aguilá. “Meu marido falou: ‘Mudar daqui, acho que não dá’. Ele ama muito esse pedaço”, destaca Olga.
Da sacada, a professora mostra a casa dos vizinhos que mencionou anteriormente. A mesma sacada é repleta de flores, como a primavera branca, rosa do deserto e o pé de laranja plantado no vaso. “Eu fico muito aqui”, afirma.
De volta a área interna, ela mostra outro cantinho onde gosta de passar o tempo. Próximo à cozinha, Olga tem um cômodo reservado para a leitura da bíblia. “Eu gosto de ficar aqui lendo e refletindo”, resume. O ambiente é composto por um jogo de mesa e cadeiras de madeira que tem noventa anos. “São os móveis que tenho da minha mãe”, diz sorrindo.
Três quartos, banheiro, lavanderia, escritório e sala completam a casa que teve parte da área dividida para ser alugada. “Os filhos foram casando e foi ficando muito grande”, justifica.
Estamos na sala quando Olga fala sobre essa divisão. O ambiente é repleto de fotografias da família, dos filhos, irmãos, mãe e dos templos construídos no interior do Estado. Quadros coloridos decoram as paredes e ao olhar a assinatura deles descubro o lado artístico da mulher que também sabe tocar piano é proprietária do instrumento que ocupa o canto da sala.
No final da entrevista, Olga mostra no celular mais fotos das construções feitas com o marido. Posteriormente, fazemos o caminho de volta ao térreo. Descemos as escadas e Olga me leva até o portão onde ajeita o cabelo segundos antes de sorrir, ser fotografada e se despedir.
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