Sair da favela é sonho que merece belo desenho de praia na fachada da casa nova
"Todo mundo tem um sonho diferente, né? Eu queria o sol todo na minha casa", explica Jeter dos Santos Ferreira, de 26 anos. Depois de sair da favela Cidade de Deus, há 5 meses, até em dias de chuva forte o sol aparece na fachada da casa nova.
Quem passa por ali conhece Jeter e já o admira como artista. "Não sou nenhum artista, mas comecei a pintar desde pequeno. Fazia desenhos e vi que eu tinha jeito. Quando morava na favela, meu maior sonho era fazer um desenho na minha casa, não queria uma cor só na parede, acho que as paisagens trazem vida", explica.
Ele viveu debaixo de um barraco durante 4 anos, quando decidiu sair da casa dos pais, mesmo sem ter onde morar. "Ganhei um espaço lá e acabei ficando. Eu pintava algumas coisas para as pessoas, nas paredes e nas madeiras", conta.
Quando foi tranferido da Cidade de Deus para uma área no Vespasiano Martins, em fevereiro deste ano, ao lado da esposa e das filhas, a família não imagina que o destino seria uma casa de verdade.
"A gente, em condições tão difíceis, sai de um barraco para entrar em outro. Erguemos um de apenas uma peça, com o que a gente tinha, porque durante a mudança perdemos muita coisa por conta da chuva", lamenta a mulher Stefany Nascimento Cardoso, de 24 anos.
Depois, a prefeitura providenciou a construção das casas. Com uma residência mesmo, foi hora de colocar em prática o sonho de fazer arte na fachada. "Quando eu vi as paredes sendo erguidas, eu disse que ia esperar ter todos os móveis para entrar na casa. Mas quando ele foi pintando, eu não aguentei, tive que mudar logo", conta.
Juntos há 3 anos, os dois começaram a idealizar a casinha que aos poucos foi ficando a cara deles. "Eu queria cor e ele as paisagens. No quarto das crianças, ele tinha o sonho de fazer algo mais alegre e escolhemos o Smilingüido, porque somos evangélicos, tem sempre uma mensagem de Deus e amor para as crianças", justifica.
Foram 5 meses até a casa ficar pronta e, apesar de alguns detalhes que ainda faltam, a família só tem motivos para comemorar. "As vezes fico até emocionada porque quando a gente morava no barraco eu tinha que colocar panos na madeira para as crianças não sentirem frio. Hoje, apesar de simples, ela é muito mais confortável. Faltam algumas coisas, mas tudo depende do dinheiro, então a gente vai improvisando", comenta.
Todo o trabalho foi feito pelo casal. A mulher ajudou na base e, depois, sozinho, o marido fez os desenhos. "Uso pincel, bucha ou compressor que é o meu preferido, porque dá um ar natural à paisagem. De longe, até parece de verdade. Mas se for um desenho pequeno, eu faço só com o pincel mesmo", explica Jeter.
Em busca da perfeição, ele vai visualizando as imagens no celular. "Eu consigo ampliar o desenho só de olhar. Pode ser uma foto no telefone ou em uma figurinha. Na fachada de casa, era um foto que eu tinha no celular, mas mudei algumas coisas, deixei o sol mais forte e coloquei mais coqueiros", diz.
Para que o lar ficasse completo, ele construiu nos fundos uma casinha de boneca para as filhas, utilizando madeira reaproveitada. "Como minha mulher fica em casa, enquanto eu trabalho, fiz a casinha para as meninas brincarem e darem um tempo para a mãe trabalhar também. É o jeito", ri.
Sem emprego fixo, ele ganha dinheiro com trabalhos como pedreiro e em serviços de jardinagem, enquanto a esposa faz crochê para ajudar na renda da família. Mas ele admite que gostaria de trabalhar com o talento que tem para a pintura. "Sempre que surge um trabalho eu vou e faço. Tem gente que acha exagerado, mas tem quem gosta também", comenta.
Quem quiser conhecer o trabalho de Jeter, o telefone para contato é: (67) 99216-0508.