Alma de travesti assassinada tenta superar o medo e transformá-lo em afeto
“Madalena” é um longa-metragem gravado em Dourados e que acaba de ser selecionado em um festival de cinema da Espanha
Em tempos de guerra entre ideologias e uma forte onda conservadora que atinge o Brasil, “Madalena” é um filme sul-mato-grossense que põe a diversidade como resistência, que tenta superar o medo e transformá-lo em afeto que o mundo necessita. Um longa-metragem de suspense, com atores sul-mato-grossenses e que acaba ser selecionado Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, um dos mais prestigiados e famosos festivais de cinema do mundo.
Madalena é o longa-metragem de estreia do diretor mato-grossense Madiano Marcheti e foi Produzido por Clélia Bessa, Joel Pizzini e Sérgio Pedrosa, das empresas Raccord Produções, Pólo Filmes e Viralata, respectivamente. E contou com o investimento do Fundo Setorial do Audiovisual, que garantiu sua produção, em novembro de 2018, em Dourados. Dos 30 atores e atrizes, 26 sul-mato-grossenses fazem parte do elenco.
Na sinopse, o corpo da travesti Madalena está deitado em uma plantação de soja que circunda a pequena cidade do Centro-Oeste brasileiro. Em um bairro periférico situado às margens de um campo de soja, vive Luziane que se divide entre ajudar sua mãe costureira e fazer bicos em festas sertanejas. Sem grandes expectativas de futuro, ela vive a cidade com desencanto. Em um condomínio de luxo do outro lado da cidade, Cristiano sente a pressão da família e tenta provar ser capaz de cuidar da fazenda de soja dos pais, que se encontra na iminência de ser contaminada por uma praga.
Em um riacho afastado da cidade, Bianca e outras amigas trans fazem um piquenique. Elas lidam com o luto da morte da amiga Madalena de uma forma especial. À primeira vista, a cidade é o único elemento que une Luziane, Cristiano e Bianca. Embora não se conheçam, o espírito de Madalena que paira sobre a cidade se torna um elo entre os três.
Madalena, a personagem ausente que guia o filme, é uma travesti que foi assassinada em uma plantação de soja de uma cidade, inspirada no lugar onde cresceu o diretor. “Os personagens se mostram incapazes de agir diante de sua morte, com a exceção de Bianca, também ela, uma pessoa trans. O luto de Bianca se manifesta como resistência, se afirmando pela alegria como potência de vida. O filme tenta entender e superar o medo e transformá-lo em afeto. A afirmação da vida diante da tragédia é o meu testemunho empático sobre vidas e corpos que merecem existir. O poder opressor requer corpos tristes. A alegria é a maior resistência possível”, explica Madiano.
Na visão do diretor, o filme vem para tentar compreender uma crise afetiva, de política guiada pelo medo, onde a violência contra as minorias é cada vez mais gritante. “Seguimos sendo o país que mais mata transexuais. Para além da crise político-econômica, há uma crise afetiva. Superá-la requer um restabelecimento dos tecidos socio-afetivos; corpos considerados inimigos precisam ser humanizados”, ressalta.
Os protagonistas são Natália Mazarim, de Dourados, que interpreta a personagem Luziane; Rafael de Bona, de São Paulo (SP), que interpreta Cristiano e Pamella Yule, de Campo Grande, que é transexual e interpreta Bianca, uma mulher trans.
Madalena também foi selecionado para a 36ª edição da mostra Film In Progress, do San Sebastian Internacional Film Festival, na Espanha. A mostra selecionou 6 filmes, dentre 185 longas, ainda em pós-produção para serem exibidos em competição para finalização no país.