Após 28 anos, Iara Jamra ainda é lembrada como fofoqueira de novela
Atriz está em Campo Grande para interpretar novamente uma funcionária do lar, dessa vez em curta nacional
Pela primeira vez em Campo Grande, a atriz Iara Jamra, que deu vida à Lurdinha, um dos personagens mais fofoqueiros da teledramaturgia brasileira na novela Rei do Gado, em 1996, e se espantou por ter sido reconhecida pelo papel na Feira Central depois de 28 anos. Hoje, com 68 anos, ela interpretará uma nova empregada doméstica, dessa vez no curta-metragem nacional “Nunca Te Prometi Um Mar de Rosas”, dirigido pelo sul-mato-grossense Aaron Salles.
O Lado B acompanhou a gravação de uma das cenas do curta-metragem, que conta com a participação das atrizes Leona Cavalli, Gleycielli Nonato Guató, Cat Dantas, Dandara Queiroz e Catarina Dantas. Leia uma delas clicando aqui.
Simpática e sem rodeios, Iara conta que o personagem atual é diferente do vivido nos anos 90 por ser mais próxima da família e um braço direito na rotina de Catarina, adolescente atípica, que tem TEA (Transtorno do Espectro Autista).
“Eu faço uma funcionária da casa que é arrumadeira, cozinheira, faz tudo. Como ela já está há um tempo na casa, eu tenho uma certa intimidade e ajudo a cuidar da Catarina. A esposa da casa tem uns picos de depressão, então tem uma coisa de intimidade um pouco a mais que uma simples funcionária. É bem legal. É um prazer estar aqui em Mato Grosso do Sul”.
Sobre ser reconhecida como Lurdinha, ela comenta que apesar da surpresa boa, costuma ser mais reconhecida nas ruas como Nina, a menina que brincava com uma boneca careca no programa infantil da TV Cultura, Castelo Rá-Tim-Bum.
“Quem tem mais de 30 anos lembra da Nina. Eu adoro Rei do Gado, acho que é um super trabalho que eu fiz. Foi muito legal, fui chamada pelo Luiz Fernando Carvalho e estava no núcleo central, trabalhei com Antônio Fagundes e Sérgio Reis. Adorava aquele personagem, que era da empregada fofoqueira e acho que tive reação super amistosa, gosto dela”.
De Rei do Gado a “Nunca Te Prometi Um Mar de Rosas”, muita coisa mudou e outros debates sociais foram colocados em pauta, como as doenças mentais, transtornos e síndromes. Iara vê como necessidade os debates que envolvem a vida e rotina das pessoas.
“Eu vim de uma geração que as coisas não eram diagnosticadas, intituladas. A gente percebia que a criança crescia com alguma coisa. Hoje temos uma medicina super avançada e sendo mais diagnosticado, tratamentos, as famílias podem conviver bem melhor com isso, podem incluir essa criança. Isso pra mim é muito legal e muito bom estar falando disso, porque temos que falar. As pessoas têm que assistir, ver, se identificar para poder lidar com isso dentro de casa”.
Para viver os personagem do curta, além dos estudos sobre o o autismo, Iara aposta em coisas que a completam enquanto indivíduo singular. Pintura, cerâmica e até a palhaçaria. A atriz conta sobre os desafios da profissão e como o audiovisual é seletivo.
Embora atue desde os 27 anos, ela ainda é negada em castings (testes). Para ela, tem a ver com o perfil oferecido e questões como idade e beleza. Apesar do cenário, ela acredita que tenha espaço para todos.
“Eu acho que tem personagem pra todo mundo, deveria ter. Porque a gente tem a avó, o irmão mais velho, tio e até bisavó, mas claro que o jovem, para linguagem audiovisual é muito mais bonito, legal. Eu acho que o mercado é menor pra gente, mas sempre tem e vai ter. E como é menor depende do perfil da atriz. Eu faço mais comédia, então fica ainda mais restrito. A gente tem um mercado que você vai fazer teste, faz 1,2,3 e não passa. Mas todos tem espaço”.
Para sobreviver à vida instável de uma atriz, ela conta que é preciso preparo psicológico e que coisas além do trabalho contribuem para o engrandecimento e melhora na própria profissão.
“Eu faço outras coisas, também sou arte educadora. Faço uns eventos para criança e isso me enriquece. Participo de outras coisas, isso me abre, me completa. Eu tenho esse pé nas artes plásticas, faço ilustração, cerâmica, eu invento. É uma profissão difícil mesmo, porque você fica exposta".
O tempo passa para todos e para Iara ele não pode paralisá-la diante das mudanças na profissão. Para ela, a questão mais complexa é ter que lidar com a internet, com uso da tecnologia em si.
"O movimento que é legal, não podemos ficar parados, temos que nos movimentar. Eu mesmo com 68 anos tenho que fazer acontecer”.
Este ano Iara estará na nova novela das 19h da rede Globo, ‘Volta por cima’. Na trama, ela também vai interpretar uma fofoqueira, funcionária de uma companhia de transporte urbano rodoviário. Sem ser questionada mas já justificando, ela afirma que embora parecidos, os papéis não são iguais.
“É engraçado porque são papéis parecidos mas não são, porque aqui [no curta] tenho uma intimidade muito familiar com o casal, a família e a garota, então sou quase da família. Lá a gente faz uma família de funcionário, então faço uma fofoqueira. É bem divertido. Estreia dia 30 agora”.
O calor de Campo Grande não espantou a atriz, que diz ter se encantado com a Capital e que deseja morar aqui um dia.
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