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Artes

Beterraba e até cinzas de incêndio viram tintas para a arte pelas ruas

Thailla Torres | 20/11/2021 07:14
Uma das artes pelos muros da cidade foi feita com terra e carvão.
Uma das artes pelos muros da cidade foi feita com terra e carvão.

O talento de Victor Macauli já era conhecido no grafite, mas agora, ele é reforçado em um novo projeto que colore muros e papelões com tintas que levam terra e carvão em sua composição.

A ideia, segundo o artista, é fazer uma analogia à ação do homem sobre a natureza. “Pois a relação é de descarte com todo o nosso meio ambiente”.

Em suas primeiras séries, Victor utilizou pigmentos vegetais como beterraba, açafrão, repolho roxo, casca de ovo e o tempero conhecido como colorau, além de minerais,  como a terra, buscando representar e homenagear os trabalhadores da coleta seletiva que trabalham em Campo Grande.

Outro ponto forte do trabalho de Victor é usar a arte e suas cores para exaltar a beleza e a valorização da mulher e homem negros.

Proposta é fazer arte com menos poluentes e mais identidade.
Proposta é fazer arte com menos poluentes e mais identidade.

Um dos primeiros trabalhos utilizando tintas feitas com terra foi em uma rua da cidade. A imagem acima mostra terra no rosto e carvão nos cabelos. O spray foi utilizado nos detalhes e contorno.

Em 2020, Victor foi introduzindo as cinzas e carvão das queimadas de terrenos de Campo Grande nas tintas.

“Todos estes trabalhos surgem no intuito de representar a população negra de Campo Grande, buscando valorizar e homenagear as pessoas negras”.

Outra pintura que também chama a atenção foi representando a região do Ceuzinho, onde há cachoeiras. E a arte foi feita com cinzas e terra coletados na própria região. “É um lugar onde há muito descaso com o meio ambiente, lixo descartado a céu aberto e rio, além de queimadas na mata ciliar”, diz. “Então, busquei representar e questionar a ação dos cidadãos que frequentam as cachoeiras, o papelão como suporte serve como analogia de como o ser humano vê a natureza”, acrescenta.

Papelão também ressignifica o uso de telas.
Papelão também ressignifica o uso de telas.


Cinzas da região do Ceuzinho também viraram arte.
Cinzas da região do Ceuzinho também viraram arte.
Cinza também virou pigmento para tela sobre crítica à devastação no Pantanal.
Cinza também virou pigmento para tela sobre crítica à devastação no Pantanal.

Recentemente, sua crítica foi a quem ameaça o Pantanal, com descaso à fauna e flora. No papelão, Victor colocou cinzas, carvão, terra e argila. “Neste trabalho, represento a onça-pintada, um dos símbolos do nosso Estado, que parece negar a destruição e acaba sendo cúmplice do desmatamento, representando todos os animais mortos e feridos pelas queimadas, abordando o atual descaso com o nosso meio ambiente”, finaliza.

A proposta do trabalho de Victor é também produzir arte urbana sem a necessidade de comprar tintas, que acabam sendo poluentes, diz ele. “Como a tinta óleo, esmalte sintético e acrílico. E assim também questionar a nossa ação sobre o meio ambiente, buscando evitar o máximo de materiais poluentes e tendo o mínimo de gasto, mostrando que a arte não precisa ser elitista”.

Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho de Victor, ele estará expondo no Sarau do Remi, que será realizado pelo Dia da Consciência Negra, neste sábado (20), a partir das 18h, nas Moreninhas.

O Sarau inclui apresentação musical, capoeira, exposição de arte terena, arte urbana e gastronomia. A entrada é gratuita.

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